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sábado, 19 de setembro de 2009

LÁ...LÁ NAQUELE LUGAR...TÁ VENDO???

LÁ...LÁ NAQUELE LUGAR...TÁ VENDO???


Às vezes parece que as minhas raízes que ficam nos meus dedos, têm pessoas ou que as nuvens que habitam minha pálpebra, têm gente... Não têm; nós é que sonhamos com tudo e com nada , até mesmo com o que somos e não somos.

Se ouvirmos,nossos corações cantando as coisas que querem cantar e não podem , ouviríamos mais coisas que julgamos poder ouvir...

Lá , onde não vamos todo dia , mesmo que tenhamos um texto novo todo dia,existem, neste e em todos os momentos desde que existem, os anéis de noivado de Saturno, a magnetosfera de Júpiter, a da Ganymede de Galileo antes de qualquer um de nós; existe o Sol e buracos negros uns brilham e outros sugam nossa fluidez , porque as coisas não começam nem acabam; pulsares de gestos contidos, restos cósmicos de falas ditas e um infinito de letras e cores - não interessam as teorias - Big Bang.



GALILEO...

Aqui , nos meus olhos castanhos , sobrevivem florestas tropicais. Formam-se tempestades com que não sonhamos e as águas caem em silêncio barulhento. De vez em quando lembramo-nos do vento e do granizo que existem em cada olhar. Não nos lembramos das monções das palavras carinhosas, de tornados das palavras rudes e nem dos furacões das briguinhas tolas e infantis , nem da areia que entra na retina ou da neve que congela nossa língua.

De lá , onde nosso coração quer se alegrar a todo custo, ouve-se tudo - como sabemos desde que descobrimos a palavra não mais ficamos com a cabeça mergulhada na banheira: terremotos de desejos, vulcões de cansaços, bolhas de ar de sentimentos oportunos, barcos que nos levam pelo oceano virtual e coisas sem nome.

Mas, lá onde nos escondems e nos mostramos , como aqui em cima e muito longe, nunca compreenderemos nada. Nunca nos chamaremos como as baleias se chamam, e elas nem sequer se chamam baleias...


Slow da BF

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

17 minutos

Assim que Carlos acabou de gozar, bateram na porta. Ele levantou com o corpo ainda tremulo de prazer e com raiva abriu a porta.
- O que foi porra!

-Poxa patrão, sabe aquele maluco que disse que ia te matar, viram ele na favela.
- Viram esse filha da puta onde?
Antes de responder, cabeção tentou olhar para dentro do barraco, com o intuito de saber quem era a piranha que estava transando com o dono do tráfico na favela. Porém não conseguiu ver nada.
- Viram ele lá no valão. – Mal acabou de falar, Carlos bateu a porta na cara dele. Cabeção, ficou ali parado com aquela cara de bobo, de quem fumou vários baseados, voltou para sua esquina e foi fumar mais um.
Daniele sentou na cama, seu corpo negro, nu, estonteante, não causou a menor excitação em Carlos, pois em sua mente só havia espaço para um único pensamento: Matar o cara que quase o havia matado meses atrás.
- Vai aonde?- Perguntou Daniele ao vê-lo colocando as calças.
- Vou ali. – Respondeu Carlos vagamente.
- Vai ali! Vai me deixar aqui sozinha pra ficar com os pela saco?
- Cala a boca porra! Fica na tua caralho.
Depois que calçou o tênis e pos uma camiseta, Carlos foi atrás de um armário velho, pegou sua pistola glok 9 prateada, dois pentes, que guardou no bolso, saiu sem dar mais alguma explicação.
Daniele ficou sentada na cama, falou um monte de palavrões, jogou alguns objetos na parede, como de nada adiantou isso, ela deitou e adormeceu rapidamente.
Assim que chegou na rua, chamou um moleque pra fazer a sua contenção. Rapidamente chegou no valão, onde encontrou cinco caras armados, cada um com um fuzil.
- Qual foi?- perguntou Carlos. – Cadê o safado?
- Sei lá. – Respondeu um dos caras. – Só sei que ele está na favela, agora onde, ninguém sabe ao certo.
Carlos estava muito nervoso andava de um lado para o outro, chegou perto do vapor, pegou um pó de dez reais, cheirou no saquinho mesmo e deu o resto para um dos outros traficantes.
- Qual era o nome de uma mamada que ele comia? Uma branca, magrinha.
- Era Walkiria . – Respondeu pezão.
- Sabe onde ela mora pezão?
- É lá perto do cruzeiro.
- Então vamos lá, eu, você, banana e o klebinho. – convocou Carlos.
Os quatro foram caminhando favela a dentro, por cada rua que passavam, os moradores sentiam que havia algo de estranho no ar. Os pais mais prudentes colocavam os filhos para dentro. Só que a maioria dos moradores de favelas, tem hábitos estranhos, quando esta na iminência de ter um tiroteio ou já de estar tendo, As pessoas ao invés de se esconderem, não, fazem ao contrário, vão para a rua, é como se a diversão de alguns favelados, fossem os tiroteios.
Chegaram na casa de Walkiria, Carlos nem se deu ao trabalho de bater na porta, com uma pesada, derrubou-a.
Encontrou Walkiria somente de calcinha deitada na cama.
- C-a-d-e o w-a-g-u-i-n-h-o? – falou com tanto ódio, que a frase saiu de sua boca pausadamente. Queria que ela entendesse bem a sua pergunta.
Ao ver o olhar de ódio bem nos olhos de Carlos, Walkiria se assustou.
- Não sei.- Respondeu ela timidamente.
Carlos puxou-a da cama, uma vez no chão, começou a ser chutada. Foi uma longa sessão de chutes, na cara, nas costelas, na barriga e nas costas. Depois ele a pegou pelos cabelos, a moça tinha longos cabelos negros encaracolados, e arrastou-a pelo chão da casa, derrubando alguns móveis, inclusive uma televisão, que ela havia tirado nas casas Bahia e ainda estava na terceira prestação, o tubo espatifou-se. Carlos abaixou perto dela e lhe perguntou num tom de voz que gelou a alma da moça, devido a tanto ódio contido.
-Cade o Waguinho?
- Não sei. – Respondeu ela num Fiozinho de voz.
Carlos sentiu que ela não estava mentindo, porém mesmo assim bateu nela mais um pouco.
Sentada no chão, chorando, cheia de hematomas e toda dolorida, Walkiria tomou uma decisão. Resolveu voltar para o seu primeiro marido, o único homem que a amou e a respeitou e que ela burramente, trocou por Waguinho, que só lhe dava pica, porrada e a esculachava. O bonde que caçava Waguinho continuou procurando por ele, favela a dentro.
- Vamos no bar do tio dele. – Carlos ia a frente do bonde do mal.
Quando chegaram no boteco, os cinco homens que tomavam cerveja de quinta qualidade, se assustaram e foram saindo de fininho. Ficou apenas, seu bonde e o dono do bar, um russo, sem os dos dentes da frente. Ele continuou o que estava fazendo, lavando alguns copos americanos.
- Vem aqui. – chamou Carlos.
O pobre homem foi que nem um cachorrinho. Antes mesmo que chegasse ao balcão, Carlos o puxou pelo colarinho.
– Onde ta o seu sobrinho?
- Não sei. – Respondeu o homem meio atordoado.
- O senhor sabe sim. Vou matar o filha da puta.
- Então tomara que você ache ele mesmo e mate o desgraçado. Ele é a vergonha da família, minha irmã morreu de desgosto, mata ele mesmo, ninguém vai sentir a menor falta, ele virou bandido de sem vergonhice.
Sentindo que a raiva do velho em relação a Waguinho, era tão grande quanto a sua, Carlos soltou o coroa.
-Pode deixar tio, vou matar esse desgraçado pro senhor. Vamos pessoal, vamos encontrar com esse safado e dar cabo dele.
Nem bem dobraram a esquina, uma senhora aparentando uns 45 anos, negra, muito magra, quase esquelética, parou Carlos.
- Tão dizendo que o senhor, quer pegar o Waguinho?
- Porque a senhora quer saber? – Carlos estava desconfiado.
- Porque ele estuprou minha filha quando ela tinha 11 anos, ela engravidou e quase morreu no parto. Se você matar esse desgraçado, eu vou poder morrer feliz.
- Pode deixar senhora, vou fazer isso e vingar sua filha. – Prometeu Carlos. – Vocês ouviram pessoal ,esse cara é muito filha da puta, vou pegar ele.
Continuaram sua busca pela favela, arrombaram muitos barracos, de amigos e parentes de Waguinho. Não encontraram nada.
- acho que ele já meteu o pé. Ele deve saber que estamos caçando ele, não ia ficar na favela de bobeira. Certo braço!- pezão esperou uma resposta de Carlos, que não veio, porque cabeção chegou correndo.
- Carlos! Carlos! Eu vi o Waguinho lá no campinho, ele falou que está te esperando.
- Caralho! Esse filha da puta quer morrer mesmo. Vamos lá pessoal.
Os cinco homens foram correndo em direção ao campinho. Mais ou menos na metade do caminho, Carlos teve uma idéia.
- Vocês três vão pela frente, eu e o pezão pelo mato, quem encontrar ele primeiro, vai fazer ele fugir na direção contrária. Tranqüilidade!
- Tranqüilo.- respondeu olhão, um moleque magro, mulato, com grandes olhos esbugalhados, daí o apelido.
Assim que adentraram pelo mato, Carlos tirou a pistola da cintura e a destravou.
- Vamos lá pezão! Vamos pegar o desgraçado.
- Já é maluco! Já é!
Os dois foram caminhando lado a lado, mato adentro. Andavam observando tudo, ouvindo todos os sons, pois eles conheciam o matagal como a palma das mãos. Só que eles sabiam que Waguinho também conhecia o matagal, daí a chance de o surpreende-lo era mesma que eles tinham de serem surpreendidos.
- Vai por trás da árvore caída.- Indicou Carlos.
- Valeu Carlos! A gente se encontra atrás do gol.
- Já é.
Assim que acabou de pular a árvore, pezão tomou uma seqüência de três tiros de pistola no peito. Ao ouvir os disparos, Carlos se virou na direção e ainda pode ver Waguinho correndo.
Carlos abaixou ao lado de pezão, que estava com o peito ensangüentado, sua camisa 90 da Nike estava vermelha e molhada de sangue. O moleque abriu os olhos e respirando com dificuldade, olhou para Carlos com os olhos fora de órbita.
- Agüenta aí cara, vou chamar alguém pra ajudar a gente. – enquanto falava, Carlos olhava para todas as direções, temia ser alvejado como pezão.
- precisa não cara! To fudidão! Mata o cara pra mim. – essas foram as últimas palavras de Marcelo Oliveira da Silva, 19 anos, vulgo pezão.
Depois delas respirou fundo e morreu.
Quando Carlos levantou, os outros três caras já estavam ao seu lado.
– Escutamos tiros... – Fabinho estacou ao ver o corpo de pezão.-Acabou engolindo a fala.
- Tenho que matar este desgraçado. – Carlos estava fora de si.
Ao saírem do meio do mato, ficaram num descampado, foram recebidos a tiros,cada um abriu para um lado, Carlos foi na direção de onde os tiros vieram. Imaginava que Waguinho iria se esconder nos barracos, foi pra lá. Uma vez lá, andava se esgueirando pelas paredes de madeira, detestava ter de caçar alguém nesta parte da favela, pois parecia um labirinto e não um lugar onde morassem seres humanos. Ouviu um barulho atrás de si, foi averiguar o que era, quase caiu ao tropeçar num moleque que brincava com um carrinho sem rodas.
- Entra porra! – gritou - O moleque saiu correndo.
Onde esse filha da puta está. Pensava Carlos, esse era seu único pensamento.
Pé ante pé, foi indo na direção do barulho, chegou lá e não viu nada, quando se virou para voltar, sentiu algo duro encostando em sua nuca. Nem precisou se virar para saber que se tratava da pistola de Waguinho e que iria morrer com 20 anos de idade, sem deixar herdeiros, pior de tudo, sua vida tinha sido inútil, que tudo estava prestes a terminar.
- Quem ia matar quem?
Foi a ultima frase que ouviu.
Pow!
Virou estatística




Julio Pecly