Sejam Bem Vindos - Leiam e comentem os contos - Sua opnião é muito importante.

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

FELIZ NATAL

Senhor,
quisera neste Natal
armar uma árvore dentro do meu coração
e nela pendurar,
em vez de presentes,
os nomes de todos os meus amigos.
Os amigos de longe e os de perto.
Os antigos e os mais recentes.
Os que vejo a cada dia e os que raramente encontro.
Os sempre lembrados e os que as vezes ficam esquecidos.
Os constantes e os intermitentes.
Os das horas difíceis e os das horas alegres.
Os que sem querer magoei ou, sem querer me magoaram.
Aqueles a quem conheço profundamente e aqueles que me são conhecidos apenas pelas aparências.
Os que pouco me devem e aqueles a quem muito devo.
Meus amigos humildes e meus amigos importantes.
Os nomes de todos os que já passaram pela minha vida. Uma árvore de raízes muito profundas,
para que seus nomes
nunca mais sejam arrancados do meu coração.

De ramos muito extensos,
para que novos nomes,
vindos de todas as partes,
venham juntar-se aos existentes.
De sombra muito agradável,
para que nossa amizade seja um momento de repouso,
nas lutas da vida. Que o Natal esteja vivo
em cada dia do Ano Novo que se inicia,
para que as luzes e cores da vida
estejam presentes em toda a nossa existência,
e concretizem com a ajuda de Deus,
todos os nossos desejos.
Feliz Natal!

São os votos sinceros do seu amigo,

Julio Pecly

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Hip hop do caveirão

Tem dias em que você chega em casa cansado do trabalho. Ficar o dia todo sentindo cheiro de tinta, é horrível. E a única coisa que você quer fazer, é tomar um banho, jantar e ficar assistindo um programa de bicho no Discovery chanel e não consegue. A única coisa que consegue é ouvir sua mulher reclamar.
- Essa vizinha esta de implicância comigo.
- Ela jogou todo o lixo da calçada dela na minha.
- Essa criança chorou o dia todo.
- Sexta – feira tem que pagar a prestação da casa Bahia.
Da vontade de mandar ela tomar no cu e ir beber com os amigos. A primeira vontade vai ficar só no desejo, porque desde o momento que eu tirei da casa do pai e me propus a fazer uma família ao lado dela. Sujeito homem não pode fazer isso. Ir beber com os amigos, foi o que fiz.
- Vai aonde?
Ainda consegui ouvir essa pergunta. Só que já estava saindo no portão e como ela sabia que eu não gostava que ela entrasse no bar, ela não disse mais nada. Porem quando eu voltasse, ai ouvir. Só que meu plano era voltar completamente bêbado, pegar no sono e só acordar na hora de ir para o trabalho.
Gostava de ir em diversos bares, só que o meu favorito era o bar do Rui. Pois a gente se conhecia desde moleque, estudamos junto e eu gostava de beber lá, gostava de dar essa moral pra ele. Lá também encontrava outros amigos de infância. Os assuntos eram sempre os mesmos: Futebol e mulher. Assim que cheguei, ainda pude ouvir a frase do Antonio pedreiro.
- O flamengo é o time dos favelados.
- Porque? Perguntei.
Antes de responder ele olhou pra mim. Sabia que a gente sempre que discutia sobre futebol, eu o deixava sem argumento.
- Toda vez que o flamengo joga no maracanã, tem briga.
- Mais o flamengo não joga sozinho, joga sempre com outro time. Que como o flamengo também tem torcedores que são moradores de favela.
- Eu sei, mas só que...
- Mas só que de cu é rola... todos os times tem torcidas organizadas, que na maioria são mauricinhos de classe média, que se pegam, o pobre que vai pra brigar no estádio, é o maior dos idiotas.
Pedi logo uma cerveja, depois outra e mais outra.
- Aí! Vocês viram a filha do seu Macedo. – Serginho trabalhava de segurança num mercado, esse era meu amigão do peito. Nossa esposas eram irmãs gêmeas, começamos a namorar juntos, casamos no mesmo dia e nossos filhos chegaram com uma diferença de dois meses. – Ela ta muito gostosa.
- Aquela novinha? – perguntei.
- Ela mesmo, ta gostosinha. Eu vou pegar ela. Ela da pra geral maluco. Ela ta dando molinho pra mim. Sempre que ela me vê me pede dinheiro pra comprar cigarro. Eu vou só jogando meu verde. Outro dia ela parou comigo no bar, fiquei alisando as coxas dela e dei um papo. Semana que vem a gente vai sair. Vou arrastar ela prum pulgueiro qualquer e vou meter a pica.
- essas novinhas só querem saber de piroca mesmo. Tem que botar tudo pra mamar mesmo. – Tiquinho tinha sido jogador de futebol, jogou no Madureira, olaria e times pequenos de outros estados. Hoje estava com uma barriga bem grande, de tanto tomar cerveja.
A conversa foi fluindo, quando a gente se deu conta, já passavam de meia noite e do outro lado do rio, estourou um baita de um tiroteio. Ninguém foi embora, o tiroteio era do outro lado da favela.
Depois de meia hora, o tiroteio não terminou. Quase todo mundo começou a falar do caveirão.
- Hoje o caveirão vai invadir.
- Não vai ficar ninguém na pista.
- esses filhas da puta já chegam na favela atirando.
- De pacificador essa prega não tem nada. Eles são tudo assassinos.
A discussão diminuiu quando veio um cara, um desses cachaceiros de plantão que sabe de tudo o que acontece na favela.
- o caveirão ta atravessando pro lado de cá.
As pessoas tentavam continuar do seu jeito normal. Só que a simples alusão ao nome caveirão, deixava todos apreensivos. Pois em muitas operações do bope, onde o caveirão foi solicitado, diversas vezes inocentes morreram. No fundo, no fundo, as pessoas ficavam com medo.
Não tardou quinze minutos e o caveirão entrou na rua onde ficava o bar. Foi cruzando bem devagar os cento e cinqüenta metros da rua e parou na frente do bar. Todo mundo ficou quieto, só se ouviam dois sons, o motor do caveirão e a respiração das pessoas no bar. Derrepente ouviu-se uma voz distorcida eletronicamente, vindo do equipamento de som.
- Vai pra casa bando de viciado. Se eu passar aqui de novo e o bar estiver aberto, vou largar o aço.
Em seguida ouviu-se uma risada maquiavélica, tipo de filme de terror. Uma risada que não debochava só das pessoas que estavam no bar e sim de toda uma sociedade. Depois o caveirão seguiu o seu caminho. No bar as pessoas foram indo embora uma a uma, por fim só ficou eu e o meu amigo dono do bar. Ajudei ele a botar os dois vasos de comigo ninguém pode, que ficavam do lado de fora do bar, com a função de impedir que os maus agouros entrassem. Me despedi do Rui e fui pra minha casa.
No caminho, como era de madrugada podia ouvir os tiros nitidamente, porem como já estava acostumado, só pela intensidade e direção do som, sabia onde ocorriam os disparos. Ao entrar na rua onde ficava a vila na qual eu morava, pude ver o caveirão parado e para o meu espanto, dos alto-falantes, tocava a musica wonderful, do Ja Rule. E eu não estava bêbado.

Julio Pecly

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Um Beijo

Que tivesse um blue
Isto é
Imitasse feliz
A delicadeza, a sua
Assim como um tropeço
Que mergulha surdamente
No reino expresso
Do prazer
Espio sem um ai
As evoluções do teu confronto
À minha sombra
Desde a escolha
Debruçada no menu;
Um peixe grelhado
Um namorado
Uma água sem gás
De decolagem:
Leitor ensurdecido
Talvez embebecido
"ao sucesso"
diria meu censor
"à escuta"
diria meu amor
sempre em blue
mas era um blue feliz.

Ana C.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A x –9

GÍRIA DA FAVELA: X – 9
DELATOR, ALCAGÜETE

No rádio tocava um proibidão.
”Fogo no x 9 da cabeça aos pés, pega o álcool e o isqueiro
E taca fogo mane.”
O carro, um Omega, passou a toda velocidade, eram duas horas da manha de uma sexta para sábado. Dentro do porta-malas, Amordaçada e toda amarrada, uma moça de uns vinte e três anos mais ou menos, bonita, com um corpo maravilhoso. Ela nem chorava mais, sabia que iria morrer. Maldita a hora em que havia conhecido o soldado Ferreira.
O sol estava muito quente, as areias da praia do recreio estavam queimando os pés dela. Para se aliviar, a única opção que Dayse encontrou, foi entrar na água. Desde cedo ela notara que um cara a observava, esperava que ele fizesse algum tipo de abordagem, só que ele não se aproximava. O cara era bonito, não de rosto, mas tinha um belo corpo sarado, moreno claro. Estava sozinha mesmo, o que viesse era bem vindo. Só que ele nunca se aproximava. Quando ficou com sede, foi até o trailer no calçadão beber uma água mineral, notou que o cara foi atrás dela. Ele a abordou quando ela estava no balcão.
- Posso te convidar pra tomar uma cerveja comigo.
Pensou em dar uma de durona, fingir que não gostou. Porem achou melhor não. Aceitou o convite.
Sentaram numa das mesas, se apresentaram, o nome dele era Orlando Ferreira, disse que trabalhava com compra e venda, pediu uma skol e começaram a papear. Falaram de tudo, do tempo, de filmes, da praia e até de futebol, algo que ela detestava. De uma skol passou pra outras e mais outras. Quando escureceu já tinham esvaziado mais de uma dúzia.
-To dois dias em casa, que tal darmos uma esticadinha daqui pra um lugar mais aconchegante.
- Que lugar. – Perguntou ela como se não soubesse para onde ele queria leva-la e ela tava afim de ir.
- Vamos pra um motelzinho?
- Você não acha que ainda é cedo pra isso. – tentou dar uma de difícil. Só que em seu intimo, ela estava excitadíssima, gostou do cara, queria dar para ele.
- Qual foi Dayse, nós dois somos adultos, eu quero e acho que você também quer. To certo ou to errado?
- Ta bom! Vamos então.
Os dois pegaram suas coisas e entraram no carro dele. Dayse gostou muito do carro de Orlando, um Vectra prateado novinho. Ia fazer sucesso na favela quando ela fosse vista no carro dele, as outras minas iam ficar roxas de ódio. Só que ela era ela que estaria no carro. Tinha dado azar com uns caras vacilões que havia encontrado nos últimos meses, com esse agora parece que tirou a sorte grande.
Foram para um motel de beira de estrada, ficaram lá ate depois do almoço do outro dia. Transaram a noite toda. Orlando não foi o melhor homem da vida dela, valeu a pena, principalmente quando ela lembrava do carro dele.
Passaram a se encontrar quase todos os dias. Orlando era um cara estranho, Dayse não sabia quase nada da vida dele. Tinha dia que se encontravam e ele estava tranqüilo, porem em outros dias ele estava nervoso, com os nervos literalmente a flor da pele, ela não sabia direito qual era o trabalho dele, ela só descobriu o que ele fazia por um acaso.
Dayse se encontrou no centro da cidade com uma amiga que morava no jacarezinho, ficaram o dia todo andando em busca de trabalho, por volta das quatro da tarde, sem encontrar nenhum emprego, Dayse aceitou o convite de dormir na casa dela, para voltarem no outro dia e continuar a procurar emprego. Como a amiga morava no jacarezinho, era somente pegar o metrô e já estava no centro do Rio.
Desceram na estação, mal colocaram os pés dentro da favela, ouviram os fogos.
- Tomara que não tenha tiroteio. – Comentou Adriana, sua colega.
- Aqui tem tiro, lá onde eu moro tem tiro, essa desgraça não acaba nunca.
Já estavam perto da casa de Adriana quando Dayse viu uns três camburões e policiais fortemente armados revistando algumas pessoas. Elas teriam de passar pelo meio dos policiais, como nenhuma das duas devia nada para ninguém, seguiram caminho. O que aconteceu depois, Dayse jamais imaginaria em nenhum de seus sonhos. No meio dos policiais, com um fuzil na mão, Orlando, ou melhor, cabo Ferreira. Quando ele a viu, arregalou os olhos, tentou entrar no camburão, desistiu ao notar que ela já o tinha visto. Dayse tomou um susto, segurou na mão da amiga, ficou pálida.
- O que foi Dayse? Ta passando mal?
- Não to me sentindo bem Adriana, vamos logo pra sua casa. Acho que foi aquelas coxinhas que comi.
- Viu! Te falei pra não comer aquilo, aquele bar estava muito esquisito.
No dia seguinte, Dayse não foi com a amiga procurar emprego, inventou uma desculpa qualquer e voltou pra casa. Ficou o dia todo deitada no quarto esperando um telefonema de Orlando.
Como ele pode fazer isso comigo, sabe muito bem onde eu moro, se os caras descobrem que eu to saindo com um policia, vão expulsar eu e a minha família. Agora eu to entendendo porque tinha dias que ele tava nervoso, era nos dias que a gente se encontravam após o plantão, devia ter trocado tiros ou matado alguém, tenho que terminar tudo com ele. Pensava enquanto esperava o telefonema.
As quatro e trinta e dois o telefone tocou. Em seu intimo ela já sabia quem era.
- Ta maluco, porque não me contou antes. Não podemos falar por telefone. Vamos nos encontrar no mesmo lugar de sempre.
Dayse tomou um banho e foram para o motel onde sempre se encontravam.
- Porque não me falou? - Dayse foi logo perguntando.
- Se eu te falasse, você ia querer ficar comigo ou ir embora?
- Claro que eu não ia querer nada. Eu moro numa favela.
- Gosto muito de você, vou te fazer uma pergunta se a resposta for correta, a gente vai continuar junto, se não for a resposta certa eu sumo da tua vida. Certo?
- Você me engana e ainda quer impor condições. Acho que você não tem esse direito.
- Já que você nem quer me ouvir, só me resta te dizer adeus.
Orlando já se preparava para sair quando ela o chamou. Não custava nada ouvi-lo.
- Ta legal, pode dizer.
- Você tem algum tipo de envolvimento com o trafico?
- Eu não. Simplesmente moro lá com minha mãe, porque não temos condições de ir pra outro lugar.
- Algum parente seu é envolvido com o trafico?
- já te falei que é só eu e minha mãe.
- Me ajuda então?
- Te ajudar como?- Agora ela estava sem entender nada.
- Você não quer sair da favela?
- Quero sim.
- E eu quero meter o pé da policia.
- E daí...
-E daí? E daí que podemos ganhar dinheiro juntos.
- Como?
- Você tenta descobrir onde o chefão de lá se esconde, me conta e pra ele não ir de dura vai ter que pagar uns trezentos mil.
Dayse não conseguiu dizer nada, podia esperar qualquer tipo de proposta, menos essa.
- Você quer que eu vire x9.
- Claro que não.
- Dar bandido é o que. Xisnovar.

GÍRIA DA FAVELA: XISNOVAR
ENTREGAR BANDIDO.

- Claro que você não vai ser x9, vai ser no maximo uma agente infiltrada.
-Sabe o que acontece com x9.
- Claro que sei.
- você quer que eu vá pro microondas?
- Nada disso vai acontecer, seu único contato serei eu.
- Não, não to a fim de fazer isso. – As mãos delas suavam.
- Garanto cinqüenta mil pra mim e cinqüenta mil pra você. Não me responda agora, nem hoje e nem amanhã, pense quanto tempo quiser. Vamos transar to doidinho pra fuder contigo.
Mal acabou de falar, Orlando partiu para cima dela. Ela fudeu. O tempo todo á proposta ficou em sua mente martelando.
Puta que pariu! Se eu aceito essa proposta, eu e minha mãe saímos da merda e eu posso comprar a minha Honda bis, pra ficar tirando onda.
Transaram, tomaram banho, ninguém disse nada. Não precisava, sabiam dos riscos e benefícios de tal plano. Dayse cortou o silencio.
- Como vou fazer pra descobrir as coisa.
- simples. Você conhece alguma garota que sai ou transa com o chefão de onde você mora?
- Ele tem mulher pra caramba. Conheço uma que sai com ele de vez em quando.
- Então, é ai que você entra, faz uma amizade maior com ela e fica de antena ligada.
Dayse queria falar com sua mãe sobre o que ia fazer, só que refletiu bem e achou melhor ninguém saber, só a sua vida em risco já era o bastante. O nome da amiga que saia com o chefão era Cristiane, elas haviam estudado juntas, só que com o tempo a amizade foi diminuindo, diminuindo, até que esfriou totalmente. Como ela iria se reaproximar da ex-antiga amiga?
A oportunidade surgiu quando Dayse soube que iria haver uma demonstração de alguns cremes femininos na casa de Cris, que era demonstradora. No dia anterior a demonstração, Dayse foi na casa dela. Eram umas quatro da tarde quando ele tocou a campainha. A própria Cris abriu a porta.
- Pois não?...- Cris sabia que conhecia quem bateu na porta, só não lembrava direito quem era.
- Oi! não vai ser aqui que vai haver uma demonstração?
- Vai sim.
- o que tem que fazer pra participar?
- È só vir aqui amanhã as quatro horas da tarde, vamos ter demonstração de produtos, limpeza de pele, quem quiser vai poder encomendar produtos.
- Posso vir amanhã?
- Claro que pode.
Dayse já ia se virando, quando Cris fez uma pergunta.
- Nós não já nos conhecemos?
Dayse olhou para ela e sorriu.
- Eu também estava pensando a mesma coisa. Eu acho que nos conhecemos do colégio. Tu não estudou no Brizolão lá da entrada.
- Estudei sim. - Respondeu Cris.
- Eu estudei lá. Lembra da tia Jane?
- lembro. Ela foi minha professora.
- Minha também, então nós estudamos na mesma turma.
- Tenho quase certeza disso. Vem amanhã, você faz a limpeza de pele, vê os perfumes, cremes e depois a gente conversa pra tirar essa duvida.
- Então ta bom, até amanhã então. – despediram-se com um beijo no rosto.
Que merda que eu to fazendo. Pensou Dayse.
No dia seguinte, as quatro horas da tarde, Dayse estava na casa de Cris. Alem dela, muitas outras mulheres, todas ávidas por experimentar as novidades da cosmética moderna. Dayse foi a mais participativa de todas, fez limpeza, comprou uma boa quantidade de cremes miraculosos e conquistou amizade de Cris ao ser a ultima a ir embora, ajudando a agora amiga a arrumar toda a bagunça em que ficou na casa após a demonstração.
- Se lembra daquela época em que ouve um boato da mulher loira. – Dayse com uma pá, pegava alguns pedaços de algodão.
- Claro que lembro. Eu chegava em casa me mijando, não conseguia entrar no banheiro. Que besteira! - - O que uma mulher loira poderia fazer demais?
- Depois de velha que eu fui compreender do que se tratava toda aquela situação, não era o fato dela ser loira ou não, era o fato dela ser uma alma penada.
- Era isso!- Cris ficou parada alguns segundos com uma cara de panaca.
Nesse momento, Dayse notou que ela era nada mais nada menos do que uma garota bonita e burra. Do tipo que os bandidos gostavam de meter a piroca.
- E agora voltou essa onda de boataria, ta todo mundo falando que tão raptando crianças pra tirar órgão e vender.
- Será que é verdade? – Perguntou Cris, curiosa.
- Claro que não! Como que vão tirar órgão de criança sem ser medico e alem do mais eu ouvi uma reportagem na patrulha da cidade, dizendo que nenhuma criança chegou ao IML faltando órgão. É balela. Tudo conversa fiada.
Depois que acabaram a limpeza, Cris olhou as horas.
- Caramba! Dez horas da noite! To morta, nunca mais vou fazer estas demonstrações na minha casa, se não fosse você, ia ficar limpando essa casa ate amanhã de manhã.
- Vai fazer o que amanhã Cris?
- Nada. Porque?
- Vamos pra praia.
Cris pensou alguns segundos antes de responder.
- Vamos sim. Que horas?
- Vamos sair daqui as nove. Tá bom pra você?
- Legal. Então passo aqui as nove.
As nove horas em ponto, Dayse bateu na porta da “amiga”.
- E aí, pronta pra ir? Perguntou Dayse.
As duas passaram o dia todo na praia do recreio, voltaram para a favela as quatro horas da tarde, estavam bronzeadissimas. As duas eram mulheres bonitas, Dayse estava com vinte e três anos, era uma mulata bem queimada de sol, seus cabelos eram bem lisos, pernas grossas, bem torneadas, seus seios eram pequenos, já sua bunda, era grande, bunda de tanajura. Cris também era uma mulher bonita, só que era magra, uma falsa magra, era daquelas mulheres que não pareciam ser gostosas, mais eram, seus cabelos eram louros e tinha belos olhos azuis, em suma, eram duas belas mulheres, que chamavam a atenção dos homens onde quer que fossem.
Quando chegaram na casa de Cris, ela fez um convite.
- Vem cá pra casa hoje a noite Dayse, a gente, aluga um dvd, ficamos vendo o filme, a base de pipoca e guaraná? Que tal?
- Poxa, não vai dar, tenho que ir na casa da minha tia, jantar de aniversario dela, toda a família tem que ir, sabe como é essas reuniões.
- Que coisa chata, aquele monte de velhinho, vão começar a lembrar de quando você era criança, uma chatura.
- Vamos marcar pra amanhã. – sugeriu Dayse.
- Amanhã não da, vou sair com uma pessoa.
- Com quem?
- Segredo. É com o meu amorzinho.
- Que amorzinho é este?
- Segredo de estado.
- me conta quem é.
-Segredo!
As oito da noite, Dayse já tinha transado com Orlando, tomado banho e ambos estavam deitados na cama, conversando.
- Será que esse amorzinho que ela se refere é quem você pensa que é. - Orlando queria ter certeza para botar o plano a frente.
- Pelo o que eu já ouvi dizer, ela sai com o Formiga, e já faz um bom tempo.
- Ela a mina de fé dele?

GÍRIA DA FAVELA: MINA DE FÉ
ESPOSA, MULHER OFICIAL

- Não, ela é amante dele, só que a muito tempo, ele trata ela quase como a de fé.
Depois de ter se encontrado com Orlando, Dayse foi pra casa. Tinha que inventar uma maneira que furar o bloqueio que existia entre ela e Cris, tinha que fazer ela falar, se abrir, só desse jeito saberia de antecedência onde Formiga ia passar a noite. A dificuldade era fazer Cris confiar nela.
Alguns dia depois, Dayse encontrou Cris na rua. Cris estava com uma bolsa muito pesada, Dayse pegou um lado da bolsa e foi até a casa de Cris. Quando deixaram a bolsa no chão da sala, Dayse reclamou.
- caramba que bolsa pesada é essa?
- sabe meu amorzinho, ele esta montando um salão pra mim, eu nem sabia, sabe naquela vez que você me chamou para sair e eu disse que ia encontrar com ele, então a gente se encontrou e depois ele disse que ia abrir um salão pra mim, ele até já alugou a loja, to comprando as coisas para abrir o salão. – Cris olhou para Dayse. – você já trabalhou em salão?
- já mais eu não sei fazer cabelo, eu faço unha.
Cris sorriu.
- então que tal trabalhar comigo no salão?
- poxa vai ser ótimo, por dois motivos, primeiro que eu estou desempregada e segundo que vou trabalhar perto de casa. Onde fica a loja?
- a loja fica lá perto da praça.
Nos três dias seguintes, as duas trabalham que nem louca para inaugurar o salão, fazendo compras, esperando os caminhões de entrega e no sábado, finalmente conseguiram abrir o salão. E o salão bombou, pois as mulheres dos outros traficantes, foram quase todas ao salão. Já eram quase sete horas da noite, quando um grupo de traficantes armados chegaram na porta do salão e pararam, cercado por cerca de dez traficantes, Formiga armado até os dentes, com um fuzil, uma pistola e uma granada entrou no salão enquanto os outros homens ficaram em pontos estratégicos para dar proteção a Formiga. Ele foi o único que entrou no salão. Olhou para as instalações, olhou para as pessoas que estavam sendo atendidas por Cris, Dayse e Cidinho um gay amigo de Cris, que cortava cabelo muito bem.
- Legal esse salão, ta bem bonito. Gostou Cris?
- se gostei!? Eu adorei!
Formiga se aproximou dela e deu-lhe um beijo na boca, um tapinha na bunda e foi embora. Não sem antes dar um olhar insinuante para Dayse, que apenas fingiu dar uma risadinha tímida. Nesse momento ela soube que Formiga ia tentar de algum modo sair com ela. Foram embora todos os traficantes, continuaram sua ronda favela a dentro.
- ainda bem que ele gostou.
- esse aí que é seu amorzinho? – perguntou Dayse, fingindo não saber.
- é ele mesmo.
- você não tem medo de se meter com essa gente?
- medo eu tenho sim, mas ele é muito legal, me banca, me da do bom e do melhor e a gente nunca fica na favela, a gente se encontra sempre fora. Ele diz que eu sou especial.
- e você acredita?
- que diferença isso faz. Vamos voltar para o trabalho.
Menos de quarenta e oito horas depois, a intuição de Dayse se confirmou. Ela estava indo para casa almoçar quando foi parada por um moleque.
- Aí o patrão quer falar contigo.
- comigo? – fingiu-se de desentendida.
- com você mesmo. Vou te levar onde ele está.
Caminharam cerca de duzentos metros e entraram numa casa de dois andares, muito bonita. Dayse pensou que ia encontrar na casa um monte de homens armados, um monte de drogas espalhadas pelo chão, pelo contrario, encontrou uma casa normal, onde crianças brincavam no quintal tomando banho numa piscina de plástico, uma mulher estendia roupas, ninguém deu a mínima para ela. Entrou na casa e sentado no sofá, sem camisa, vendo um desenho animado, Formiga e mais um cara que estava numa poltrona sentado. O moleque que a levou lá se aproximou do outro homem e recebeu dez reais. Formiga desligou a televisão e pediu que outro homem se retirasse da sala e fechasse a porta. Depois ele se levantou, colocou a camisa e foi na direção dela. Dayse observou bem Formiga, ele não era feio e nem bonito, era um cara baixo, porem forte e atarracado. Muito branco, sabia que teria de transar com ele, faria isso somente porque queria muito o dinheiro, pois se fosse em outra situação ele jamais conseguiria leva-la para a cama, não fazia o tipo dela.
- me desculpe ter pedido que você viesse aqui onde eu estou escondido, mas aqui é a casa de uma amiga de minha mãe e é tranqüilidade. Olha só eu sou um cara que vou direto ao assunto. Nunca tinha visto você com a Cris e te achei muito bonita, tava a fim de sair com você. Pode ter certeza que você não vai se arrepender de sair comigo.
Cris olhou serio para ele.
- e a Cris?
- o que tem a Cris?
- se ela descobrir?
- se ela descobrir não vai poder fazer nada, não sou marido dela nem nada, mas é claro que a gente não vai querer que ela saiba. Ou vamos?
- claro que não!
- então é essa parada! Vamos sair hoje a noite, se arruma e lá para as oito da noite um amigo meu vai buzinar na porta da sua casa e vai te levar até onde eu estou.
- ta bom. Vou estar esperando.
Dayse saiu da casa sorrindo. Tudo vai dar certo. Pensou.
As oito da noite em ponto, ouviu uma buzinada na porta de casa, saiu sem ao menos se despedir da mãe. Quando abriu o portão, um táxi estava esperando por ela. O motorista abriu a porta e ela entrou no carro. Foram para um shoping na barra da tijuca. Encontrou Formiga na praça de alimentação. Ele que se aproximou dela, porque se ele não fosse ao encontro dela, ela talvez não o reconhecesse, ele estava bem vestido, barba bem feita, estava totalmente diferente do bandido que andava armado na favela.
- nem te reconheci! – disse ela sorrindo.
- aqui eu não sou o Formiga, aqui eu sou apenas o Joel Luiz.
O motorista do táxi se despediu de Formiga, dizendo que estava no estacionamento, no mesmo lugar de sempre.
- vamos jantar primeiro, depois a gente vê um filme e vamos para um lugar mais legal, onde a gente possa ficar a sós.
Foram para um dos restaurantes mais caros do shopping, Formiga disse que de vez em quando tinha que fazer esse tipo de programa, pois só assim ele podia esquecer os problemas relacionados a sua profissão e que ali ninguem iria desconfiar de quem era ele e do que ele fazia. Disse que gostava também de jantar nesse restaurante, pois tinha de variar, as vezes ficava cansado de comer as quentinhas das pensões da favela. Dayse sabia que ele estava tentando impressiona-la. Só que ela não queria saber de nada disso, se era pra dormir com ele, que fosse logo. Mas o que interessava mesmo para ela, era saber com antecedência onde ele iria dormir e isso significava ter de dormir com ele algumas vezes para que ele adquira confiança nela. Perguntar onde ele vai dormir, ela nunca poderá perguntar, pois se ele disser e ela vender a informação, ele vai saber que foi ela, tem de ouvir sem que eles saibam. Depois de jantarem, foram para o cinema, assistiram uma comedia, depois eles compraram algumas coisas e foram para o motel.
Na cama Formiga foi um verdadeiro fracasso, alem de foder mal, ter ejaculação precoce, ainda tinha o pau pequeno. Com certeza, foi a pior foda da vida de Dayse e o pior de tudo, ainda era ter que fingir que estava gozando, que estava adorando transar com Formiga. Depois de duas fodinhas mal dada, ele pegou no sono. Chateada ela adormeceu cerca de duas horas depois. Quando acordou as sete e meia, Formiga já não estava mais no motel, em cima do criado mudo, ela encontrou um bilhete. “ tive um problema la na favela, tive que voltar na madruga, como você dormia igual um anjo, não quis te acordar, pode ficar no motel até a hora que você quiser, já esta tudo acertado, vou te deixar meu telefone, qualquer coisa me liga.” Dayse pensou em chamar Orlando para ficar com ela no motel, pensou melhor e achou mais prudente não, pois se algum funcionário do motel visse e falasse com Formiga, ele estaria ferrada. Voltou a dormir, acordou as onze horas e foi embora para casa.
Quando contou para Orlando que já fizera contato com Formiga, ele ficou muito alegre. Ela pensou que ele fosse implicar pelo fato dela ter transado com Formiga. Ele disse que fazia parte, mas ele sabia que o coração dela pertencia a ele. Mandou ela ficar de olho e assim que soubesse de algo, o avisasse. Que ele iria na mesma hora pegar a viatura e prender o filha da puta.
A oportunidade surgiu cerca de três meses depois que Dayse tinha começado a sair com Formiga. Era uma segunda-feira, ia dar duas da tarde, Formiga mandou um motoqueiro buscar ela em casa e leva-la para o esconderijo onde ele estava passando o dia, ali eles almoçaram e transaram. Ela ficou com ele até as seis da tarde, estava indo embora quando ouviu a seguinte conversa.
- aí patrão, se liga! Sabe aquela cachanga la da rua 12, lombrou o bagulho lá e a casa caiu. Não vai dar pra dormir la não. – disse um dos seguranças dele.
- caralho! La é tranqüilo! Mas se ficou pichada fudeu! Então é o seguinte, vamos ficar por aqui mesmo. Vamos sair e depois só nós dois voltamos pra ca.
Depois de ouvir tudo, Dayse saiu do banheiro e se despediu de Formiga.
- to indo hein! Fazer janta pra minha mãe.
- pra que fazer janta, toma um dinheiro aqui e liga para um restaurante e pede comida pra vocês duas. – Formiga meteu a mão no bolso e deu cem reais para ela.
Dayse pegou um moto táxi e foi para casa, direto para seu quarto, ligou para Orlando e contou tudo. Depois perguntou se eles iam matar alguém.
- Não posso te prometer isso! Se atirarem na gente, vamos ter que atirar de volta.
Depois do telefonema de Dayse, Orlando ligou para dois outros policiais e marcaram tudo para seis horas da manha do dia seguinte. Eles iriam num carro da policia, porem essa batida não era legitima, eles estavam indo por conta própria e por esse motivo nada podia dar errado, eles estariam por sua conta e risco, não poderiam pedir apoio de mais ninguem, pois se pedissem ajuda teriam de dividir dinheiro com os policiais que fossem até a favela dar cobertura para eles, pois o silencio de muitas pessoas custa muito caro. Apesar de ser ilegal, a abordagem foi bem sucedida, pegaram Formiga dormindo, não foi disparado um único tiro, ninguem se feriu. Levaram Formiga para um terreno baldio.
- Não queremos te prender, não queremos te matar, só queremos dinheiro para não te levar de dura, pois se você for preso sabe que no mínimo vai pegar uns vinte anos. – explicou Orlando.
- ta tranqüilo! To ligado que eu perdi, mas depois vamos conversar, vocês vão me vender o x-9.
- essa parada, primeiro queremos trezentos mil agora, depois a gente conversa. – os olhos de Orlando brilharam perante a possibilidade de ganhar mais dinheiro.
Formiga ligou para seu advogado, mandou ele trazer quatrocentos mil reais, trezentos mil pela liberdade e mais cem mil pelo x-9. ficaram cerca de duas horas no meio do mato aguardando o advogado chegar com o dinheiro. O advogado abriu a maleta, Orlando e os comparsas contaram o dinheiro, tiraram as algemas de Formiga, ele entrou no carro do advogado, antes de sair Formiga falou com Orlando.
- quem me xisnovou?
- tua nova namorada. – respondeu Orlando sem a menor culpa.
O porta mala foi aberto e Dayse foi retirada violentamente de dentro do porta mala. Estavam num terreno abandonado, numa localidade um pouco afastada das ultimas casas da favela, todos que iam para lá amarrados, não voltavam, ali era conhecido como microondas. Alem de Formiga, mais um dez traficantes armados até os dentes.
- ninguem bate nela. – ordenou Formiga. – porra porque você fez isso, não precisavaera só me dizer o que você queria que eu te dava, teu amiguinho me disse que era você, eu não acreditei. Aí quando vi você com uma moto novinha desfilando pela favela, tive certeza que foi você, eu poderia te dar mais de dez motos. Ela é toda de vocês.
- não me mata não, me perdoa!
- X9 não tem perdão, é microondas e ainda mais mulher, vai ter que dar pra todo mundo antes de morrer.
Depois da ordem de Formiga, alguns dos bandidos, cerca de sete deles, partiram para cima de Dayse, rasgaram suas roupas e ela começou a ser estuprada. Foi estuprada de todas as maneiras possíveis, depois tomou uma surra de madeira, onde quebraram suas pernas, braços, cabeça e antes de desmair colocaram um monte de pneus velhos em cima dela, jogaram gasolina e atearam fogo.
Nunca encontraram seu corpo.


Julio Pecly

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

VIA SEDEX

Pedro e Bruno se conheceram num final de tarde, dentro do banheiro de um cinema pornô, no centro do Rio de janeiro. Cinemas como aquele são comuns nas grandes cidades, seus freqüentadores são pessoas de todas as clases sociais, homens de negócio, estudantes, garotos de programa, travestis, uns poucos casais de namorados, homossexuais convictos, outros nem tanto, todos entretanto com um único objetivo em comum, sexo. O que está sendo exibido na tela, muitas vezes é o que menos importa, já que a diversão maior acontece mesmo é na platéia, ou nos banheiros.
Bruno era casado, pai de quatro filhos, empresário bem sucedido, um tipo atraente sem ser bonito, branco, seus metro e setenta de altura, magro, beirando os quarenta e entrou naquela sala de projeção atraído pelo anúncio de “DOIS FILMES PORNÔS TODOS OS DIAS”. Bruno ficou curioso, tivera um dia tenso e queria relaxar, conhecer algo novo, diferente, não estava necessáriamente em busca de aventura, mas instigado pela curiosidade masculina, resolveu entrar e logo percebeu que a imensa maioria das pessoas ali presentes eram do sexo masculino também. Uma vez lá dentro, Bruno se dirigiu ao banheiro, estava nervoso e queria mijar, sentia uma sensação adolescente, que há muito não sentia, estava transgredindo a ordem da pacata e previsível vida que levava, da casa para o trabalho, do trabalho para casa, as vezes uma pizzaria com a mulher e os filhos, futebol no final de semana com os amigos, ver o Fluminense jogar no maracanã de vez em quando, e uma ou duas vezes por semana, fazer amor com a patroa, com quem era casado há mais de quinze anos.
Assim que entrou naquele banheiro mal iluminado, Bruno percebeu uma movimentação estranha, lenta, esfumaçada. Vários homens em atitude suspeita, desconfiada, se revezavam nos mictórios e nos dois únicos reservados do lugar. Bruno esperou que um dos reservados desocupasse e quando dois rapazes saíram lá de dentro, ele entrou e mijou, quando saiu deu de cara com Pedro, um moço que aparentava seus trinta anos, moreno, corpo atlético, um pouco mais baixo que ele, e que estava plantado na porta entreaberta do reservado, observando Bruno se aliviar. Os dois se encararam rapidamente e Pedro entrou, deixando a porta também entreaberta. Bruno não conseguiu sair daquele banheiro de imediato, estava preso por uma estranha excitação que nunca sentira antes e ficou ali, em pé, diante da porta entreaberta aonde podia ver o corpo de Pedro na penumbra, olhando para ele, com o pau pra fora, como se estivesse mijando. Bruno começou a suar frio, tremia da cabeça aos pés e tinha a boca seca, seu o coração batia num ritmo acelerado, foi quando percebeu que Pedro estava excitado, o pau duro, e fazia sinal com a cabeça para que Bruno entrasse naquele pequeno quartinho.
Sem racionar, sem saber porque, num ímpeto, Bruno entrou e assim que estava lá dentro Pedro fechou a porta e a trancou por dentro, em seguida, abriu a braguilha da calça de Bruno, que já estava excitado, e tirou o pau dele pra fora, começando a masturba-lo lenta e suavemente, depois se abaixou e engoliu aquele pau branco rosado, marmóreo, com boca gulosa. Bruno se esqueceu do mundo por uns segundos, estava tonto, deliciado, nunca ninguém o havia chupado daquele jeito. Quando já estava quase gozando, Pedro se levantou e segurou o pau de Bruno com força, impedindo que o gozo saísse, depois tentou beija-lo na boca. Bruno afastou o rosto. Pedro então colou Bruno contra a porta e sussurrou dentro do seu ouvido:
- Meu nome é Pedro, gostei de você, vamos sair daqui, eu moro aqui perto, moro sozinho e vou fazer você gozar como você nunca gozou na vida.
Bruno estava cego de tesão, um tesão animal, tinha vontade de gritar, de bater naquele cara que o imprensava contra a porta do reservado escuro. Ele sentia o corpo de Pedro colado ao seu, quente, transpirando, o pau do outro latejando nas suas pernas, por sobre as calças frouxas, a respiração do outro ofegante no seu pescoço. Ele disse não com a cabeça, a voz lhe faltava, mas Pedro o apertou ainda mais forte contra a porta, com uma mão segurava firme o seu pau enquanto que com a outra pegou a mão de Bruno e levou até ao pau dele. Bruno não resistiu e sentiu o pau macio e rijo de Pedro latejando em sua mão. Todo homem é um heterossexual convicto até o dia em que ele pega no pau de outro homem.
Pedro era um jornalista desempregado, que vivia de pequenos bicos em agencias de publicidade sem expressão ou escrevendo artigos para jornais independentes. Ele Morava sozinho num apartamento conjugado, alugado num prédio antigo, em um bairro próximo ao centro da cidade. Os dois saíram do cinema para o apartamento de Pedro que cumprira o que prometera, fizera Bruno gozar como nunca havia gozado antes. De todas as formas de amar eles se amaram e os encontros foram se repetindo sucessivamante, sempre no apartamento de Pedro, pois era mais seguro para Bruno, longe do bairro em que ele morava e também longe da sua empresa. A única condição que Bruno impusera ao seu amante é que ele nunca daria ao Pedro, nem telefone, nem endereço, pois queria manter o seu casamento e a sua família a salvo daquela loucura. Apenas o Bruno procurava o Pedro, apenas o Bruno ligava para o Pedro, e aparecia quando queria e podia. Pedro aceitou o jogo, pois Bruno o ajudava nas despesas da casa, pagava as contas, fazia o mercado, enchia Pedro de presentes e Pedro, foi se acostumando àquelas comodidades que o seu amante lhe proporcionava.
Tudo na vida é secreto, mas até o segredo mais fundo, mais cedo ou mais tarde sempre é descoberto. Bruno estava totalmente transtornado com a nova vida, relaxou nas precauções, excedeu horários, que passaram a ser cada vez mais confusos. Sua mulher acostumada à boa vida que o marido lhe dava, passou a ficar desconfiada. Por várias vezes não encontrava o marido no escritório em horário de expediente, ele chegava sempre muito tarde. Era uma amante, ela não tinha dúvidas. Encostou o marido na parede. Ele negou, mas as suas desculpas não convenciam. Ele não procurava mais a mulher e ela agora já estava convicta de que o marido tinha outra. Silenciosamente passou a seguir os passos do marido por conta própria, tinha tempo de sobra para isso. Ela não queria perder o status que aquele casamento lhe dava para outra e apertou a vigilância, controlando horários, as ligações telefônica, checando a memória do celular do marido religiosamente. Nada. Nenhuma pista concreta para aquela mudança radical no comportamento do esposo. Passou então a seguir os passos dele ainda mais de perto. Ele saía, ela dava um tempo, pegava o carro e saía atrás. Dava horas de plantão na esquina da rua da empresa da família, esperando que ele saísse e seguia atrás, sem que ele percebesse que estava sendo seguido.
Finalmente ela chegou ao endereço que ele repetia todos os dias sem falta, inclusive aos sábados quando ele dizia que ia jogar futebol com os amigos, inclusive aos domingos, quando ele dizia que ia ao maracanã ver o Fluminense jogar e era dia de Flamengo e Vasco. Todos os dias ele ia ao mesmo endereço, um prédio antigo, num bairro próximo ao centro da cidade.
De repente Bruno sumiu. Não ligava mais, não aparecia mais e como Pedro não tinha nem telefone nem endereço do amante, ficou a ver navios. Passaram três, quatros dias e nada, Bruno sumira sem deixar rastro. Não tinha havido nehuma briga, nenhum desentendimento, nada, tudo estava indo normalmente bem, sem conflito e sempre com muito prazer para os dois. Pedro estava pirado, procurava e não encontrava uma razão lógica para o sumiço do seu amante.
Passado uma semana do desaparecimento de Bruno, Pedro chega à portaria do prédio onde morava e o porteiro lhe entrega uma caixa do sedex endereçada a ele, Pedro de tal. No remetente, um nome que ele desconhecia, Maria de tal. Pedro recebe a caixa e sobe até o seu apartamento, curioso por saber o que ela continha. Ao chegar em casa Pedro começa a abrir a caixa cuidadosamente e logo sente um cheiro forte de formol. Dentro da caixa um vidro de maionese envolvido num papel branco e colado ao vidro, um bilhete escrito com letra bem desenhada, provavelmente de mulher, que dizia: “ELE LHE DEU PRAZER E ME DEU QUATRO FILHOS LINDOS. AGORA ELE NÃO TEM MAIS SERVENTIA NEM PARA VOCÊ NEM PARA MIM”. O coração de Pedro gelou. Aos poucos ele foi descolando o papel grudado ao vidro de maionese e descobrindo o seu escabroso conteúdo. Era o pau de Bruno, cortado com saco e tudo, embebido em formol e enviado para Pedro, num vidro de maionese, via sedex, provavelmente pela viúva do seu ex-amante.

Ricco Duarte

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O bêbado que tomou um pau

Começou a tomar cachaça as duas horas da tarde, ganhou dinheiro capinando o quintal de uma senhora de idade que morava sozinha e não tinha ninguém para ajuda-la. Ganhou trinta reais, foi direto para o bar do Toinho.
- Qual foi toinho! Bota aquela mineira ai pra mim! Dois dedos, um bem separado do outro. – Todos no boteco riram
Toinho encheu o copo, Zeca tomou de uma talagada só. Desceu queimando, só que a goela dele já estava acostumada, afinal de contas, tomava cachaça desde os oito anos de idade. A segunda ele tomou mais devagar, em duas talagadas.
Da de minas passou, para a boa idéia, depois para que é da roça mesmo, depois dessas, não importava mais a marca, tomava qualquer uma. A noite foi caindo, Zeca não tinha mais noção de horas. Sentiu uma vontade danada de urinar, levantou quase caindo e foi ao banheiro, chegou lá e se aliviou, chegou a suspirar, tamanho o alivio que sentiu. Quando foi fecha as calças, notou que ela estava fechada. Havia urinado nas calças.
Assim que saiu do banheiro, Toinho ao vê-lo todo mijado, balançou a cabeça negativamente.
Merda, esse bêbado filha da puta mijou meu chão todo, tenho que limpar logo, mijo de bêbado é a coisa mais fedorenta do mundo. Pensou o dono do bar. Antes de pegar um balde de água e o cloro, Zeca pediu mais um copo. Toinho serviu. Teve uma vontade de dar cloro para o cachaceiro, quem sabe assim seu mijo iria feder menos. Serviu e foi limpar a imundície.
Toinho tinha de servir quanta bebida Zeca quisesse, pois ele sempre o pagou em dia, nunca ficou devendo. Na favela Zeca era considerado, pois bebia, mas sempre estava pronto pra trabalhar, capinava, limpava esgoto, desentupia fossa, arrumava telhado, tudo por um precinho bem pequeno, uma quentinha e mais um trocado para tomar uma cachaça.
Ninguém ao certo sabia porque ele bebia tanto, ao ponto de estar se auto destruindo aos poucos. Quem o conhecia a muito tempo, dizia que ele fora militar do exercito e que começara a beber quando foi abandonado pela noiva um dia antes de casar. Diziam também que ele começara a beber após um desastre de carro ter matado toda a sua família. Diziam que ele, a mulher e as duas filhas pequenas vinham de um churrasco em Caxias, na casa de um parente da mulher. Zeca tinha bebido em demasia, como dirigia bêbado, estava sem reflexo e ao tentar ultrapassar um ônibus, caiu numa ribanceira, somente ele sobreviveu. Daí caiu no alcoolismo, como não tinha coragem de se matar de uma vez, matava-se aos poucos. Fosse qual fosse a causa de seu alcoolismo, Zeca levava uma vida difícil, não era sempre que tinha comida, as vezes passava ate três dias sem comer, se tivesse de escolher entre a comida e a cachaça, ficava com a segunda. As vezes chegava em casa bêbado e ia dormir, acordava de madrugada sóbrio, ficava na cama pensando.
Que vida desgraçada, porque não me leva logo daqui deste inferno meu Deus, ou o diabo, sei lá, um dos dois. Não tenho motivo pra viver, to cansado. Não tenho amigos, não tenho minha família. Queria ter coragem de me jogar debaixo de um ônibus, só que sou frouxo demais pra fazer isso. Tenho que me matar aos poucos nesta maldita cachaça. Chorava só na sua casa suja, fedendo a urina e a sexo solitário. Para voltar a dormir tinha que tomar uma dose da que ficava estrategicamente escondida debaixo de sua cama cheia de percevejo.
Saiu do bar por volta das três da madrugada, so foi embora porque o dono tinha de fechar, se não ele ficaria por la mesmo. Foi embora tropeçando, costurando a rua. Estava ainda no meio do caminho quando sentiu novamente uma vontade louca de mijar. Nem sabia onde estava.
Agora vou abrir minhas calças pra não me mijar de novo. Encostou num muro e abriu as calças, que desceram, deixando sua bunda de fora. Tentou puxar as calças e continuar urinando, não conseguiu. Ficou ali mijando com as calças arriadas. Quando ia embora se virou para a rua, com as calças arriadas, com o pênis de fora. Deu azar, estava de frente para a boca. Que só tinha menor neurótico.

GÍRIA DA FAVELA: MENOR NEURÓTICO
MENORES DE IDADE QUE ESTÃO NA BOCA E NÃO TEM MEDO DE MORRER, NEM DE MATAR, QUE GOSTAM DE BATER OU MATAR QUEM VACILA.

- Olha só – Apontou um dos moleques. – o coroa ta mostrando a pica pras pessoas.
Só que ele esqueceu foi de dizer que naquela hora da madrugada, só tinha na rua, bêbados, piranhas, viciados e traficantes. Todos os moleques se viraram na direção de Zeca, pegaram paus e foram na direção de Zeca.
- Qual foi cascudo, ta mostrando a pica pros outros. - Disse um dos moleques.
Zeca tentou dizer algo em sua defesa, não teve tempo, os moleques partiram pra cima dele e começaram a dar porradas, pauladas, chutes.
Cinco minutos depois Zeca estava no chão, todo machucado, uma fratura exposta na perna, traumatismo craniano, deslocamento de alguns órgãos internos. Ficou ali desmaiado ate quando passou uma Kombi, seus próprios algozes a pararam e mandaram o motorista leva-lo para o pronto socorro.
Zeca ficou internado cinco meses, teve alta .
Bebeu cachaça até morrer dois anos depois.

Julio Pecly

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O espectador

Densa fora aquela noite de lua cheia, daquele outono remoto. Na imensidão do céu, o vazio escuro da abóbada celeste, nenhuma estrela pontilhada ousara romper o véu de treva, apenas o vulto selênico se revelara misterioso e como a aranha, se ocultara em teias tempestuosas. Incomum fora aquela tormenta de raios fulgentes quebrantando no horizonte. O urro do trovão se ouvira cada vez mais próximo, o som do martelo celeste tremeluzira minha bebida, que me confortara no acampamento em noites gélidas.
Da minha altivez, eu admirara meus domínios, mero pântano no limiar da civilização, que com bravura e labor transmutaria em viçosa terra. Meus homens me seguiram e juntos, realizara meu sonho, tornara-me meu próprio senhor. Nós erguêramos uma capela e celebráramos culto, sem um sacerdote eu mesmo rezara o que sabia de cor. Construíramos palhoças, dormíramos ao relento, até que o rio fora desviado e o charco drenado. Com determinação, de maneira mágica o torreão fora erguido, em um tempo que se julgara impossível na época.
Anos se passaram e as palhoças viraram casas. A vida florescia como fungos no inverno. O terreno úmido não nos deixava esquecer de aquela era uma região inóspita mantida a muito custo pelos esforços de todos: homens, mulheres, crianças e animais. Bestas monstruosas eventualmente emergiam das matas e com fúria irracional ameaçavam nossa tranqüilidade. Apesar do aço fazer o sangue das feras se espalhar pelos ermos e sofrermos poucas baixas, a fama de local hostil se espalhava pela região, o que tornava rara a vinda de mercadores. Em poucos anos, quando percebi, nosso lar era reduto de exploradores: aventureiros ávidos por fama e fortuna, que diziam existir nas profundezas da floresta que nos cercava.
Cansado e sem nenhum homem de fé para me confortar, não me sentia feliz com o meu legado. Nossa cidade se degenerava como fruta madura ao sol. Homem indignos se ocultavam em quartos alugados. Criminosos perigosos, escravos fugidos, viajantes de lugares remotos eram agora necessários para nossa existência, pois deles vinham as notícias de um mundo exterior – cada vez mais estranho para nós – e junto, o vil metal, que pelas taxas que eu cobrava, abasteciam o tesouro. As mulheres ofereciam os corpos aos visitantes, umas por dinheiro, outras por insumos, algumas apenas por raiva dos maridos. Ante a pobreza, muitos dos homens não relutavam em oferecerem as próprias mulheres e filhas para os viajantes, que se lambuzavam com aquele banquete farto e barato.
Ante o assombro que acometia a cidade, decidi, por bem, proibir o comércio das mulheres, muitos homens já estavam se tornando muito poderosos e influentes. Passavam a atrair seguidores e soldados. Dos três homens que controlavam o comércio de mulheres, ordenei a morte de dois, por enforcamento. Deixei apenas a mim mesmo com vida. Tomei as rédeas da cidade e após anos de passividade agi como um senhor, impondo a minha vontade aos servos para o bem de todos.
Entreguei a cabeça de um conspirador do ducado vizinho que se refugiava nas minhas vilas. Recebi soma considerável em ouro pelo favor prestado. Todos os demais facínoras foragidos se sentiram encurralados em um mortal beco sem saída. Impondo o meu terror, os marginais se tornaram submissos e manipuláveis. Quando um grupo deles me trouxe a cabeça do duque, ao qual eu tinha entregue o conspirador, os homens vis se sentiram vingados e perceberam a minha real intenção. Agora eles me eram fiéis. Com o controle dos homens parti – como há décadas não fazia – para a negra floresta, que nos assolava desde de nossa fundação. Um a um os covis desprevenidos dos monstros eram esmagados, ante minhas palavra de poder e aos ataques dos meus lacaios. Os monstros logo entenderam que o medo me consumiu, mas eu não sucumbi, me tornei terror, vingador inquebrantável.
Sem reféns, nem sobreviventes, deixava os meus rastros. As criaturas matavam porque se alegravam, matavam porque se alimentavam, eu não tinha porquês. Este erro inicial fomentou aos monstros uma união rara contra mim e marcharam sobre minha terra. Contudo, tal retaliação me foi útil. Os monstros não sabiam a diferença entre nós humanos e por muitas vezes atacaram os exércitos do filho do duque, que buscava vingança pela minha loucura. Ele julgava que eu controlava os monstros, que atacavam-lhe as tropas e por medo de um destino pior, recuou na vendeta. Me foram enviados mensageiros de paz, mas não tive como fazer sensata escolha. Os exércitos do ducado e as hordas de monstros se enfrentavam ferozmente e a minha posição defensiva me dava vantagem, podia batalhar de modo ambíguo e manter minha cidade de pé. Com esta inesperada proposta de trégua, não poderia mais manter meu estratagema dúbio. Matei um dos mensageiros dele e nada disse ao que retornou. Me restou aguardar as conseqüências de minha inconseqüência.
Os dias se seguiam apreensivos. As tropas do ducado recuavam, até sumirem das minhas fronteiras. Soube que o jovem duque temente, não atacaria. Supus que ele esperava um contra-golpe e ficou defensivo, na segurança do próprio castelo. Superestimei um fraco infante. Já os monstros, ocultos nas florestas, sentiram o cheiro do meu enfraquecimento e organizaram o confronto derradeiro.
Protegidos pelos muros, vi os facínoras atearem fogo nas plantações. Logo depois, contaminaram o nosso suprimento de água com cadáveres doentes. Eles sombriamente esperavam nosso perecimento, e para nosso infortúnio, também lançavam ataques contra as nossas muralhas. Antes que derrubassem nossas defesas e ateassem fogo na minha cidade, organizei os melhores batalhadores e saímos do cerco para uma batalha campal ao sol do verão. Lutamos com destemor e infligimos sofrimento ao confiante inimigo. Antes do cair da noite, fui ferido entre algumas formulações antigas, o ferimento foi profundo e grave. Levado para o torreão, não vi o desfecho da batalha. Na minha agonia só pensava em ficar na minha cidade, que com tanto amor e labor a qualquer preço defendi, por tantos anos. Na minha dor profunda e amargura, desfaleci em torpor.
Ao acordar, vi sombras na noite clara de verão adentrando a porta violada. As grotescas criaturas, com clavas e lanças ocupavam o meu quarto. Se aproximaram do meu corpo e golpearam com desprezo, riam sarcásticas do meu estado putrefato. Fui mero espectador da cena, vendo meu corpo ser lentamente mutilado e o sangue negro esvaindo-se das minhas chagas. Só então percebi que contemplava externamente aquele cenário e via meu próprio rosto cadavérico e sujo, maltratado pelas feras. Minha consciência flutuava etérea próxima do meu corpo mutilado. Emiti um lamento inominável, ante o meu crepúsculo.
Abro os olhos e vejo os monstros me fitarem com pavor. Um súbito e seco golpe de maça sobre minha caixa torácica fez pus jorrar na assustada criatura. Levantei-me do meu leito, e olhei as minhas cadavéricas mãos. Observei a sala com cuidado, vendo os brutamontes vacilantes. Senti fome, mas não por comida, fome por algo abstrato, fome insubstancial. Minhas mãos se lançaram sobre um dos inimigos e esganei a musculosa criatura, meus dedos secavam a pele rugosa do pescoço do monstro que grunhiu em desespero. Quando o lancei ao chão, estava seco como as folhas de verão.
Me senti mais forte e ágil, os outros contendores, que tomados pela ira, lançavam-se sobre mim em vão. Minhas mãos lentamente rasgava a pele frágil deles, produzindo em mim sensações de prazer e neles incômodos ferimentos, dando-lhes falsas esperanças de vitória. Decidido a acabar com a batalha, da minha palma projetei raios. O som do trovão ecoou a torre , um súbito silêncio se seguiu. Ao lado dos corpos dos monstros, vi meu velho corpo destroçado, que por um instante , achei ter se levantado. Olhei as minhas mãos frias e elas ainda estavam lá, me ajoelhei numa pequena poça de sangue e sob a luz da lua cheia de verão pude ver meu rosto espectral, marcado com todas as seqüelas e horrores que vivi. Ordenei que o monstro que esganei, se erguesse e matasse todos da minha torre. Me levantei e deslizei até a janela do torreão. Olhei do alto para a minha cidade arruinada e jurei que protegeria meu domínio de quem quer que fosse, pelo tempo que a eternidade me concedesse.
Ela se tornaria muito mais bela sob a escuridão dos meus novos olhos

DANIELFO

sábado, 24 de outubro de 2009

Minha namorada é um robô

Olá, meu nome é Roberto, meus amigos me chamam de Beto e o que eu vou contar aqui é algo muito, mas muito sério e vocês precisam acreditar... A minha namorada, Loren Applegate, ela é um robô... É sério! Ela é um robô sim, pode acreditar. Eu não tenho provas concretas, mas tenho evidências, um monte delas. Vamos começar do começo:
Antes de qualquer coisa tenho que falar dela em si; a Loren é muito bonita, do tipo que só se vê em histórias e em filmes americanos, sabe? Ela tem cabelos loiros e ondulados. Seus olhos são verdes, bem claros e sua pele é macia... Agora diz quantas meninas de verdade são assim? Parece que eu to inventando, mas tenho uma foto dela aqui pra provar, ta vendo? Ela parece perfeita demais para ter nascido, parece que foi feita, entende? Depois (e igualmente estranho) eu a conheci em uma loja de artigos eletrônicos, sabe a mega-loja de eletrônicos do Big Al lá no centro da cidade? Pois é, lá que eu a vi pela primeira vez. Ela estava com um carrinho de compras completamente cheio, tinha de tudo lá dentro... Quantas meninas gostam de fazer compras em lojas de eletrônicos? Quer dizer, isso é absurdo! Meninas da idade dela gostam de andar no shopping, falando bobagem e comprando coisas de menina, mas... Eletrônicos? Eu nunca vi.
Eu fiquei de boca aberta quando a vi, uma semi-deusa empurrando um carrinho cheio de tralhas, enquanto eu segurava um chuveiro elétrico nas mãos. Ela sorriu quando passou por mim e até disse “oi”... E ai entra meu terceiro ponto: meninas lindas como ela, não sorriem e dizem “oi” para um cara qualquer como eu, logo que o vê pela primeira vez, a não ser que ela fosse um andróide de relacionamento humano! Programada para se entender com todos os humanos! E por que uma semi-deusa estaria em uma loja de eletrônicos? Meninas bonitas vão no shopping!
Fui pra casa pensando naquele anjo de cabelos dourados. Contei para uns amigos, mas eles não acreditaram que uma menina com tal descrição estava numa loja de eletrônicos e que ainda por cima me deu um oi. Não os culpei por não terem acreditado. Mas ai, no dia seguinte eu fui pra escola e a diretora falou que uma aluna nova ia entrar pra turma e adivinha quem era... Aquela loira da loja. Ela tinha acabado de se mudar com a família e foi transferida pra nossa escola e pra minha turma. Quando ela me notou no meio da sala, acenou e disso “oi! Você é o garoto da loja ontem não é?”. Não preciso dizer que fiquei sem reação, preciso?
A partir daí, acho que quase um mês depois, Loren e eu começamos a namorar. Eu não sei explicar como aconteceu; num momento estávamos falando sobre ficção científica e no outro estávamos nos beijando. Acredita que ela gosta de Star Wars? Adivinha qual o personagem que ela mais gosta? Vou dar uma dica, começa com R...
O mês seguinte foi tranqüilo, mas logo depois minhas suspeitas começaram a aparecer. Notei que a minha namorada tinha hábitos rigorosos e faziam as mesmas coisas toda semana, e nos mesmos horários, tudo sempre agendado. Para sair com ela eu tinha que marcar com antecedência, exceto nos fim de semana, quando ela ficava mais livre. Fora o fato de que durante a semana ela parecia seguir uma programação.
Loren tinha a incrível capacidade de realizar muitas coisas ao mesmo tempo, sem perder a concentrarão em nada. Mais de uma vez eu a vi escrevendo na agenda, ouvindo duas garotas falando, respondendo uma terceira, ouvindo mp3... Tudo isso enquanto falava ao celular com a mãe dela. Impossível? Eu também acho, mas ela faz, eu vi. Já ouvi falar que mulheres são multitarefa, mas isso foi de assustar.
Outra coisa curiosa é a quantidade de energia que ela tem no corpo, quero dizer, eu nunca a vi com sono, tão pouco a vi dormindo. Ela levanta todos os dias às seis da manhã pra fazer um curso de não sei o quê lá, mas isso nunca a impediu de ficar de madrugada comigo no telefone ou no msn. Eu pergunto se ela não tem que ir dormir, mas ela sempre responde que não tem problema... Muitas destas vezes nós desligávamos o telefone às quatro da manhã, e duas horas depois estava ela saindo de casa, super disposta. Mas o mais surpreendente de tudo, a maior prova que eu tive de que ela é um robô, foi quando nós saímos, na semana passada; foi a primeira vez que nós saímos à noite e o pai dela disse que era pra estar de volta antes das dez da noite. Fomos à festa de aniversario de uma amiga da escola, e claro, Loren estava muito bonita. Conversamos e dançamos o tempo todo, nos divertimos e tal e quando deu dez da noite, estávamos na porta da casa dela, nos despedindo, foi então que aconteceu algo muito bizarro; os irrigadores do jardim ligaram-se bem quando estávamos lá, nos despedindo. Ficamos molhados e confesso que foi engraçado; rimos e corremos para a porta da casa dela. Fui dar um ultimo beijo de despedido e então, levei um choque, logo que meus lábios tocaram os dela...
Agora pense: eu nunca levei choque antes, mas porque eu levei um choque desta vez? Qual a diferença desse beijo para os outros? Eu te digo: foi a água! A Água a molhou, causando um curto circuito nos circuitos dela me dando um choque quando toquei nela!
Depois disso ela deu uma risada sem graça se despediu e entrou, e eu fui pra minha casa e foi ai que comecei a juntar as peças do quebra cabeça e vim com a teoria de que Loren era na verdade um robô. Vamos então aos tópicos da minha teoria:

• Ela é linda, gentil, delicada, divertida, simpática, inteligente e muito amigável (convenhamos que tudo isso numa pessoa só, é impossível)
• Ela dá moral para bobões nerds e barrigudos, como eu.
• Ela se diverte comprando eletrônicos ( tipo, que?)
• Adora ficção cientifica, principalmente Star wars
• Segue uma rotina rigorosa sem nunca perder o horário pra nada.
• Super multitarefa, capaz de fazer até sete coisas ao mesmo tempo sem perder a concentração.
• Não precisa dormir (provavelmente ela tem uma bateria poderosa)
• Quando molhada entra em curto.


Então, será que isso prova tudo?

- Cara você é maluco!
- Como assim maluco? Estão ai as provas! Loren é um robô!
- E ai? Vai deixar de gostar dela? Pensei que a amava.
- Mas eu... Eu a amo,só que...
- Mano,olha só: A Loren vem de uma ótima família, por isso ela é tudo de bom, saca? Nasceu bonita e teve ótima educação. Ela gosta de eletrônicos e star wars? Muita gente gosta cara, não pira.
- Mas e...
- Ela é super responsável, por isso nunca perde os horários dela. E sobre ser multitarefa, cara dá um tempo,toda mulher sabe fazer isso.
- Mas as mulheres não dão choque quando molhadas!
- Ta ok... olha, não diz pra ninguém que eu te falei isso,beleza? Acontece que a Loren tava com medo de parecer uma idiota pra você naquele encontro, então ela tava com uma escuta. A irmã dela tava falando no ouvido dela o que dizer e o que fazer. Quando vocês foram molhados, o aparelho deu curto, por isso ela deu choque e por isso ela correu, porque não sabia como explicar.

Fiquei sem palavras. Minhas teorias estavam erradas? Eu li outra vez minha lista e desta vez, me senti um idiota, quer dizer, que bizarro, um robô? Loren é um amor de pessoa e robô nenhum saberia expressar isso.
Meu colega estava ali me olhando, enquanto eu fazia cara de panaca derrotado.
- Mano – continuou ele – Loren Applegate é isso tudo, e você é apenas um cara de sorte. Uma super gata afim de você, é sorte, apenas isso. Sorte existe mano.

Sorte existe. Eu dei risada de mim mesmo. Joguei fora minha lista idiota e decidi parar de pensar nisso. Acho que vou ligar pra ela e marcar alguma coisa pra mais tarde.

- Alô? Sim, aqui sou eu... O Beto tava numa neura, mas agora já passou... Não esquenta, ele não sabe de nada... Sim, fiz como o combinado... Dessa vez passou perto... Ok, até mais tarde, senhor Applegate.

Seph Nation
twitter.com/SephWriter

29 NOITES E HOJE SOL / 2 Cabeças 1 Escrito

Não sei se por opção,
Ou por falta dela.
Deixo meu peito vazio para o respiro.

Cuando me faltan opciones,
Mudanzas vienen a fuerza,
Y a ellas, siguen mi corazón.

Ferido mais que perdido,
Busco a calma.
Forte, colo a boca que cala.

Es como si, en algun punto,
Hubiera perdido el pleno control,
Y la vida sigue por si,
¿Sabrá adonde va?

Hoje acordei melhor,
Reguei minhas plantas,
Valorizei a vida ao meu redor.

Se impone la instabilidad de toda rutina
Y despues de dias de lluvia
Hay sol otra vez

Por: Jane Agostini / Felipe Malta

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Toda gloriosa festa tem seu fim

Em meio aos lugares que são de meus iguais
Nem mais as batidas me repelem a pele
Mas sim me atraem até elas... As peles

Sabemos, toda glória acaba,
No mau hálito seco e sem voz
Na bebida cara da festa que não tenho como compra

Queria mesmo, um gole do ego sem teto,
Mas ao contrário disso...

Se prendeu nas varias dessas horas sem minutos
E ai... Todo o bom acabou tão rápido
Eu mal comecei...

A música prossegue ritmada pelas palmas da mão
Enquanto eu não tenho nem sequer um refrão

Nem sequer um tanto de paz
Nem sequer se eu quisesse
Nem sequer se nois queresse...

Agora a festa acabou
A fama miou
Meu perfume não vale de nada.


MICHEL CENA7

domingo, 18 de outubro de 2009

TRISTEZA DO CÉU

No céu também há uma hora melancólica.
Hora difícil, em que a dúvida penetra as almas.
Por que fiz o mundo? Deus se pergunta
e se responde: Não sei.

Os anjos olham-no com reprovação,
e plumas caem.

Todas as hipóteses: a graça, a eternidade, o amor
caem, são plumas.

Outra pluma, o céu se desfaz.
Tão manso, nenhum fragor denuncia
o momento entre tudo e nada,
ou seja, a tristeza de Deus.



CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

sábado, 17 de outubro de 2009

Protuberância

Este sorriso que muitos chamam de boca
É antes um chafariz, uma coisa louca
Sou amativa antes de tudo
Embora o mundo me condene
Devo falar em nariz(as pontas rimam por dentro)
Se nos determos amanhã
Pelo menos não haverá necessidades frugais nos espreitando
Quem me emprestar seu peito ma madrugada
E me consolar, talvez tal vez me ensine um assobio
Não sei se me querem, escondo-me sem impasses
E repitamos a amadora sou
Armadora decerto atrás das portas
Não abro para ninguém, e se a pena é lépida, nada me detém
É sem dúvida inútil o chuvisco de meus olhos
O círculo se abre em circunferências concêntricas que se
Fecham sobre si mesmas
No ano 2001 terei (2001-1952=) 49 anos e serei uma rainha
Rainha de quem, quê, não importa
E se eu morrer antes disso
Não verei a lua mais de perto
Talvez me irrite pisar no impisável
E a morte deve ser muito mais gostosa
Recheada com marchemélou
Uma lâmpada queimada me contempla
Eu dentro do templo chuto o tempo
Um palavra me delineia
VORAZ
E em breve a sombra se dilui,
Se perde o anjo.

Ana c.



quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Lolita da favela

Cheguei do trabalho, tomei um banho, fiz uma coisa qualquer para comer. Depois sai da cadeira de rodas e fiquei sentado na cama assistindo um filme. Sinceramente, nem estava prestando atenção no filme, estava sim era pensando na vida. Fui interrompido por uma batida na porta.
Merda! Pensei. Já vieram estragar meu sossego.
- Entra. – Gritei.
Quando vi quem era, respirei fundo e senti que veria chateação. Era Márcia, uma menina de uns doze ou treze anos, uma negra muito bonita, com os cabelos lisos, bem pretos, mais ou menos um metro e sessenta e cinco de altura ,seios fartos e um corpo maravilhoso, que não condizia com sua pouca idade, ela era amiga de minha irmã. Segundo os caras da rua, ela era meio piranha, gostava de dar a boceta em troca de presentes ou de dinheiro, diziam que ela era uma mamadinha. Eu não sabia se era verdade ou não.

GÍRIA DA FAVELA: MAMADA OU MAMADINHA
GAROTA QUE PRATICA SEXO ORAL EM TROCA DE DINHEIRO, BEBIDA OU DROGAS.

Ao entrar ela passou o trinco na porta.
- Oi – Disse ela sentando-se de frente pra mim. Como ela estava com uma saia bem curta, podia ver sua calcinha branca minúscula.- Ta fazendo o que ?
-Tava vendo um filme.
- Cadê tua irmã ?
- Ta em casa. – respondi.
- Ta não, entrei e não vi ninguém, tava tudo aberto.
- Então ela deve estar por perto.
Todos os dias ela vinha na minha casa, não podia impedir que ela entrasse, ela era amiga da minha irmã. Só que sempre ela vinha no meu quarto. Primeiro começava com uma conversa de cerca Lourenço e depois começava a se insinuar.
- Olha a calcinha que minha mãe me deu.
Sem que eu esperasse, ela se levantou da cadeira, ficou de pé na minha frente, levantou a saia, ficando de costas pra mim. Foi então que aconteceu algo comigo que nunca acontecera antes, ao ver aquela microcalcinha enfiada naquela bunda maravilhosa, fiquei assustado e excitado, mais o segundo que o primeiro. Apesar da pouca idade, seu corpo era maravilhoso, a bunda, as pernas, tudo lisinho, sem uma celulite ou estria, foi aí que comecei a vê- la diferente.
- Se ajeita Márcia, minha irmã pode chegar a qualquer momento, o que ela vai achar disso. - Falei preocupado.
- Dane-se ela, quem sabe da minha vida sou eu.
- Porque você faz isso comigo Márcia?
- Isso o que?- Perguntou ela cinicamente.
- Ficar se insinuando pra mim?
- Não sei! Gosto de você, sei lá.
- Gosta de mim! Tenho 30 anos, to numa cadeira de rodas, sou feio, não tenho nada pra te oferecer. Procura os moleques da tua faixa de idade.
- Eu não, eles são todos iguais, eles só querem me comer, não tem dinheiro pra nada, não me dão presentes. E se eu fuder contigo, sei que você vai me dar dinheiro e presentes.
- Quem te disse isso?
- Ninguém, quer ver?
- Ver o que?- Perguntei distraidamente.
Ela veio na minha direção, puxou minha bermuda, colocou meu pau para fora e começou a chupa-lo. Meu primeiro desejo foi puxa-la pelos cabelos, para tirar meu pau da boca dela, só que o instinto animal do ser humano foi mais forte, fiz exatamente o contrário, empurrei a cabeça dela para baixo, fazendo com que ela engolisse mais ainda meu pau, para aumentar o meu prazer, encostei na cama e fiquei usufruindo do boquete, daquela boquinha de veludo. Gozei na boca dela.
Ela se levantou e foi ao meu banheiro lavar a boca. Sentou novamente perto de mim, com a cara mais deslavada do mundo, com um sorrisinho maroto e safado.
- Viu o que eu faço com a boca! Imagina com a buceta? Gostou?
- Gostar eu gostei. Só que isso não ta certo, você é uma criança, eu tenho idade para ser seu pai. E se tua mãe descobrir?
- Ela só vai descobrir se você contar. Vai fazer isso?
- Claro que não.
- Tem um baile que eu quero ir hoje, compra um ingresso pra mim?
- quanto é?
- Preciso de oito reais.
Abri a carteira e dei vinte reais para ela.
- Eu não disse. – falou enquanto pegava o dinheiro da minha mão.
- Disse o que?
- Que você ia me dar dinheiro.
Eu não respondi nada. Notei que ela não era boba. Fiquei na minha.
- Brevemente vamos fazer outras coisas deliciosas.
Ela saiu do meu quarto com um sorriso no rosto.
Caralho! Que merda que eu fiz. Pensei. Deitei na cama e durante alguns minutos fiquei pensando no acontecido. Foda-se, não fiz nada a força. Acabei dormindo.
Durante três dias não nos encontramos. Numa quinta feira, estava voltando do trabalho, que era perto de casa, há vi jogando queimado, com um monte de moças e rapazes da idade dela. Ela estava com um shortinho azul de lycra, bem curtinho e um topzinho amarelo. Ao me ver, ela veio correndo na minha direção .
- Me aguarda hoje, nove horas eu vou lá. – Falou e voltou correndo pro meio dos amigos dela.
Às nove horas em ponto ela bateu na porta do meu quarto.
- Não falei que ia vir. Olha eu aqui!
- Sumiu hein!?
- Sumi nada, tava por aqui mesmo. Quero fuder contigo hoje.
Ela estava cheirosa, podia sentir o perfume dela, isso me enlouquecia, a textura da pele dela, seus contornos, tudo nela me enlouquecia, só estava com um medo, me apaixonar por ela e fuder minha vida toda.
- Você quer complicar a minha vida? Não quer?
- complicar nada, para de ser bobo, aproveita, tu acha que todo cara na cadeira de rodas tem a oportunidade que eu to te dando, de fuder com uma novinha. Tem um monte de coroas querendo me levar para a cama, só que eu não quero eles. Não sei porque quero você. se você quiser que eu vá embora, eu vou. Quer?
- Não. – respondi na hora.
Ela começou a me ajudar a tirar a roupa e depois tirou a dela. Novamente ao ver aquele corpo negro maravilhoso na minha frente, ao ver aquela buceta raspadinha, com apenas um Fiozinho de pelos, esqueci todos os meus medos e quase enlouqueci. Ela pulou em cima de mim, comecei a beija-la, chupar seus seios. Enquanto praticava sexo oral nela, podia ouvir os seus gemidos, gostei e caprichei mais ainda, teve uma hora que ela apertou minha cabeça com as suas pernas, depois transamos.
Porem a foda foi horrível, ela quis transar comigo, como se tivesse transando com um cara normal. Quando acabamos, ela viu no meu rosto que eu não havia aproveitado a transa.
- O que foi? Não gostou?
- Gostei! Só que me machucou, eu não sou que nem os outros caras, você não pode fazer comigo como se eu fosse um cara normal, tenho meus limites, entendeu? Ela veio até a minha direção e me deu um selinho na boca.
- pode deixar, as outras vezes serão melhor.
E foram, cada transa foi ficando melhor que a outra, depois que nossos corpos se acostumaram um com o outro, nunca mais me machuquei.
Ela me ajudou a se vestir, se vestiu e ficou ao meu lado assistindo tv. Ficamos os dois quietos, ela assistindo filme e eu a analisando. Realmente ela era pouco mais que uma criança. A cada risada que ela dava ao ver as palhaçadas de Eddie Murphy, eu podia ver que alguns de seus dentes eram de leite, seus modos ainda eram de menina. Derrepente ela se levantou.
- Onze horas!minha mãe mandou eu entrar ate as onze e quinze. Posso te pedir uma coisa?
- Claro que pode.
- Quero uma calça de “stresse” linda que eu vi numa loja.
- Quanto?- Fui logo perguntando.
- Trinta e cinco reais.
-Sábado eu recebo e te dou. Ta legal.
- Tudo bem, então, posso mandar a mulher da loja separar pra mim a que eu quero.
- Com certeza, assim que eu chegar de trabalho tu passa aqui.
- Brigado. – Ela me deu um selinho e já ia saindo quando eu a chamei.
- Vai voltar amanha?
- Quem sabe. – ela sorriu pra mim. – Venho sim.
Durante três meses nosso relacionamento foi assim, sexo, sexo, sexo. Transávamos, ficávamos vendo televisão, conversando e brincando. Uma noite após ela ir embora, minha irmã veio até o meu quarto.
- O que esta acontecendo entre você e a Márcia?
- Nada somos só amigos.
- Só amigos! Você ficou louco! Ela tem quatorze anos e você trinta e tal, essa merda pode acabar na boca.
- Só bandido que pode comer as novinhas. Além do mais eu não esculacho ela, trato ela na moral, se ela estivesse saindo com bandidos, não estaria comigo.
- Tu acha que ela fode só contigo.
- Claro que não, acha que sou bobo.
- Bobo não. Otário! Ela só quer o teu dinheiro.
- Ta bom, ela me da o que eu quero, eu dou dinheiro pra ela.
- Já vi que não tem jeito, ela ta te dominando. Eu sou amiga dela, lembra que isso é errado.
-Eu sei mana, só que sempre fui só, transava de vez em quando, agora ela vem sempre aqui, entrou na minha vida, deixa eu aproveitar.
Porém com os mais velhos dizem, o pão do pobre cai sempre com a manteiga pra baixo. Do mesmo jeito que ela chegou, sumiu da minha vida. Depois do primeiro mês, resolvi esquece-la, continuei com a minha vidinha, casa, trabalho, cama e pronto. Soube através de minha irmã, que ela estava morando com um cara, num barraco.
Um belo dia ela apareceu em minha casa, nem me cumprimentou, foi logo dizendo.
- Quer transar comigo, to precisando de trinta reais, pode me dar agora.
Minha primeira vontade foi dizer não, quando a vi nua, mudei de idéia, ela estava mais linda ainda. Transamos. O mais legal, foi que ela não esqueceu como fazíamos, foi ótimo. Só que dessa vez não ficamos conversando, nem vemos televisão, ela se vestiu, não disse nada, foi embora.
Sumiu novamente. Só que nesse ínterim, fiquei amigo da irmã dela e surgiu um interesse meu por ela, mais do que amizade. Quando chegava do trabalho, ligava para ela, a chamava para ficar conversando comigo no quarto, falávamos amenidades e eu falava do meu interesse por ela. Dizia para ela esquecer o fato de eu estar numa cadeira de rodas, que podíamos ser felizes, que poderíamos ter uma vida legal juntos, depois de ouvir estas coisas, pedia que ela me desse uma resposta. Só que ela respondia sempre do mesmo jeito.
- Não sei, me da um tempo para eu pensar.
Essa história toda durou cerca de dois meses, eu queria namorar com ela, só que eu queria era algo serio, não como acontecera com Márcia. Na aparência, elas tinham um rosto bem parecido, Márcia era cinco anos mais nova que ela, só que ao contrario de Márcia, não consegui transar com ela. Durante um bom tempo ficamos nesse lenga-lenga. O que aconteceu de legal foi que umas duas ou três vezes depois de uma irmã ir embora, a outra chegava e nós transávamos.
Tudo isso terminou num dia de sábado. cheguei do trabalho que havia sido meio expediente, estava entrando na rua onde as irmãs moravam, na frente da casa, um casal namorava, só de perto que eu pude perceber que era Eliane, a irmã que eu paquerava, com um cara. No exato momento em que eu passava, ela olhou pra mim, nossos olhares se cruzaram, pude ler seus pensamentos:” sinto muito, você é um cara legal, mas esta numa cadeira de rodas, não tenho coragem suficiente pra tentar algo com você”. Eu baixei a cabeça, com um nó no coração, segui meu caminho.
Entrei em casa, tomei um banho, minha irmã perguntou se eu queria comer, disse que não. Deitei na minha cama e fiquei pensando, no que eu e Eliane podíamos ter sido. Triste mesmo eu fiquei quando lembrei que ela era mais uma que eu perdia para um cara normal, me resignei. Afinal de contas quando você apanha sucessivas vezes no mesmo lugar, aquela parte do corpo fica calejada e as pancadas não incomodam tanto, o corpo acostuma.
Estava quase dormindo quando meu amigo Leônidas, me chamou para sair, fomos beber com outros amigos.
Cheguei em casa completamente bêbado, só lembro que a casa estava cheia de gente, eles comemoravam algo que até hoje não sei o que era, cheguei gritando que amava a Eliane e que ela não me amava, entre as pessoas que estavam na festa, Márcia. Antes de desmaiar, lembro que ela segurou meu rosto e me disse algo:
- Vou fazer você esquecer a minha irmã.
Realmente ela conseguiu e conseguiu outra coisa que eu não queria que acontecesse, que tentei evitar de todas as maneiras. Acabei me apaixonando por ela. Minha vida começou a ruir.
Quando saiamos juntos, era horrível, ela conhecia muitos rapazes, da faixa etária dela, ela conversava com eles, eu não agüentava, ficava com tanto ciúme que por pouco não levantava da cadeira. Alias, eu não suportava que nenhum outro homem falasse com ela. As vezes ela me perguntava.
- porque você e assim?
Eu mandava ela se por no meu lugar. Um cara quase vinte anos mais velho que ela, numa cadeira de roda com uma menina linda, como ela. Na minha mente eles queriam toma-la de mim. Passamos a discutir todos os dias quase.
Como ela havia dito, esqueci da irmã dela e me apaixonei tanto por ela, que não conseguia tira-la da minha mente, pensava nela todos os minutos do dia.
Nossa vida era fuder, só que nenhuma relação pode se apoiar somente nisto. Como era de se esperar, de uma relação como esta, não estávamos nos entendendo, ela queria só um namorico e eu muito mais do que isto, tentei de tudo para ficar com ela.
- Poxa cara, vamos ficar juntos, vem morar comigo, com minha aposentadoria e com o que eu ganho no meu outro trabalho, vamos viver numa boa, sei que você e novinha, eu sou mais velho, você vai envelhecer também, eu cuido de você, e você cuida de mim, eu vou viver pra você, não vai te faltar nada, eu falo com sua mãe. Vamos tentar.
- Não sei! Tenho medo.
- Medo de que?
- Não é bem medo, é uma falta de coragem.
- Você gosta de mim?
- Gostar eu gosto, só que eu não te amo como você me ama.
- Isso é de menos, teremos um convívio juntos, o amor vem com o tempo. Vamos tentar?
- Não é a hora! Pra mim ainda não.
Acho que com o tempo, meu amor virou obsessão, porque eu sabia que ele não tinha sustentação, ela podia me abandonar a qualquer momento, como de fato aconteceu. Havíamos acabado de tomar banho e de transar no banheiro, estávamos conversando na varanda da minha casa, quando ela olhou pra mim com uma cara estranha, desconfiei que vinha algo.
- Olha – Começou ela pausadamente – Não da mais, arrumei outra pessoa e nós vamos morar juntos.
Olhei pra ela, meus olhos ficaram cheios de lágrimas. Da minha boca, saiu um Fiozinho de voz.
- O que foi que eu fiz?
- Nada – Disse ela – To gostando desse cara.
- Algum cara já te tratou como eu te trato?
- Não! ninguém nunca me tratou tão bem como você, só que você merece alguém melhor que eu...
- Eu quero você Márcia, ninguém mais me interessa. Porque você entrou na minha vida cara. Eu te amo! Não me deixa!
- Acabou! Você vai arrumar alguém.
Ela se foi.
Fiquei ali parado, chorando. Uma dor imensa tomou conta do meu coração, fiquei até com falta de ar. Não sei quanto tempo permaneci ali chorando. Queria morrer.


Julio Pecly


terça-feira, 13 de outubro de 2009

Quero ser música

Quero ser música
Daquelas que ficam
Invadem cabeça alma,
Paz
Tudo mais.

Quero ser música
Voar leve
Ser breve,
Eterno
Aconchego no inverno


Quero ser música
Ter luz
Fazer jus,
Iluminado
Sem ego, guia o cego




Quero ser música
Ser criança
Renovar minha esperança,
Dança
Ritmo pra mudança

Quero ser música
Ser cantado o dia inteiro
No palco, no banheiro
Pra quem não escuta,
Quero ser cheiro.

Felipe Malta

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A Revolução e o Ponto de Vista

Era o grande caçador de lagartas. Toda vez que a samambaia da sala amanhecia desfolhada, denunciando a presença das predadoras, as mulheres da casa logo recorriam a ele.
Assim aconteceu também naquele dia, quando ele, como sempre, armado de pinças, lentes, e um vidro de boca larga, preparou-se para mais uma demonstração de coragem. Não podia saber que as lagartas haviam convocado sua grande caçadora de homens, a qual, escondida por entre as folhas da planta, o abateu com um tiro.

Daniel Terra

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Vamos ao Teatro?

Casa de classe media. 22:30h. Roda de amigos. Todos bebem alegrementea sobra de champanhe da ultima festa da empresa de Melquesalém, atéque José Carlos puxa um assunto que não tem nada ha ver com o quetodos falavam até então.Até aquele momento já haviam falado sobre a Mulher Melão. Sobre oaumento de impostos. Sobre a novela dos fantasmas. Sobre a quantidadede pelos pubianos de determinada atriz que posou na “Só Boazudas “.Enfim… assuntos não faltavam. mas lá vai José Carlos e seus assuntos… José Carlos -Em que mês nós estamos? Tania - Novembro. José Carlos - Quase é o fim do ano. Voces já foram ao teatro esse ano? Tania - Não. Teatro é muito chato e cafona. Meirelles - Não. Só tem peça ruim. Dos Santos -Não. Não achei nenhuma por esses tempos com ator que faz novela. Janaina -Não. A ultima peça do meu primo que fui ver jogaram água nomeu cabelo e eu tinha acabado de fazer escova progressiva. Ivan -Não. A Ultima peça que fui ver só tinha palavrão. Melquesalem -Não. A unica peça que eu vi, tinha um cara nu, que tomavauns tapas na cara de uma atriz com cara de maluca e no fim aindafizeram piada da minha careca. Neste momento sem muito pensar e já se arrependendo do que ia dizer, José diz: José Carlos – Tá vendo ai, quantas sensações diferentes o teatroprovocou em voces. E Após uma pequena pausa a sala estourou numa saraivada de gargalhadase comentários jocosos com relação a frase recem escutada.José, que agora se resumia a um Zezinho, levantou-se e foi em direçãoao balde de champanhe. Encheu sua taça, enquanto ouvia Janaina dizer:Ele só fala essas coisas porque na faculdade ele fazia aqueles textosengajados do Brecht, é um ator frustrado.Comeu um pedaço do sanduiche a metro que agora poderia ser rebatizadode sanduiche a centimetro e pensou: Como é que eu vou conseguirexplicar a eles o que o teatro me deu. Como vou dizer que vendo “NovasDiretrizes para tempos de Paz “ eu me tornei um ser humano melhor. Queeu me diverti e relaxei vendo tantas comédias que nem consigo citarapenas uma. De onde tirar argumentos para dizer o quanto aprendi erefleti com tantas peças do Bando de Teatro, do Teatro, do Oficina, Napraça Roosevelt, ou até mesmo nos festivais de teatro que eu pude ir.Será que eles entenderão que eu queria ser o Milton de Souza depoisque eu o vi apenas uma vez numa montagem do “Rei Lear” , no dia 27 deabril de 1997,na cadeira p17 do Teatro Vila Alves. Como revelar queaté hoje sou apaixonado pela Léa Bulbul que fazia a Dandara naquelamontagem de “Fausto e Dandara”.José sabia da inconstância do teatro, da tendência do público nos seusgostos, mas mesmo assim, após comer os farelos do pão ele tomou umadecisão: Quando sair o meu salário eu vou comprar ingresso para todosirem ver a nova montagem de Galileu Galilei que estreou semanapassada.Virou-se e puxou outro assunto, para ele menos polêmico. José Carlos – E ai turma, qual foi o último filme nacional que vocês viram?

Lázaro Ramos

RONDÓ DE MULHER SÓ

Estou só, quer dizer, tenho ódio ao amor que terei pelo desconhecido que está a caminho, um homem cujo rosto e cuja voz desconheço.

Sempre estive duramente acorrentada a essa fatalidade, amor. Muito antes que o homem surja em nossa vida, sentimos fisicamente que somos servas de uma doação infinita de corpo e alma.

O homem é apenas o copo que recebe o nosso veneno, o nosso conteúdo de amor. Não é por isso que o homem me atemoriza, quando aqui estou outra vez, só, em meu quarto: o que me arrepia de temor é este amor invisível e brutal como um príncipe.

Quando se fala em mulher livre, estremeço. Livre como o bêbado que repete o mesmo caminho de sua fulgurante agonia.

A uma mulher não se pergunta: que farás agora da tua liberdade? A nossa interrogação é uma só e muito mais perturbadora: que farei agora do meu amor? Que farei deste amor informe como a nuvem e pesado como a pedra? Que farei deste amor que me esvazia e vai remoendo a cor e o sentido das coisas como um ácido? É terrível o horror de amar sem amor como as feras enjauladas.

É quando o homem desaparece de minha vida que sinto a selvageria do amor feminino. Somos todas selvagens: são inúteis as fantasias que vestimos para o grande baile. Selvagem era a romana que ficava em casa e tecia; selvagens eram as mulheres do harém, as mais depravadas e as mais pudicas; selvagem, furiosamente selvagem, foi a mulher na sombra da Idade Média, na sua mordaça de castidade; mesmo as santas - e Santa Teresa de Ávila foi a mais feminina de todas - fizeram da pureza e do amor divino um ato de ferocidade, como a pantera que salta inocente sobre a gazela. E selvagem sou eu sob a aparência sadia do biquíni, olhando a mecânica erótica de olhos abertos, instruída e elucidada. Pois não é na voluntariedade do sexo que está a selvageria da mulher, mas em nosso amor profundo e incontrolável como loucura. O sexo é simples: é a certeza de que existe um ponto de partida. Mas o amor é complicado: a incerteza sobre um ponto de chegada.

Aqui estou, só no meu quarto, sem amor, como um espelho que aguarda o retorno da imagem humana. O resto em torno é incompreensível. O homem sem rosto, sem voz, sem pensamento, está a caminho. Estou colocada nesse caminho como uma armadilha infalível. Só que a presa não é ele - o homem que se aproxima - mas sou eu mesma, o meu amor, a minha alma. Sou eu mesma, a mulher, a vítima das minhas armadilhas. Sou sempre eu mesma que me aprisiono quando me faço a mulher que espera um homem, o homem. Caímos sempre em nossas armadilhas. Até as prostitutas falham nos seus propósitos, incapazes de impedir que o comércio se deixe corromper pelo amor. Quantas mulheres traçaram seus esquemas com fria e bela isenção e acabaram penando de amor pelo velhote que esperavam depenar. Somos irremediavelmente líquidas e tomamos as formas das vasilhas que nos contêm. O pior agora é que o vaso está a caminho e não sei se é taça de cristal, cântaro clássico, xícara singela, canecão de cerveja. Qualquer que seja a sua forma, depois de algum tempo serei derramada no chão. Os vasos têm muitas formas e andam todos eles à procura de uma bebida lendária.

Li num autor (um pouco menos idiota do que os outros, quando falam sobre nós) que o drama da mulher é ter de adaptar-se às teorias que os homens criam sobre ela. Certo. Quando a mulher neurótica por todos os poros acaba no divã do analista, aconteceu simplesmente o seguinte: ela se perdeu e não soube como ser diante do homem; a figura que deveria ter assumido se fez imprecisa.

Para esse escritor, desde que existem homens no mundo, há inúmeras teorias masculinas sobre a mulher ideal. Certo. A matrona foi inventada de acordo com as idéias de propriedade dos romanos. Como a mulher de César deve estar acima de qualquer suspeita, muito docilmente a mulher de César passou a comportar-se acima de qualquer suspeita. Os Dantes queriam Beatrizes castas e intocáveis, e as Beatrizes castas e intocáveis surgiram em horda. A Renascença descobriu a mulher culta, e as renascentistas moderninhas meteram a cara nos irrespiráveis alfarrábios. O romancista do século passado inventou a mulherzinha infantil, e a mulherzinha infantil veio logo pipilando.

O tipos vão sendo criados indefinidamente. Médicos produzem enfermeiras eficientes e incisivas como instrumentos. Homens de negócios produzem secretárias capazes e discretas. As prostitutas correspondem ao padrão secreto de muitos homens. Assim somos. Indiquem-nos o modelo, que o seguiremos à risca. Querem uma esposa amantíssima - seremos a esposa amantíssima. Se a moda é mulher sexy, por que não serei a mulher sexy? Cada uma de nós pode satisfazer qualquer especificação do mercado masculino.

Seremos umas bobocas? Não. Os homens são uns bobocas. O homem é que insiste em ver em cada uma de nós - não a mulher, a mulher em estado puro ou selvagem, um ser humano do sexo feminino - o diabo, a vagabunda, a lasciva, o anjo, a companheira, a simpática, a inteligente, o busto, o sexo, a perna, a esportista... Por que exige de nós todos os papéis, menos o papel de mulher? Por que não descobre, depois de tanto tempo, que somos simplesmente seres humanos carregados de eletricidade feminina?

PAULO MENDES CAMPOS

sábado, 19 de setembro de 2009

LÁ...LÁ NAQUELE LUGAR...TÁ VENDO???

LÁ...LÁ NAQUELE LUGAR...TÁ VENDO???


Às vezes parece que as minhas raízes que ficam nos meus dedos, têm pessoas ou que as nuvens que habitam minha pálpebra, têm gente... Não têm; nós é que sonhamos com tudo e com nada , até mesmo com o que somos e não somos.

Se ouvirmos,nossos corações cantando as coisas que querem cantar e não podem , ouviríamos mais coisas que julgamos poder ouvir...

Lá , onde não vamos todo dia , mesmo que tenhamos um texto novo todo dia,existem, neste e em todos os momentos desde que existem, os anéis de noivado de Saturno, a magnetosfera de Júpiter, a da Ganymede de Galileo antes de qualquer um de nós; existe o Sol e buracos negros uns brilham e outros sugam nossa fluidez , porque as coisas não começam nem acabam; pulsares de gestos contidos, restos cósmicos de falas ditas e um infinito de letras e cores - não interessam as teorias - Big Bang.



GALILEO...

Aqui , nos meus olhos castanhos , sobrevivem florestas tropicais. Formam-se tempestades com que não sonhamos e as águas caem em silêncio barulhento. De vez em quando lembramo-nos do vento e do granizo que existem em cada olhar. Não nos lembramos das monções das palavras carinhosas, de tornados das palavras rudes e nem dos furacões das briguinhas tolas e infantis , nem da areia que entra na retina ou da neve que congela nossa língua.

De lá , onde nosso coração quer se alegrar a todo custo, ouve-se tudo - como sabemos desde que descobrimos a palavra não mais ficamos com a cabeça mergulhada na banheira: terremotos de desejos, vulcões de cansaços, bolhas de ar de sentimentos oportunos, barcos que nos levam pelo oceano virtual e coisas sem nome.

Mas, lá onde nos escondems e nos mostramos , como aqui em cima e muito longe, nunca compreenderemos nada. Nunca nos chamaremos como as baleias se chamam, e elas nem sequer se chamam baleias...


Slow da BF

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

17 minutos

Assim que Carlos acabou de gozar, bateram na porta. Ele levantou com o corpo ainda tremulo de prazer e com raiva abriu a porta.
- O que foi porra!

-Poxa patrão, sabe aquele maluco que disse que ia te matar, viram ele na favela.
- Viram esse filha da puta onde?
Antes de responder, cabeção tentou olhar para dentro do barraco, com o intuito de saber quem era a piranha que estava transando com o dono do tráfico na favela. Porém não conseguiu ver nada.
- Viram ele lá no valão. – Mal acabou de falar, Carlos bateu a porta na cara dele. Cabeção, ficou ali parado com aquela cara de bobo, de quem fumou vários baseados, voltou para sua esquina e foi fumar mais um.
Daniele sentou na cama, seu corpo negro, nu, estonteante, não causou a menor excitação em Carlos, pois em sua mente só havia espaço para um único pensamento: Matar o cara que quase o havia matado meses atrás.
- Vai aonde?- Perguntou Daniele ao vê-lo colocando as calças.
- Vou ali. – Respondeu Carlos vagamente.
- Vai ali! Vai me deixar aqui sozinha pra ficar com os pela saco?
- Cala a boca porra! Fica na tua caralho.
Depois que calçou o tênis e pos uma camiseta, Carlos foi atrás de um armário velho, pegou sua pistola glok 9 prateada, dois pentes, que guardou no bolso, saiu sem dar mais alguma explicação.
Daniele ficou sentada na cama, falou um monte de palavrões, jogou alguns objetos na parede, como de nada adiantou isso, ela deitou e adormeceu rapidamente.
Assim que chegou na rua, chamou um moleque pra fazer a sua contenção. Rapidamente chegou no valão, onde encontrou cinco caras armados, cada um com um fuzil.
- Qual foi?- perguntou Carlos. – Cadê o safado?
- Sei lá. – Respondeu um dos caras. – Só sei que ele está na favela, agora onde, ninguém sabe ao certo.
Carlos estava muito nervoso andava de um lado para o outro, chegou perto do vapor, pegou um pó de dez reais, cheirou no saquinho mesmo e deu o resto para um dos outros traficantes.
- Qual era o nome de uma mamada que ele comia? Uma branca, magrinha.
- Era Walkiria . – Respondeu pezão.
- Sabe onde ela mora pezão?
- É lá perto do cruzeiro.
- Então vamos lá, eu, você, banana e o klebinho. – convocou Carlos.
Os quatro foram caminhando favela a dentro, por cada rua que passavam, os moradores sentiam que havia algo de estranho no ar. Os pais mais prudentes colocavam os filhos para dentro. Só que a maioria dos moradores de favelas, tem hábitos estranhos, quando esta na iminência de ter um tiroteio ou já de estar tendo, As pessoas ao invés de se esconderem, não, fazem ao contrário, vão para a rua, é como se a diversão de alguns favelados, fossem os tiroteios.
Chegaram na casa de Walkiria, Carlos nem se deu ao trabalho de bater na porta, com uma pesada, derrubou-a.
Encontrou Walkiria somente de calcinha deitada na cama.
- C-a-d-e o w-a-g-u-i-n-h-o? – falou com tanto ódio, que a frase saiu de sua boca pausadamente. Queria que ela entendesse bem a sua pergunta.
Ao ver o olhar de ódio bem nos olhos de Carlos, Walkiria se assustou.
- Não sei.- Respondeu ela timidamente.
Carlos puxou-a da cama, uma vez no chão, começou a ser chutada. Foi uma longa sessão de chutes, na cara, nas costelas, na barriga e nas costas. Depois ele a pegou pelos cabelos, a moça tinha longos cabelos negros encaracolados, e arrastou-a pelo chão da casa, derrubando alguns móveis, inclusive uma televisão, que ela havia tirado nas casas Bahia e ainda estava na terceira prestação, o tubo espatifou-se. Carlos abaixou perto dela e lhe perguntou num tom de voz que gelou a alma da moça, devido a tanto ódio contido.
-Cade o Waguinho?
- Não sei. – Respondeu ela num Fiozinho de voz.
Carlos sentiu que ela não estava mentindo, porém mesmo assim bateu nela mais um pouco.
Sentada no chão, chorando, cheia de hematomas e toda dolorida, Walkiria tomou uma decisão. Resolveu voltar para o seu primeiro marido, o único homem que a amou e a respeitou e que ela burramente, trocou por Waguinho, que só lhe dava pica, porrada e a esculachava. O bonde que caçava Waguinho continuou procurando por ele, favela a dentro.
- Vamos no bar do tio dele. – Carlos ia a frente do bonde do mal.
Quando chegaram no boteco, os cinco homens que tomavam cerveja de quinta qualidade, se assustaram e foram saindo de fininho. Ficou apenas, seu bonde e o dono do bar, um russo, sem os dos dentes da frente. Ele continuou o que estava fazendo, lavando alguns copos americanos.
- Vem aqui. – chamou Carlos.
O pobre homem foi que nem um cachorrinho. Antes mesmo que chegasse ao balcão, Carlos o puxou pelo colarinho.
– Onde ta o seu sobrinho?
- Não sei. – Respondeu o homem meio atordoado.
- O senhor sabe sim. Vou matar o filha da puta.
- Então tomara que você ache ele mesmo e mate o desgraçado. Ele é a vergonha da família, minha irmã morreu de desgosto, mata ele mesmo, ninguém vai sentir a menor falta, ele virou bandido de sem vergonhice.
Sentindo que a raiva do velho em relação a Waguinho, era tão grande quanto a sua, Carlos soltou o coroa.
-Pode deixar tio, vou matar esse desgraçado pro senhor. Vamos pessoal, vamos encontrar com esse safado e dar cabo dele.
Nem bem dobraram a esquina, uma senhora aparentando uns 45 anos, negra, muito magra, quase esquelética, parou Carlos.
- Tão dizendo que o senhor, quer pegar o Waguinho?
- Porque a senhora quer saber? – Carlos estava desconfiado.
- Porque ele estuprou minha filha quando ela tinha 11 anos, ela engravidou e quase morreu no parto. Se você matar esse desgraçado, eu vou poder morrer feliz.
- Pode deixar senhora, vou fazer isso e vingar sua filha. – Prometeu Carlos. – Vocês ouviram pessoal ,esse cara é muito filha da puta, vou pegar ele.
Continuaram sua busca pela favela, arrombaram muitos barracos, de amigos e parentes de Waguinho. Não encontraram nada.
- acho que ele já meteu o pé. Ele deve saber que estamos caçando ele, não ia ficar na favela de bobeira. Certo braço!- pezão esperou uma resposta de Carlos, que não veio, porque cabeção chegou correndo.
- Carlos! Carlos! Eu vi o Waguinho lá no campinho, ele falou que está te esperando.
- Caralho! Esse filha da puta quer morrer mesmo. Vamos lá pessoal.
Os cinco homens foram correndo em direção ao campinho. Mais ou menos na metade do caminho, Carlos teve uma idéia.
- Vocês três vão pela frente, eu e o pezão pelo mato, quem encontrar ele primeiro, vai fazer ele fugir na direção contrária. Tranqüilidade!
- Tranqüilo.- respondeu olhão, um moleque magro, mulato, com grandes olhos esbugalhados, daí o apelido.
Assim que adentraram pelo mato, Carlos tirou a pistola da cintura e a destravou.
- Vamos lá pezão! Vamos pegar o desgraçado.
- Já é maluco! Já é!
Os dois foram caminhando lado a lado, mato adentro. Andavam observando tudo, ouvindo todos os sons, pois eles conheciam o matagal como a palma das mãos. Só que eles sabiam que Waguinho também conhecia o matagal, daí a chance de o surpreende-lo era mesma que eles tinham de serem surpreendidos.
- Vai por trás da árvore caída.- Indicou Carlos.
- Valeu Carlos! A gente se encontra atrás do gol.
- Já é.
Assim que acabou de pular a árvore, pezão tomou uma seqüência de três tiros de pistola no peito. Ao ouvir os disparos, Carlos se virou na direção e ainda pode ver Waguinho correndo.
Carlos abaixou ao lado de pezão, que estava com o peito ensangüentado, sua camisa 90 da Nike estava vermelha e molhada de sangue. O moleque abriu os olhos e respirando com dificuldade, olhou para Carlos com os olhos fora de órbita.
- Agüenta aí cara, vou chamar alguém pra ajudar a gente. – enquanto falava, Carlos olhava para todas as direções, temia ser alvejado como pezão.
- precisa não cara! To fudidão! Mata o cara pra mim. – essas foram as últimas palavras de Marcelo Oliveira da Silva, 19 anos, vulgo pezão.
Depois delas respirou fundo e morreu.
Quando Carlos levantou, os outros três caras já estavam ao seu lado.
– Escutamos tiros... – Fabinho estacou ao ver o corpo de pezão.-Acabou engolindo a fala.
- Tenho que matar este desgraçado. – Carlos estava fora de si.
Ao saírem do meio do mato, ficaram num descampado, foram recebidos a tiros,cada um abriu para um lado, Carlos foi na direção de onde os tiros vieram. Imaginava que Waguinho iria se esconder nos barracos, foi pra lá. Uma vez lá, andava se esgueirando pelas paredes de madeira, detestava ter de caçar alguém nesta parte da favela, pois parecia um labirinto e não um lugar onde morassem seres humanos. Ouviu um barulho atrás de si, foi averiguar o que era, quase caiu ao tropeçar num moleque que brincava com um carrinho sem rodas.
- Entra porra! – gritou - O moleque saiu correndo.
Onde esse filha da puta está. Pensava Carlos, esse era seu único pensamento.
Pé ante pé, foi indo na direção do barulho, chegou lá e não viu nada, quando se virou para voltar, sentiu algo duro encostando em sua nuca. Nem precisou se virar para saber que se tratava da pistola de Waguinho e que iria morrer com 20 anos de idade, sem deixar herdeiros, pior de tudo, sua vida tinha sido inútil, que tudo estava prestes a terminar.
- Quem ia matar quem?
Foi a ultima frase que ouviu.
Pow!
Virou estatística




Julio Pecly