Sejam Bem Vindos - Leiam e comentem os contos - Sua opnião é muito importante.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O espectador

Densa fora aquela noite de lua cheia, daquele outono remoto. Na imensidão do céu, o vazio escuro da abóbada celeste, nenhuma estrela pontilhada ousara romper o véu de treva, apenas o vulto selênico se revelara misterioso e como a aranha, se ocultara em teias tempestuosas. Incomum fora aquela tormenta de raios fulgentes quebrantando no horizonte. O urro do trovão se ouvira cada vez mais próximo, o som do martelo celeste tremeluzira minha bebida, que me confortara no acampamento em noites gélidas.
Da minha altivez, eu admirara meus domínios, mero pântano no limiar da civilização, que com bravura e labor transmutaria em viçosa terra. Meus homens me seguiram e juntos, realizara meu sonho, tornara-me meu próprio senhor. Nós erguêramos uma capela e celebráramos culto, sem um sacerdote eu mesmo rezara o que sabia de cor. Construíramos palhoças, dormíramos ao relento, até que o rio fora desviado e o charco drenado. Com determinação, de maneira mágica o torreão fora erguido, em um tempo que se julgara impossível na época.
Anos se passaram e as palhoças viraram casas. A vida florescia como fungos no inverno. O terreno úmido não nos deixava esquecer de aquela era uma região inóspita mantida a muito custo pelos esforços de todos: homens, mulheres, crianças e animais. Bestas monstruosas eventualmente emergiam das matas e com fúria irracional ameaçavam nossa tranqüilidade. Apesar do aço fazer o sangue das feras se espalhar pelos ermos e sofrermos poucas baixas, a fama de local hostil se espalhava pela região, o que tornava rara a vinda de mercadores. Em poucos anos, quando percebi, nosso lar era reduto de exploradores: aventureiros ávidos por fama e fortuna, que diziam existir nas profundezas da floresta que nos cercava.
Cansado e sem nenhum homem de fé para me confortar, não me sentia feliz com o meu legado. Nossa cidade se degenerava como fruta madura ao sol. Homem indignos se ocultavam em quartos alugados. Criminosos perigosos, escravos fugidos, viajantes de lugares remotos eram agora necessários para nossa existência, pois deles vinham as notícias de um mundo exterior – cada vez mais estranho para nós – e junto, o vil metal, que pelas taxas que eu cobrava, abasteciam o tesouro. As mulheres ofereciam os corpos aos visitantes, umas por dinheiro, outras por insumos, algumas apenas por raiva dos maridos. Ante a pobreza, muitos dos homens não relutavam em oferecerem as próprias mulheres e filhas para os viajantes, que se lambuzavam com aquele banquete farto e barato.
Ante o assombro que acometia a cidade, decidi, por bem, proibir o comércio das mulheres, muitos homens já estavam se tornando muito poderosos e influentes. Passavam a atrair seguidores e soldados. Dos três homens que controlavam o comércio de mulheres, ordenei a morte de dois, por enforcamento. Deixei apenas a mim mesmo com vida. Tomei as rédeas da cidade e após anos de passividade agi como um senhor, impondo a minha vontade aos servos para o bem de todos.
Entreguei a cabeça de um conspirador do ducado vizinho que se refugiava nas minhas vilas. Recebi soma considerável em ouro pelo favor prestado. Todos os demais facínoras foragidos se sentiram encurralados em um mortal beco sem saída. Impondo o meu terror, os marginais se tornaram submissos e manipuláveis. Quando um grupo deles me trouxe a cabeça do duque, ao qual eu tinha entregue o conspirador, os homens vis se sentiram vingados e perceberam a minha real intenção. Agora eles me eram fiéis. Com o controle dos homens parti – como há décadas não fazia – para a negra floresta, que nos assolava desde de nossa fundação. Um a um os covis desprevenidos dos monstros eram esmagados, ante minhas palavra de poder e aos ataques dos meus lacaios. Os monstros logo entenderam que o medo me consumiu, mas eu não sucumbi, me tornei terror, vingador inquebrantável.
Sem reféns, nem sobreviventes, deixava os meus rastros. As criaturas matavam porque se alegravam, matavam porque se alimentavam, eu não tinha porquês. Este erro inicial fomentou aos monstros uma união rara contra mim e marcharam sobre minha terra. Contudo, tal retaliação me foi útil. Os monstros não sabiam a diferença entre nós humanos e por muitas vezes atacaram os exércitos do filho do duque, que buscava vingança pela minha loucura. Ele julgava que eu controlava os monstros, que atacavam-lhe as tropas e por medo de um destino pior, recuou na vendeta. Me foram enviados mensageiros de paz, mas não tive como fazer sensata escolha. Os exércitos do ducado e as hordas de monstros se enfrentavam ferozmente e a minha posição defensiva me dava vantagem, podia batalhar de modo ambíguo e manter minha cidade de pé. Com esta inesperada proposta de trégua, não poderia mais manter meu estratagema dúbio. Matei um dos mensageiros dele e nada disse ao que retornou. Me restou aguardar as conseqüências de minha inconseqüência.
Os dias se seguiam apreensivos. As tropas do ducado recuavam, até sumirem das minhas fronteiras. Soube que o jovem duque temente, não atacaria. Supus que ele esperava um contra-golpe e ficou defensivo, na segurança do próprio castelo. Superestimei um fraco infante. Já os monstros, ocultos nas florestas, sentiram o cheiro do meu enfraquecimento e organizaram o confronto derradeiro.
Protegidos pelos muros, vi os facínoras atearem fogo nas plantações. Logo depois, contaminaram o nosso suprimento de água com cadáveres doentes. Eles sombriamente esperavam nosso perecimento, e para nosso infortúnio, também lançavam ataques contra as nossas muralhas. Antes que derrubassem nossas defesas e ateassem fogo na minha cidade, organizei os melhores batalhadores e saímos do cerco para uma batalha campal ao sol do verão. Lutamos com destemor e infligimos sofrimento ao confiante inimigo. Antes do cair da noite, fui ferido entre algumas formulações antigas, o ferimento foi profundo e grave. Levado para o torreão, não vi o desfecho da batalha. Na minha agonia só pensava em ficar na minha cidade, que com tanto amor e labor a qualquer preço defendi, por tantos anos. Na minha dor profunda e amargura, desfaleci em torpor.
Ao acordar, vi sombras na noite clara de verão adentrando a porta violada. As grotescas criaturas, com clavas e lanças ocupavam o meu quarto. Se aproximaram do meu corpo e golpearam com desprezo, riam sarcásticas do meu estado putrefato. Fui mero espectador da cena, vendo meu corpo ser lentamente mutilado e o sangue negro esvaindo-se das minhas chagas. Só então percebi que contemplava externamente aquele cenário e via meu próprio rosto cadavérico e sujo, maltratado pelas feras. Minha consciência flutuava etérea próxima do meu corpo mutilado. Emiti um lamento inominável, ante o meu crepúsculo.
Abro os olhos e vejo os monstros me fitarem com pavor. Um súbito e seco golpe de maça sobre minha caixa torácica fez pus jorrar na assustada criatura. Levantei-me do meu leito, e olhei as minhas cadavéricas mãos. Observei a sala com cuidado, vendo os brutamontes vacilantes. Senti fome, mas não por comida, fome por algo abstrato, fome insubstancial. Minhas mãos se lançaram sobre um dos inimigos e esganei a musculosa criatura, meus dedos secavam a pele rugosa do pescoço do monstro que grunhiu em desespero. Quando o lancei ao chão, estava seco como as folhas de verão.
Me senti mais forte e ágil, os outros contendores, que tomados pela ira, lançavam-se sobre mim em vão. Minhas mãos lentamente rasgava a pele frágil deles, produzindo em mim sensações de prazer e neles incômodos ferimentos, dando-lhes falsas esperanças de vitória. Decidido a acabar com a batalha, da minha palma projetei raios. O som do trovão ecoou a torre , um súbito silêncio se seguiu. Ao lado dos corpos dos monstros, vi meu velho corpo destroçado, que por um instante , achei ter se levantado. Olhei as minhas mãos frias e elas ainda estavam lá, me ajoelhei numa pequena poça de sangue e sob a luz da lua cheia de verão pude ver meu rosto espectral, marcado com todas as seqüelas e horrores que vivi. Ordenei que o monstro que esganei, se erguesse e matasse todos da minha torre. Me levantei e deslizei até a janela do torreão. Olhei do alto para a minha cidade arruinada e jurei que protegeria meu domínio de quem quer que fosse, pelo tempo que a eternidade me concedesse.
Ela se tornaria muito mais bela sob a escuridão dos meus novos olhos

DANIELFO

sábado, 24 de outubro de 2009

Minha namorada é um robô

Olá, meu nome é Roberto, meus amigos me chamam de Beto e o que eu vou contar aqui é algo muito, mas muito sério e vocês precisam acreditar... A minha namorada, Loren Applegate, ela é um robô... É sério! Ela é um robô sim, pode acreditar. Eu não tenho provas concretas, mas tenho evidências, um monte delas. Vamos começar do começo:
Antes de qualquer coisa tenho que falar dela em si; a Loren é muito bonita, do tipo que só se vê em histórias e em filmes americanos, sabe? Ela tem cabelos loiros e ondulados. Seus olhos são verdes, bem claros e sua pele é macia... Agora diz quantas meninas de verdade são assim? Parece que eu to inventando, mas tenho uma foto dela aqui pra provar, ta vendo? Ela parece perfeita demais para ter nascido, parece que foi feita, entende? Depois (e igualmente estranho) eu a conheci em uma loja de artigos eletrônicos, sabe a mega-loja de eletrônicos do Big Al lá no centro da cidade? Pois é, lá que eu a vi pela primeira vez. Ela estava com um carrinho de compras completamente cheio, tinha de tudo lá dentro... Quantas meninas gostam de fazer compras em lojas de eletrônicos? Quer dizer, isso é absurdo! Meninas da idade dela gostam de andar no shopping, falando bobagem e comprando coisas de menina, mas... Eletrônicos? Eu nunca vi.
Eu fiquei de boca aberta quando a vi, uma semi-deusa empurrando um carrinho cheio de tralhas, enquanto eu segurava um chuveiro elétrico nas mãos. Ela sorriu quando passou por mim e até disse “oi”... E ai entra meu terceiro ponto: meninas lindas como ela, não sorriem e dizem “oi” para um cara qualquer como eu, logo que o vê pela primeira vez, a não ser que ela fosse um andróide de relacionamento humano! Programada para se entender com todos os humanos! E por que uma semi-deusa estaria em uma loja de eletrônicos? Meninas bonitas vão no shopping!
Fui pra casa pensando naquele anjo de cabelos dourados. Contei para uns amigos, mas eles não acreditaram que uma menina com tal descrição estava numa loja de eletrônicos e que ainda por cima me deu um oi. Não os culpei por não terem acreditado. Mas ai, no dia seguinte eu fui pra escola e a diretora falou que uma aluna nova ia entrar pra turma e adivinha quem era... Aquela loira da loja. Ela tinha acabado de se mudar com a família e foi transferida pra nossa escola e pra minha turma. Quando ela me notou no meio da sala, acenou e disso “oi! Você é o garoto da loja ontem não é?”. Não preciso dizer que fiquei sem reação, preciso?
A partir daí, acho que quase um mês depois, Loren e eu começamos a namorar. Eu não sei explicar como aconteceu; num momento estávamos falando sobre ficção científica e no outro estávamos nos beijando. Acredita que ela gosta de Star Wars? Adivinha qual o personagem que ela mais gosta? Vou dar uma dica, começa com R...
O mês seguinte foi tranqüilo, mas logo depois minhas suspeitas começaram a aparecer. Notei que a minha namorada tinha hábitos rigorosos e faziam as mesmas coisas toda semana, e nos mesmos horários, tudo sempre agendado. Para sair com ela eu tinha que marcar com antecedência, exceto nos fim de semana, quando ela ficava mais livre. Fora o fato de que durante a semana ela parecia seguir uma programação.
Loren tinha a incrível capacidade de realizar muitas coisas ao mesmo tempo, sem perder a concentrarão em nada. Mais de uma vez eu a vi escrevendo na agenda, ouvindo duas garotas falando, respondendo uma terceira, ouvindo mp3... Tudo isso enquanto falava ao celular com a mãe dela. Impossível? Eu também acho, mas ela faz, eu vi. Já ouvi falar que mulheres são multitarefa, mas isso foi de assustar.
Outra coisa curiosa é a quantidade de energia que ela tem no corpo, quero dizer, eu nunca a vi com sono, tão pouco a vi dormindo. Ela levanta todos os dias às seis da manhã pra fazer um curso de não sei o quê lá, mas isso nunca a impediu de ficar de madrugada comigo no telefone ou no msn. Eu pergunto se ela não tem que ir dormir, mas ela sempre responde que não tem problema... Muitas destas vezes nós desligávamos o telefone às quatro da manhã, e duas horas depois estava ela saindo de casa, super disposta. Mas o mais surpreendente de tudo, a maior prova que eu tive de que ela é um robô, foi quando nós saímos, na semana passada; foi a primeira vez que nós saímos à noite e o pai dela disse que era pra estar de volta antes das dez da noite. Fomos à festa de aniversario de uma amiga da escola, e claro, Loren estava muito bonita. Conversamos e dançamos o tempo todo, nos divertimos e tal e quando deu dez da noite, estávamos na porta da casa dela, nos despedindo, foi então que aconteceu algo muito bizarro; os irrigadores do jardim ligaram-se bem quando estávamos lá, nos despedindo. Ficamos molhados e confesso que foi engraçado; rimos e corremos para a porta da casa dela. Fui dar um ultimo beijo de despedido e então, levei um choque, logo que meus lábios tocaram os dela...
Agora pense: eu nunca levei choque antes, mas porque eu levei um choque desta vez? Qual a diferença desse beijo para os outros? Eu te digo: foi a água! A Água a molhou, causando um curto circuito nos circuitos dela me dando um choque quando toquei nela!
Depois disso ela deu uma risada sem graça se despediu e entrou, e eu fui pra minha casa e foi ai que comecei a juntar as peças do quebra cabeça e vim com a teoria de que Loren era na verdade um robô. Vamos então aos tópicos da minha teoria:

• Ela é linda, gentil, delicada, divertida, simpática, inteligente e muito amigável (convenhamos que tudo isso numa pessoa só, é impossível)
• Ela dá moral para bobões nerds e barrigudos, como eu.
• Ela se diverte comprando eletrônicos ( tipo, que?)
• Adora ficção cientifica, principalmente Star wars
• Segue uma rotina rigorosa sem nunca perder o horário pra nada.
• Super multitarefa, capaz de fazer até sete coisas ao mesmo tempo sem perder a concentração.
• Não precisa dormir (provavelmente ela tem uma bateria poderosa)
• Quando molhada entra em curto.


Então, será que isso prova tudo?

- Cara você é maluco!
- Como assim maluco? Estão ai as provas! Loren é um robô!
- E ai? Vai deixar de gostar dela? Pensei que a amava.
- Mas eu... Eu a amo,só que...
- Mano,olha só: A Loren vem de uma ótima família, por isso ela é tudo de bom, saca? Nasceu bonita e teve ótima educação. Ela gosta de eletrônicos e star wars? Muita gente gosta cara, não pira.
- Mas e...
- Ela é super responsável, por isso nunca perde os horários dela. E sobre ser multitarefa, cara dá um tempo,toda mulher sabe fazer isso.
- Mas as mulheres não dão choque quando molhadas!
- Ta ok... olha, não diz pra ninguém que eu te falei isso,beleza? Acontece que a Loren tava com medo de parecer uma idiota pra você naquele encontro, então ela tava com uma escuta. A irmã dela tava falando no ouvido dela o que dizer e o que fazer. Quando vocês foram molhados, o aparelho deu curto, por isso ela deu choque e por isso ela correu, porque não sabia como explicar.

Fiquei sem palavras. Minhas teorias estavam erradas? Eu li outra vez minha lista e desta vez, me senti um idiota, quer dizer, que bizarro, um robô? Loren é um amor de pessoa e robô nenhum saberia expressar isso.
Meu colega estava ali me olhando, enquanto eu fazia cara de panaca derrotado.
- Mano – continuou ele – Loren Applegate é isso tudo, e você é apenas um cara de sorte. Uma super gata afim de você, é sorte, apenas isso. Sorte existe mano.

Sorte existe. Eu dei risada de mim mesmo. Joguei fora minha lista idiota e decidi parar de pensar nisso. Acho que vou ligar pra ela e marcar alguma coisa pra mais tarde.

- Alô? Sim, aqui sou eu... O Beto tava numa neura, mas agora já passou... Não esquenta, ele não sabe de nada... Sim, fiz como o combinado... Dessa vez passou perto... Ok, até mais tarde, senhor Applegate.

Seph Nation
twitter.com/SephWriter

29 NOITES E HOJE SOL / 2 Cabeças 1 Escrito

Não sei se por opção,
Ou por falta dela.
Deixo meu peito vazio para o respiro.

Cuando me faltan opciones,
Mudanzas vienen a fuerza,
Y a ellas, siguen mi corazón.

Ferido mais que perdido,
Busco a calma.
Forte, colo a boca que cala.

Es como si, en algun punto,
Hubiera perdido el pleno control,
Y la vida sigue por si,
¿Sabrá adonde va?

Hoje acordei melhor,
Reguei minhas plantas,
Valorizei a vida ao meu redor.

Se impone la instabilidad de toda rutina
Y despues de dias de lluvia
Hay sol otra vez

Por: Jane Agostini / Felipe Malta

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Toda gloriosa festa tem seu fim

Em meio aos lugares que são de meus iguais
Nem mais as batidas me repelem a pele
Mas sim me atraem até elas... As peles

Sabemos, toda glória acaba,
No mau hálito seco e sem voz
Na bebida cara da festa que não tenho como compra

Queria mesmo, um gole do ego sem teto,
Mas ao contrário disso...

Se prendeu nas varias dessas horas sem minutos
E ai... Todo o bom acabou tão rápido
Eu mal comecei...

A música prossegue ritmada pelas palmas da mão
Enquanto eu não tenho nem sequer um refrão

Nem sequer um tanto de paz
Nem sequer se eu quisesse
Nem sequer se nois queresse...

Agora a festa acabou
A fama miou
Meu perfume não vale de nada.


MICHEL CENA7

domingo, 18 de outubro de 2009

TRISTEZA DO CÉU

No céu também há uma hora melancólica.
Hora difícil, em que a dúvida penetra as almas.
Por que fiz o mundo? Deus se pergunta
e se responde: Não sei.

Os anjos olham-no com reprovação,
e plumas caem.

Todas as hipóteses: a graça, a eternidade, o amor
caem, são plumas.

Outra pluma, o céu se desfaz.
Tão manso, nenhum fragor denuncia
o momento entre tudo e nada,
ou seja, a tristeza de Deus.



CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

sábado, 17 de outubro de 2009

Protuberância

Este sorriso que muitos chamam de boca
É antes um chafariz, uma coisa louca
Sou amativa antes de tudo
Embora o mundo me condene
Devo falar em nariz(as pontas rimam por dentro)
Se nos determos amanhã
Pelo menos não haverá necessidades frugais nos espreitando
Quem me emprestar seu peito ma madrugada
E me consolar, talvez tal vez me ensine um assobio
Não sei se me querem, escondo-me sem impasses
E repitamos a amadora sou
Armadora decerto atrás das portas
Não abro para ninguém, e se a pena é lépida, nada me detém
É sem dúvida inútil o chuvisco de meus olhos
O círculo se abre em circunferências concêntricas que se
Fecham sobre si mesmas
No ano 2001 terei (2001-1952=) 49 anos e serei uma rainha
Rainha de quem, quê, não importa
E se eu morrer antes disso
Não verei a lua mais de perto
Talvez me irrite pisar no impisável
E a morte deve ser muito mais gostosa
Recheada com marchemélou
Uma lâmpada queimada me contempla
Eu dentro do templo chuto o tempo
Um palavra me delineia
VORAZ
E em breve a sombra se dilui,
Se perde o anjo.

Ana c.



quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Lolita da favela

Cheguei do trabalho, tomei um banho, fiz uma coisa qualquer para comer. Depois sai da cadeira de rodas e fiquei sentado na cama assistindo um filme. Sinceramente, nem estava prestando atenção no filme, estava sim era pensando na vida. Fui interrompido por uma batida na porta.
Merda! Pensei. Já vieram estragar meu sossego.
- Entra. – Gritei.
Quando vi quem era, respirei fundo e senti que veria chateação. Era Márcia, uma menina de uns doze ou treze anos, uma negra muito bonita, com os cabelos lisos, bem pretos, mais ou menos um metro e sessenta e cinco de altura ,seios fartos e um corpo maravilhoso, que não condizia com sua pouca idade, ela era amiga de minha irmã. Segundo os caras da rua, ela era meio piranha, gostava de dar a boceta em troca de presentes ou de dinheiro, diziam que ela era uma mamadinha. Eu não sabia se era verdade ou não.

GÍRIA DA FAVELA: MAMADA OU MAMADINHA
GAROTA QUE PRATICA SEXO ORAL EM TROCA DE DINHEIRO, BEBIDA OU DROGAS.

Ao entrar ela passou o trinco na porta.
- Oi – Disse ela sentando-se de frente pra mim. Como ela estava com uma saia bem curta, podia ver sua calcinha branca minúscula.- Ta fazendo o que ?
-Tava vendo um filme.
- Cadê tua irmã ?
- Ta em casa. – respondi.
- Ta não, entrei e não vi ninguém, tava tudo aberto.
- Então ela deve estar por perto.
Todos os dias ela vinha na minha casa, não podia impedir que ela entrasse, ela era amiga da minha irmã. Só que sempre ela vinha no meu quarto. Primeiro começava com uma conversa de cerca Lourenço e depois começava a se insinuar.
- Olha a calcinha que minha mãe me deu.
Sem que eu esperasse, ela se levantou da cadeira, ficou de pé na minha frente, levantou a saia, ficando de costas pra mim. Foi então que aconteceu algo comigo que nunca acontecera antes, ao ver aquela microcalcinha enfiada naquela bunda maravilhosa, fiquei assustado e excitado, mais o segundo que o primeiro. Apesar da pouca idade, seu corpo era maravilhoso, a bunda, as pernas, tudo lisinho, sem uma celulite ou estria, foi aí que comecei a vê- la diferente.
- Se ajeita Márcia, minha irmã pode chegar a qualquer momento, o que ela vai achar disso. - Falei preocupado.
- Dane-se ela, quem sabe da minha vida sou eu.
- Porque você faz isso comigo Márcia?
- Isso o que?- Perguntou ela cinicamente.
- Ficar se insinuando pra mim?
- Não sei! Gosto de você, sei lá.
- Gosta de mim! Tenho 30 anos, to numa cadeira de rodas, sou feio, não tenho nada pra te oferecer. Procura os moleques da tua faixa de idade.
- Eu não, eles são todos iguais, eles só querem me comer, não tem dinheiro pra nada, não me dão presentes. E se eu fuder contigo, sei que você vai me dar dinheiro e presentes.
- Quem te disse isso?
- Ninguém, quer ver?
- Ver o que?- Perguntei distraidamente.
Ela veio na minha direção, puxou minha bermuda, colocou meu pau para fora e começou a chupa-lo. Meu primeiro desejo foi puxa-la pelos cabelos, para tirar meu pau da boca dela, só que o instinto animal do ser humano foi mais forte, fiz exatamente o contrário, empurrei a cabeça dela para baixo, fazendo com que ela engolisse mais ainda meu pau, para aumentar o meu prazer, encostei na cama e fiquei usufruindo do boquete, daquela boquinha de veludo. Gozei na boca dela.
Ela se levantou e foi ao meu banheiro lavar a boca. Sentou novamente perto de mim, com a cara mais deslavada do mundo, com um sorrisinho maroto e safado.
- Viu o que eu faço com a boca! Imagina com a buceta? Gostou?
- Gostar eu gostei. Só que isso não ta certo, você é uma criança, eu tenho idade para ser seu pai. E se tua mãe descobrir?
- Ela só vai descobrir se você contar. Vai fazer isso?
- Claro que não.
- Tem um baile que eu quero ir hoje, compra um ingresso pra mim?
- quanto é?
- Preciso de oito reais.
Abri a carteira e dei vinte reais para ela.
- Eu não disse. – falou enquanto pegava o dinheiro da minha mão.
- Disse o que?
- Que você ia me dar dinheiro.
Eu não respondi nada. Notei que ela não era boba. Fiquei na minha.
- Brevemente vamos fazer outras coisas deliciosas.
Ela saiu do meu quarto com um sorriso no rosto.
Caralho! Que merda que eu fiz. Pensei. Deitei na cama e durante alguns minutos fiquei pensando no acontecido. Foda-se, não fiz nada a força. Acabei dormindo.
Durante três dias não nos encontramos. Numa quinta feira, estava voltando do trabalho, que era perto de casa, há vi jogando queimado, com um monte de moças e rapazes da idade dela. Ela estava com um shortinho azul de lycra, bem curtinho e um topzinho amarelo. Ao me ver, ela veio correndo na minha direção .
- Me aguarda hoje, nove horas eu vou lá. – Falou e voltou correndo pro meio dos amigos dela.
Às nove horas em ponto ela bateu na porta do meu quarto.
- Não falei que ia vir. Olha eu aqui!
- Sumiu hein!?
- Sumi nada, tava por aqui mesmo. Quero fuder contigo hoje.
Ela estava cheirosa, podia sentir o perfume dela, isso me enlouquecia, a textura da pele dela, seus contornos, tudo nela me enlouquecia, só estava com um medo, me apaixonar por ela e fuder minha vida toda.
- Você quer complicar a minha vida? Não quer?
- complicar nada, para de ser bobo, aproveita, tu acha que todo cara na cadeira de rodas tem a oportunidade que eu to te dando, de fuder com uma novinha. Tem um monte de coroas querendo me levar para a cama, só que eu não quero eles. Não sei porque quero você. se você quiser que eu vá embora, eu vou. Quer?
- Não. – respondi na hora.
Ela começou a me ajudar a tirar a roupa e depois tirou a dela. Novamente ao ver aquele corpo negro maravilhoso na minha frente, ao ver aquela buceta raspadinha, com apenas um Fiozinho de pelos, esqueci todos os meus medos e quase enlouqueci. Ela pulou em cima de mim, comecei a beija-la, chupar seus seios. Enquanto praticava sexo oral nela, podia ouvir os seus gemidos, gostei e caprichei mais ainda, teve uma hora que ela apertou minha cabeça com as suas pernas, depois transamos.
Porem a foda foi horrível, ela quis transar comigo, como se tivesse transando com um cara normal. Quando acabamos, ela viu no meu rosto que eu não havia aproveitado a transa.
- O que foi? Não gostou?
- Gostei! Só que me machucou, eu não sou que nem os outros caras, você não pode fazer comigo como se eu fosse um cara normal, tenho meus limites, entendeu? Ela veio até a minha direção e me deu um selinho na boca.
- pode deixar, as outras vezes serão melhor.
E foram, cada transa foi ficando melhor que a outra, depois que nossos corpos se acostumaram um com o outro, nunca mais me machuquei.
Ela me ajudou a se vestir, se vestiu e ficou ao meu lado assistindo tv. Ficamos os dois quietos, ela assistindo filme e eu a analisando. Realmente ela era pouco mais que uma criança. A cada risada que ela dava ao ver as palhaçadas de Eddie Murphy, eu podia ver que alguns de seus dentes eram de leite, seus modos ainda eram de menina. Derrepente ela se levantou.
- Onze horas!minha mãe mandou eu entrar ate as onze e quinze. Posso te pedir uma coisa?
- Claro que pode.
- Quero uma calça de “stresse” linda que eu vi numa loja.
- Quanto?- Fui logo perguntando.
- Trinta e cinco reais.
-Sábado eu recebo e te dou. Ta legal.
- Tudo bem, então, posso mandar a mulher da loja separar pra mim a que eu quero.
- Com certeza, assim que eu chegar de trabalho tu passa aqui.
- Brigado. – Ela me deu um selinho e já ia saindo quando eu a chamei.
- Vai voltar amanha?
- Quem sabe. – ela sorriu pra mim. – Venho sim.
Durante três meses nosso relacionamento foi assim, sexo, sexo, sexo. Transávamos, ficávamos vendo televisão, conversando e brincando. Uma noite após ela ir embora, minha irmã veio até o meu quarto.
- O que esta acontecendo entre você e a Márcia?
- Nada somos só amigos.
- Só amigos! Você ficou louco! Ela tem quatorze anos e você trinta e tal, essa merda pode acabar na boca.
- Só bandido que pode comer as novinhas. Além do mais eu não esculacho ela, trato ela na moral, se ela estivesse saindo com bandidos, não estaria comigo.
- Tu acha que ela fode só contigo.
- Claro que não, acha que sou bobo.
- Bobo não. Otário! Ela só quer o teu dinheiro.
- Ta bom, ela me da o que eu quero, eu dou dinheiro pra ela.
- Já vi que não tem jeito, ela ta te dominando. Eu sou amiga dela, lembra que isso é errado.
-Eu sei mana, só que sempre fui só, transava de vez em quando, agora ela vem sempre aqui, entrou na minha vida, deixa eu aproveitar.
Porém com os mais velhos dizem, o pão do pobre cai sempre com a manteiga pra baixo. Do mesmo jeito que ela chegou, sumiu da minha vida. Depois do primeiro mês, resolvi esquece-la, continuei com a minha vidinha, casa, trabalho, cama e pronto. Soube através de minha irmã, que ela estava morando com um cara, num barraco.
Um belo dia ela apareceu em minha casa, nem me cumprimentou, foi logo dizendo.
- Quer transar comigo, to precisando de trinta reais, pode me dar agora.
Minha primeira vontade foi dizer não, quando a vi nua, mudei de idéia, ela estava mais linda ainda. Transamos. O mais legal, foi que ela não esqueceu como fazíamos, foi ótimo. Só que dessa vez não ficamos conversando, nem vemos televisão, ela se vestiu, não disse nada, foi embora.
Sumiu novamente. Só que nesse ínterim, fiquei amigo da irmã dela e surgiu um interesse meu por ela, mais do que amizade. Quando chegava do trabalho, ligava para ela, a chamava para ficar conversando comigo no quarto, falávamos amenidades e eu falava do meu interesse por ela. Dizia para ela esquecer o fato de eu estar numa cadeira de rodas, que podíamos ser felizes, que poderíamos ter uma vida legal juntos, depois de ouvir estas coisas, pedia que ela me desse uma resposta. Só que ela respondia sempre do mesmo jeito.
- Não sei, me da um tempo para eu pensar.
Essa história toda durou cerca de dois meses, eu queria namorar com ela, só que eu queria era algo serio, não como acontecera com Márcia. Na aparência, elas tinham um rosto bem parecido, Márcia era cinco anos mais nova que ela, só que ao contrario de Márcia, não consegui transar com ela. Durante um bom tempo ficamos nesse lenga-lenga. O que aconteceu de legal foi que umas duas ou três vezes depois de uma irmã ir embora, a outra chegava e nós transávamos.
Tudo isso terminou num dia de sábado. cheguei do trabalho que havia sido meio expediente, estava entrando na rua onde as irmãs moravam, na frente da casa, um casal namorava, só de perto que eu pude perceber que era Eliane, a irmã que eu paquerava, com um cara. No exato momento em que eu passava, ela olhou pra mim, nossos olhares se cruzaram, pude ler seus pensamentos:” sinto muito, você é um cara legal, mas esta numa cadeira de rodas, não tenho coragem suficiente pra tentar algo com você”. Eu baixei a cabeça, com um nó no coração, segui meu caminho.
Entrei em casa, tomei um banho, minha irmã perguntou se eu queria comer, disse que não. Deitei na minha cama e fiquei pensando, no que eu e Eliane podíamos ter sido. Triste mesmo eu fiquei quando lembrei que ela era mais uma que eu perdia para um cara normal, me resignei. Afinal de contas quando você apanha sucessivas vezes no mesmo lugar, aquela parte do corpo fica calejada e as pancadas não incomodam tanto, o corpo acostuma.
Estava quase dormindo quando meu amigo Leônidas, me chamou para sair, fomos beber com outros amigos.
Cheguei em casa completamente bêbado, só lembro que a casa estava cheia de gente, eles comemoravam algo que até hoje não sei o que era, cheguei gritando que amava a Eliane e que ela não me amava, entre as pessoas que estavam na festa, Márcia. Antes de desmaiar, lembro que ela segurou meu rosto e me disse algo:
- Vou fazer você esquecer a minha irmã.
Realmente ela conseguiu e conseguiu outra coisa que eu não queria que acontecesse, que tentei evitar de todas as maneiras. Acabei me apaixonando por ela. Minha vida começou a ruir.
Quando saiamos juntos, era horrível, ela conhecia muitos rapazes, da faixa etária dela, ela conversava com eles, eu não agüentava, ficava com tanto ciúme que por pouco não levantava da cadeira. Alias, eu não suportava que nenhum outro homem falasse com ela. As vezes ela me perguntava.
- porque você e assim?
Eu mandava ela se por no meu lugar. Um cara quase vinte anos mais velho que ela, numa cadeira de roda com uma menina linda, como ela. Na minha mente eles queriam toma-la de mim. Passamos a discutir todos os dias quase.
Como ela havia dito, esqueci da irmã dela e me apaixonei tanto por ela, que não conseguia tira-la da minha mente, pensava nela todos os minutos do dia.
Nossa vida era fuder, só que nenhuma relação pode se apoiar somente nisto. Como era de se esperar, de uma relação como esta, não estávamos nos entendendo, ela queria só um namorico e eu muito mais do que isto, tentei de tudo para ficar com ela.
- Poxa cara, vamos ficar juntos, vem morar comigo, com minha aposentadoria e com o que eu ganho no meu outro trabalho, vamos viver numa boa, sei que você e novinha, eu sou mais velho, você vai envelhecer também, eu cuido de você, e você cuida de mim, eu vou viver pra você, não vai te faltar nada, eu falo com sua mãe. Vamos tentar.
- Não sei! Tenho medo.
- Medo de que?
- Não é bem medo, é uma falta de coragem.
- Você gosta de mim?
- Gostar eu gosto, só que eu não te amo como você me ama.
- Isso é de menos, teremos um convívio juntos, o amor vem com o tempo. Vamos tentar?
- Não é a hora! Pra mim ainda não.
Acho que com o tempo, meu amor virou obsessão, porque eu sabia que ele não tinha sustentação, ela podia me abandonar a qualquer momento, como de fato aconteceu. Havíamos acabado de tomar banho e de transar no banheiro, estávamos conversando na varanda da minha casa, quando ela olhou pra mim com uma cara estranha, desconfiei que vinha algo.
- Olha – Começou ela pausadamente – Não da mais, arrumei outra pessoa e nós vamos morar juntos.
Olhei pra ela, meus olhos ficaram cheios de lágrimas. Da minha boca, saiu um Fiozinho de voz.
- O que foi que eu fiz?
- Nada – Disse ela – To gostando desse cara.
- Algum cara já te tratou como eu te trato?
- Não! ninguém nunca me tratou tão bem como você, só que você merece alguém melhor que eu...
- Eu quero você Márcia, ninguém mais me interessa. Porque você entrou na minha vida cara. Eu te amo! Não me deixa!
- Acabou! Você vai arrumar alguém.
Ela se foi.
Fiquei ali parado, chorando. Uma dor imensa tomou conta do meu coração, fiquei até com falta de ar. Não sei quanto tempo permaneci ali chorando. Queria morrer.


Julio Pecly


terça-feira, 13 de outubro de 2009

Quero ser música

Quero ser música
Daquelas que ficam
Invadem cabeça alma,
Paz
Tudo mais.

Quero ser música
Voar leve
Ser breve,
Eterno
Aconchego no inverno


Quero ser música
Ter luz
Fazer jus,
Iluminado
Sem ego, guia o cego




Quero ser música
Ser criança
Renovar minha esperança,
Dança
Ritmo pra mudança

Quero ser música
Ser cantado o dia inteiro
No palco, no banheiro
Pra quem não escuta,
Quero ser cheiro.

Felipe Malta

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A Revolução e o Ponto de Vista

Era o grande caçador de lagartas. Toda vez que a samambaia da sala amanhecia desfolhada, denunciando a presença das predadoras, as mulheres da casa logo recorriam a ele.
Assim aconteceu também naquele dia, quando ele, como sempre, armado de pinças, lentes, e um vidro de boca larga, preparou-se para mais uma demonstração de coragem. Não podia saber que as lagartas haviam convocado sua grande caçadora de homens, a qual, escondida por entre as folhas da planta, o abateu com um tiro.

Daniel Terra

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Vamos ao Teatro?

Casa de classe media. 22:30h. Roda de amigos. Todos bebem alegrementea sobra de champanhe da ultima festa da empresa de Melquesalém, atéque José Carlos puxa um assunto que não tem nada ha ver com o quetodos falavam até então.Até aquele momento já haviam falado sobre a Mulher Melão. Sobre oaumento de impostos. Sobre a novela dos fantasmas. Sobre a quantidadede pelos pubianos de determinada atriz que posou na “Só Boazudas “.Enfim… assuntos não faltavam. mas lá vai José Carlos e seus assuntos… José Carlos -Em que mês nós estamos? Tania - Novembro. José Carlos - Quase é o fim do ano. Voces já foram ao teatro esse ano? Tania - Não. Teatro é muito chato e cafona. Meirelles - Não. Só tem peça ruim. Dos Santos -Não. Não achei nenhuma por esses tempos com ator que faz novela. Janaina -Não. A ultima peça do meu primo que fui ver jogaram água nomeu cabelo e eu tinha acabado de fazer escova progressiva. Ivan -Não. A Ultima peça que fui ver só tinha palavrão. Melquesalem -Não. A unica peça que eu vi, tinha um cara nu, que tomavauns tapas na cara de uma atriz com cara de maluca e no fim aindafizeram piada da minha careca. Neste momento sem muito pensar e já se arrependendo do que ia dizer, José diz: José Carlos – Tá vendo ai, quantas sensações diferentes o teatroprovocou em voces. E Após uma pequena pausa a sala estourou numa saraivada de gargalhadase comentários jocosos com relação a frase recem escutada.José, que agora se resumia a um Zezinho, levantou-se e foi em direçãoao balde de champanhe. Encheu sua taça, enquanto ouvia Janaina dizer:Ele só fala essas coisas porque na faculdade ele fazia aqueles textosengajados do Brecht, é um ator frustrado.Comeu um pedaço do sanduiche a metro que agora poderia ser rebatizadode sanduiche a centimetro e pensou: Como é que eu vou conseguirexplicar a eles o que o teatro me deu. Como vou dizer que vendo “NovasDiretrizes para tempos de Paz “ eu me tornei um ser humano melhor. Queeu me diverti e relaxei vendo tantas comédias que nem consigo citarapenas uma. De onde tirar argumentos para dizer o quanto aprendi erefleti com tantas peças do Bando de Teatro, do Teatro, do Oficina, Napraça Roosevelt, ou até mesmo nos festivais de teatro que eu pude ir.Será que eles entenderão que eu queria ser o Milton de Souza depoisque eu o vi apenas uma vez numa montagem do “Rei Lear” , no dia 27 deabril de 1997,na cadeira p17 do Teatro Vila Alves. Como revelar queaté hoje sou apaixonado pela Léa Bulbul que fazia a Dandara naquelamontagem de “Fausto e Dandara”.José sabia da inconstância do teatro, da tendência do público nos seusgostos, mas mesmo assim, após comer os farelos do pão ele tomou umadecisão: Quando sair o meu salário eu vou comprar ingresso para todosirem ver a nova montagem de Galileu Galilei que estreou semanapassada.Virou-se e puxou outro assunto, para ele menos polêmico. José Carlos – E ai turma, qual foi o último filme nacional que vocês viram?

Lázaro Ramos

RONDÓ DE MULHER SÓ

Estou só, quer dizer, tenho ódio ao amor que terei pelo desconhecido que está a caminho, um homem cujo rosto e cuja voz desconheço.

Sempre estive duramente acorrentada a essa fatalidade, amor. Muito antes que o homem surja em nossa vida, sentimos fisicamente que somos servas de uma doação infinita de corpo e alma.

O homem é apenas o copo que recebe o nosso veneno, o nosso conteúdo de amor. Não é por isso que o homem me atemoriza, quando aqui estou outra vez, só, em meu quarto: o que me arrepia de temor é este amor invisível e brutal como um príncipe.

Quando se fala em mulher livre, estremeço. Livre como o bêbado que repete o mesmo caminho de sua fulgurante agonia.

A uma mulher não se pergunta: que farás agora da tua liberdade? A nossa interrogação é uma só e muito mais perturbadora: que farei agora do meu amor? Que farei deste amor informe como a nuvem e pesado como a pedra? Que farei deste amor que me esvazia e vai remoendo a cor e o sentido das coisas como um ácido? É terrível o horror de amar sem amor como as feras enjauladas.

É quando o homem desaparece de minha vida que sinto a selvageria do amor feminino. Somos todas selvagens: são inúteis as fantasias que vestimos para o grande baile. Selvagem era a romana que ficava em casa e tecia; selvagens eram as mulheres do harém, as mais depravadas e as mais pudicas; selvagem, furiosamente selvagem, foi a mulher na sombra da Idade Média, na sua mordaça de castidade; mesmo as santas - e Santa Teresa de Ávila foi a mais feminina de todas - fizeram da pureza e do amor divino um ato de ferocidade, como a pantera que salta inocente sobre a gazela. E selvagem sou eu sob a aparência sadia do biquíni, olhando a mecânica erótica de olhos abertos, instruída e elucidada. Pois não é na voluntariedade do sexo que está a selvageria da mulher, mas em nosso amor profundo e incontrolável como loucura. O sexo é simples: é a certeza de que existe um ponto de partida. Mas o amor é complicado: a incerteza sobre um ponto de chegada.

Aqui estou, só no meu quarto, sem amor, como um espelho que aguarda o retorno da imagem humana. O resto em torno é incompreensível. O homem sem rosto, sem voz, sem pensamento, está a caminho. Estou colocada nesse caminho como uma armadilha infalível. Só que a presa não é ele - o homem que se aproxima - mas sou eu mesma, o meu amor, a minha alma. Sou eu mesma, a mulher, a vítima das minhas armadilhas. Sou sempre eu mesma que me aprisiono quando me faço a mulher que espera um homem, o homem. Caímos sempre em nossas armadilhas. Até as prostitutas falham nos seus propósitos, incapazes de impedir que o comércio se deixe corromper pelo amor. Quantas mulheres traçaram seus esquemas com fria e bela isenção e acabaram penando de amor pelo velhote que esperavam depenar. Somos irremediavelmente líquidas e tomamos as formas das vasilhas que nos contêm. O pior agora é que o vaso está a caminho e não sei se é taça de cristal, cântaro clássico, xícara singela, canecão de cerveja. Qualquer que seja a sua forma, depois de algum tempo serei derramada no chão. Os vasos têm muitas formas e andam todos eles à procura de uma bebida lendária.

Li num autor (um pouco menos idiota do que os outros, quando falam sobre nós) que o drama da mulher é ter de adaptar-se às teorias que os homens criam sobre ela. Certo. Quando a mulher neurótica por todos os poros acaba no divã do analista, aconteceu simplesmente o seguinte: ela se perdeu e não soube como ser diante do homem; a figura que deveria ter assumido se fez imprecisa.

Para esse escritor, desde que existem homens no mundo, há inúmeras teorias masculinas sobre a mulher ideal. Certo. A matrona foi inventada de acordo com as idéias de propriedade dos romanos. Como a mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita, muito docilmente a mulher de César passou a comportar-se acima de qualquer suspeita. Os Dantes queriam Beatrizes castas e intocáveis, e as Beatrizes castas e intocáveis surgiram em horda. A Renascença descobriu a mulher culta, e as renascentistas moderninhas meteram a cara nos irrespiráveis alfarrábios. O romancista do século passado inventou a mulherzinha infantil, e a mulherzinha infantil veio logo pipilando.

O tipos vão sendo criados indefinidamente. Médicos produzem enfermeiras eficientes e incisivas como instrumentos. Homens de negócios produzem secretárias capazes e discretas. As prostitutas correspondem ao padrão secreto de muitos homens. Assim somos. Indiquem-nos o modelo, que o seguiremos à risca. Querem uma esposa amantíssima - seremos a esposa amantíssima. Se a moda é mulher sexy, por que não serei a mulher sexy? Cada uma de nós pode satisfazer qualquer especificação do mercado masculino.

Seremos umas bobocas? Não. Os homens são uns bobocas. O homem é que insiste em ver em cada uma de nós - não a mulher, a mulher em estado puro ou selvagem, um ser humano do sexo feminino - o diabo, a vagabunda, a lasciva, o anjo, a companheira, a simpática, a inteligente, o busto, o sexo, a perna, a esportista... Por que exige de nós todos os papéis, menos o papel de mulher? Por que não descobre, depois de tanto tempo, que somos simplesmente seres humanos carregados de eletricidade feminina?

PAULO MENDES CAMPOS