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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A x –9

GÍRIA DA FAVELA: X – 9
DELATOR, ALCAGÜETE

No rádio tocava um proibidão.
”Fogo no x 9 da cabeça aos pés, pega o álcool e o isqueiro
E taca fogo mane.”
O carro, um Omega, passou a toda velocidade, eram duas horas da manha de uma sexta para sábado. Dentro do porta-malas, Amordaçada e toda amarrada, uma moça de uns vinte e três anos mais ou menos, bonita, com um corpo maravilhoso. Ela nem chorava mais, sabia que iria morrer. Maldita a hora em que havia conhecido o soldado Ferreira.
O sol estava muito quente, as areias da praia do recreio estavam queimando os pés dela. Para se aliviar, a única opção que Dayse encontrou, foi entrar na água. Desde cedo ela notara que um cara a observava, esperava que ele fizesse algum tipo de abordagem, só que ele não se aproximava. O cara era bonito, não de rosto, mas tinha um belo corpo sarado, moreno claro. Estava sozinha mesmo, o que viesse era bem vindo. Só que ele nunca se aproximava. Quando ficou com sede, foi até o trailer no calçadão beber uma água mineral, notou que o cara foi atrás dela. Ele a abordou quando ela estava no balcão.
- Posso te convidar pra tomar uma cerveja comigo.
Pensou em dar uma de durona, fingir que não gostou. Porem achou melhor não. Aceitou o convite.
Sentaram numa das mesas, se apresentaram, o nome dele era Orlando Ferreira, disse que trabalhava com compra e venda, pediu uma skol e começaram a papear. Falaram de tudo, do tempo, de filmes, da praia e até de futebol, algo que ela detestava. De uma skol passou pra outras e mais outras. Quando escureceu já tinham esvaziado mais de uma dúzia.
-To dois dias em casa, que tal darmos uma esticadinha daqui pra um lugar mais aconchegante.
- Que lugar. – Perguntou ela como se não soubesse para onde ele queria leva-la e ela tava afim de ir.
- Vamos pra um motelzinho?
- Você não acha que ainda é cedo pra isso. – tentou dar uma de difícil. Só que em seu intimo, ela estava excitadíssima, gostou do cara, queria dar para ele.
- Qual foi Dayse, nós dois somos adultos, eu quero e acho que você também quer. To certo ou to errado?
- Ta bom! Vamos então.
Os dois pegaram suas coisas e entraram no carro dele. Dayse gostou muito do carro de Orlando, um Vectra prateado novinho. Ia fazer sucesso na favela quando ela fosse vista no carro dele, as outras minas iam ficar roxas de ódio. Só que ela era ela que estaria no carro. Tinha dado azar com uns caras vacilões que havia encontrado nos últimos meses, com esse agora parece que tirou a sorte grande.
Foram para um motel de beira de estrada, ficaram lá ate depois do almoço do outro dia. Transaram a noite toda. Orlando não foi o melhor homem da vida dela, valeu a pena, principalmente quando ela lembrava do carro dele.
Passaram a se encontrar quase todos os dias. Orlando era um cara estranho, Dayse não sabia quase nada da vida dele. Tinha dia que se encontravam e ele estava tranqüilo, porem em outros dias ele estava nervoso, com os nervos literalmente a flor da pele, ela não sabia direito qual era o trabalho dele, ela só descobriu o que ele fazia por um acaso.
Dayse se encontrou no centro da cidade com uma amiga que morava no jacarezinho, ficaram o dia todo andando em busca de trabalho, por volta das quatro da tarde, sem encontrar nenhum emprego, Dayse aceitou o convite de dormir na casa dela, para voltarem no outro dia e continuar a procurar emprego. Como a amiga morava no jacarezinho, era somente pegar o metrô e já estava no centro do Rio.
Desceram na estação, mal colocaram os pés dentro da favela, ouviram os fogos.
- Tomara que não tenha tiroteio. – Comentou Adriana, sua colega.
- Aqui tem tiro, lá onde eu moro tem tiro, essa desgraça não acaba nunca.
Já estavam perto da casa de Adriana quando Dayse viu uns três camburões e policiais fortemente armados revistando algumas pessoas. Elas teriam de passar pelo meio dos policiais, como nenhuma das duas devia nada para ninguém, seguiram caminho. O que aconteceu depois, Dayse jamais imaginaria em nenhum de seus sonhos. No meio dos policiais, com um fuzil na mão, Orlando, ou melhor, cabo Ferreira. Quando ele a viu, arregalou os olhos, tentou entrar no camburão, desistiu ao notar que ela já o tinha visto. Dayse tomou um susto, segurou na mão da amiga, ficou pálida.
- O que foi Dayse? Ta passando mal?
- Não to me sentindo bem Adriana, vamos logo pra sua casa. Acho que foi aquelas coxinhas que comi.
- Viu! Te falei pra não comer aquilo, aquele bar estava muito esquisito.
No dia seguinte, Dayse não foi com a amiga procurar emprego, inventou uma desculpa qualquer e voltou pra casa. Ficou o dia todo deitada no quarto esperando um telefonema de Orlando.
Como ele pode fazer isso comigo, sabe muito bem onde eu moro, se os caras descobrem que eu to saindo com um policia, vão expulsar eu e a minha família. Agora eu to entendendo porque tinha dias que ele tava nervoso, era nos dias que a gente se encontravam após o plantão, devia ter trocado tiros ou matado alguém, tenho que terminar tudo com ele. Pensava enquanto esperava o telefonema.
As quatro e trinta e dois o telefone tocou. Em seu intimo ela já sabia quem era.
- Ta maluco, porque não me contou antes. Não podemos falar por telefone. Vamos nos encontrar no mesmo lugar de sempre.
Dayse tomou um banho e foram para o motel onde sempre se encontravam.
- Porque não me falou? - Dayse foi logo perguntando.
- Se eu te falasse, você ia querer ficar comigo ou ir embora?
- Claro que eu não ia querer nada. Eu moro numa favela.
- Gosto muito de você, vou te fazer uma pergunta se a resposta for correta, a gente vai continuar junto, se não for a resposta certa eu sumo da tua vida. Certo?
- Você me engana e ainda quer impor condições. Acho que você não tem esse direito.
- Já que você nem quer me ouvir, só me resta te dizer adeus.
Orlando já se preparava para sair quando ela o chamou. Não custava nada ouvi-lo.
- Ta legal, pode dizer.
- Você tem algum tipo de envolvimento com o trafico?
- Eu não. Simplesmente moro lá com minha mãe, porque não temos condições de ir pra outro lugar.
- Algum parente seu é envolvido com o trafico?
- já te falei que é só eu e minha mãe.
- Me ajuda então?
- Te ajudar como?- Agora ela estava sem entender nada.
- Você não quer sair da favela?
- Quero sim.
- E eu quero meter o pé da policia.
- E daí...
-E daí? E daí que podemos ganhar dinheiro juntos.
- Como?
- Você tenta descobrir onde o chefão de lá se esconde, me conta e pra ele não ir de dura vai ter que pagar uns trezentos mil.
Dayse não conseguiu dizer nada, podia esperar qualquer tipo de proposta, menos essa.
- Você quer que eu vire x9.
- Claro que não.
- Dar bandido é o que. Xisnovar.

GÍRIA DA FAVELA: XISNOVAR
ENTREGAR BANDIDO.

- Claro que você não vai ser x9, vai ser no maximo uma agente infiltrada.
-Sabe o que acontece com x9.
- Claro que sei.
- você quer que eu vá pro microondas?
- Nada disso vai acontecer, seu único contato serei eu.
- Não, não to a fim de fazer isso. – As mãos delas suavam.
- Garanto cinqüenta mil pra mim e cinqüenta mil pra você. Não me responda agora, nem hoje e nem amanhã, pense quanto tempo quiser. Vamos transar to doidinho pra fuder contigo.
Mal acabou de falar, Orlando partiu para cima dela. Ela fudeu. O tempo todo á proposta ficou em sua mente martelando.
Puta que pariu! Se eu aceito essa proposta, eu e minha mãe saímos da merda e eu posso comprar a minha Honda bis, pra ficar tirando onda.
Transaram, tomaram banho, ninguém disse nada. Não precisava, sabiam dos riscos e benefícios de tal plano. Dayse cortou o silencio.
- Como vou fazer pra descobrir as coisa.
- simples. Você conhece alguma garota que sai ou transa com o chefão de onde você mora?
- Ele tem mulher pra caramba. Conheço uma que sai com ele de vez em quando.
- Então, é ai que você entra, faz uma amizade maior com ela e fica de antena ligada.
Dayse queria falar com sua mãe sobre o que ia fazer, só que refletiu bem e achou melhor ninguém saber, só a sua vida em risco já era o bastante. O nome da amiga que saia com o chefão era Cristiane, elas haviam estudado juntas, só que com o tempo a amizade foi diminuindo, diminuindo, até que esfriou totalmente. Como ela iria se reaproximar da ex-antiga amiga?
A oportunidade surgiu quando Dayse soube que iria haver uma demonstração de alguns cremes femininos na casa de Cris, que era demonstradora. No dia anterior a demonstração, Dayse foi na casa dela. Eram umas quatro da tarde quando ele tocou a campainha. A própria Cris abriu a porta.
- Pois não?...- Cris sabia que conhecia quem bateu na porta, só não lembrava direito quem era.
- Oi! não vai ser aqui que vai haver uma demonstração?
- Vai sim.
- o que tem que fazer pra participar?
- È só vir aqui amanhã as quatro horas da tarde, vamos ter demonstração de produtos, limpeza de pele, quem quiser vai poder encomendar produtos.
- Posso vir amanhã?
- Claro que pode.
Dayse já ia se virando, quando Cris fez uma pergunta.
- Nós não já nos conhecemos?
Dayse olhou para ela e sorriu.
- Eu também estava pensando a mesma coisa. Eu acho que nos conhecemos do colégio. Tu não estudou no Brizolão lá da entrada.
- Estudei sim. - Respondeu Cris.
- Eu estudei lá. Lembra da tia Jane?
- lembro. Ela foi minha professora.
- Minha também, então nós estudamos na mesma turma.
- Tenho quase certeza disso. Vem amanhã, você faz a limpeza de pele, vê os perfumes, cremes e depois a gente conversa pra tirar essa duvida.
- Então ta bom, até amanhã então. – despediram-se com um beijo no rosto.
Que merda que eu to fazendo. Pensou Dayse.
No dia seguinte, as quatro horas da tarde, Dayse estava na casa de Cris. Alem dela, muitas outras mulheres, todas ávidas por experimentar as novidades da cosmética moderna. Dayse foi a mais participativa de todas, fez limpeza, comprou uma boa quantidade de cremes miraculosos e conquistou amizade de Cris ao ser a ultima a ir embora, ajudando a agora amiga a arrumar toda a bagunça em que ficou na casa após a demonstração.
- Se lembra daquela época em que ouve um boato da mulher loira. – Dayse com uma pá, pegava alguns pedaços de algodão.
- Claro que lembro. Eu chegava em casa me mijando, não conseguia entrar no banheiro. Que besteira! - - O que uma mulher loira poderia fazer demais?
- Depois de velha que eu fui compreender do que se tratava toda aquela situação, não era o fato dela ser loira ou não, era o fato dela ser uma alma penada.
- Era isso!- Cris ficou parada alguns segundos com uma cara de panaca.
Nesse momento, Dayse notou que ela era nada mais nada menos do que uma garota bonita e burra. Do tipo que os bandidos gostavam de meter a piroca.
- E agora voltou essa onda de boataria, ta todo mundo falando que tão raptando crianças pra tirar órgão e vender.
- Será que é verdade? – Perguntou Cris, curiosa.
- Claro que não! Como que vão tirar órgão de criança sem ser medico e alem do mais eu ouvi uma reportagem na patrulha da cidade, dizendo que nenhuma criança chegou ao IML faltando órgão. É balela. Tudo conversa fiada.
Depois que acabaram a limpeza, Cris olhou as horas.
- Caramba! Dez horas da noite! To morta, nunca mais vou fazer estas demonstrações na minha casa, se não fosse você, ia ficar limpando essa casa ate amanhã de manhã.
- Vai fazer o que amanhã Cris?
- Nada. Porque?
- Vamos pra praia.
Cris pensou alguns segundos antes de responder.
- Vamos sim. Que horas?
- Vamos sair daqui as nove. Tá bom pra você?
- Legal. Então passo aqui as nove.
As nove horas em ponto, Dayse bateu na porta da “amiga”.
- E aí, pronta pra ir? Perguntou Dayse.
As duas passaram o dia todo na praia do recreio, voltaram para a favela as quatro horas da tarde, estavam bronzeadissimas. As duas eram mulheres bonitas, Dayse estava com vinte e três anos, era uma mulata bem queimada de sol, seus cabelos eram bem lisos, pernas grossas, bem torneadas, seus seios eram pequenos, já sua bunda, era grande, bunda de tanajura. Cris também era uma mulher bonita, só que era magra, uma falsa magra, era daquelas mulheres que não pareciam ser gostosas, mais eram, seus cabelos eram louros e tinha belos olhos azuis, em suma, eram duas belas mulheres, que chamavam a atenção dos homens onde quer que fossem.
Quando chegaram na casa de Cris, ela fez um convite.
- Vem cá pra casa hoje a noite Dayse, a gente, aluga um dvd, ficamos vendo o filme, a base de pipoca e guaraná? Que tal?
- Poxa, não vai dar, tenho que ir na casa da minha tia, jantar de aniversario dela, toda a família tem que ir, sabe como é essas reuniões.
- Que coisa chata, aquele monte de velhinho, vão começar a lembrar de quando você era criança, uma chatura.
- Vamos marcar pra amanhã. – sugeriu Dayse.
- Amanhã não da, vou sair com uma pessoa.
- Com quem?
- Segredo. É com o meu amorzinho.
- Que amorzinho é este?
- Segredo de estado.
- me conta quem é.
-Segredo!
As oito da noite, Dayse já tinha transado com Orlando, tomado banho e ambos estavam deitados na cama, conversando.
- Será que esse amorzinho que ela se refere é quem você pensa que é. - Orlando queria ter certeza para botar o plano a frente.
- Pelo o que eu já ouvi dizer, ela sai com o Formiga, e já faz um bom tempo.
- Ela a mina de fé dele?

GÍRIA DA FAVELA: MINA DE FÉ
ESPOSA, MULHER OFICIAL

- Não, ela é amante dele, só que a muito tempo, ele trata ela quase como a de fé.
Depois de ter se encontrado com Orlando, Dayse foi pra casa. Tinha que inventar uma maneira que furar o bloqueio que existia entre ela e Cris, tinha que fazer ela falar, se abrir, só desse jeito saberia de antecedência onde Formiga ia passar a noite. A dificuldade era fazer Cris confiar nela.
Alguns dia depois, Dayse encontrou Cris na rua. Cris estava com uma bolsa muito pesada, Dayse pegou um lado da bolsa e foi até a casa de Cris. Quando deixaram a bolsa no chão da sala, Dayse reclamou.
- caramba que bolsa pesada é essa?
- sabe meu amorzinho, ele esta montando um salão pra mim, eu nem sabia, sabe naquela vez que você me chamou para sair e eu disse que ia encontrar com ele, então a gente se encontrou e depois ele disse que ia abrir um salão pra mim, ele até já alugou a loja, to comprando as coisas para abrir o salão. – Cris olhou para Dayse. – você já trabalhou em salão?
- já mais eu não sei fazer cabelo, eu faço unha.
Cris sorriu.
- então que tal trabalhar comigo no salão?
- poxa vai ser ótimo, por dois motivos, primeiro que eu estou desempregada e segundo que vou trabalhar perto de casa. Onde fica a loja?
- a loja fica lá perto da praça.
Nos três dias seguintes, as duas trabalham que nem louca para inaugurar o salão, fazendo compras, esperando os caminhões de entrega e no sábado, finalmente conseguiram abrir o salão. E o salão bombou, pois as mulheres dos outros traficantes, foram quase todas ao salão. Já eram quase sete horas da noite, quando um grupo de traficantes armados chegaram na porta do salão e pararam, cercado por cerca de dez traficantes, Formiga armado até os dentes, com um fuzil, uma pistola e uma granada entrou no salão enquanto os outros homens ficaram em pontos estratégicos para dar proteção a Formiga. Ele foi o único que entrou no salão. Olhou para as instalações, olhou para as pessoas que estavam sendo atendidas por Cris, Dayse e Cidinho um gay amigo de Cris, que cortava cabelo muito bem.
- Legal esse salão, ta bem bonito. Gostou Cris?
- se gostei!? Eu adorei!
Formiga se aproximou dela e deu-lhe um beijo na boca, um tapinha na bunda e foi embora. Não sem antes dar um olhar insinuante para Dayse, que apenas fingiu dar uma risadinha tímida. Nesse momento ela soube que Formiga ia tentar de algum modo sair com ela. Foram embora todos os traficantes, continuaram sua ronda favela a dentro.
- ainda bem que ele gostou.
- esse aí que é seu amorzinho? – perguntou Dayse, fingindo não saber.
- é ele mesmo.
- você não tem medo de se meter com essa gente?
- medo eu tenho sim, mas ele é muito legal, me banca, me da do bom e do melhor e a gente nunca fica na favela, a gente se encontra sempre fora. Ele diz que eu sou especial.
- e você acredita?
- que diferença isso faz. Vamos voltar para o trabalho.
Menos de quarenta e oito horas depois, a intuição de Dayse se confirmou. Ela estava indo para casa almoçar quando foi parada por um moleque.
- Aí o patrão quer falar contigo.
- comigo? – fingiu-se de desentendida.
- com você mesmo. Vou te levar onde ele está.
Caminharam cerca de duzentos metros e entraram numa casa de dois andares, muito bonita. Dayse pensou que ia encontrar na casa um monte de homens armados, um monte de drogas espalhadas pelo chão, pelo contrario, encontrou uma casa normal, onde crianças brincavam no quintal tomando banho numa piscina de plástico, uma mulher estendia roupas, ninguém deu a mínima para ela. Entrou na casa e sentado no sofá, sem camisa, vendo um desenho animado, Formiga e mais um cara que estava numa poltrona sentado. O moleque que a levou lá se aproximou do outro homem e recebeu dez reais. Formiga desligou a televisão e pediu que outro homem se retirasse da sala e fechasse a porta. Depois ele se levantou, colocou a camisa e foi na direção dela. Dayse observou bem Formiga, ele não era feio e nem bonito, era um cara baixo, porem forte e atarracado. Muito branco, sabia que teria de transar com ele, faria isso somente porque queria muito o dinheiro, pois se fosse em outra situação ele jamais conseguiria leva-la para a cama, não fazia o tipo dela.
- me desculpe ter pedido que você viesse aqui onde eu estou escondido, mas aqui é a casa de uma amiga de minha mãe e é tranqüilidade. Olha só eu sou um cara que vou direto ao assunto. Nunca tinha visto você com a Cris e te achei muito bonita, tava a fim de sair com você. Pode ter certeza que você não vai se arrepender de sair comigo.
Cris olhou serio para ele.
- e a Cris?
- o que tem a Cris?
- se ela descobrir?
- se ela descobrir não vai poder fazer nada, não sou marido dela nem nada, mas é claro que a gente não vai querer que ela saiba. Ou vamos?
- claro que não!
- então é essa parada! Vamos sair hoje a noite, se arruma e lá para as oito da noite um amigo meu vai buzinar na porta da sua casa e vai te levar até onde eu estou.
- ta bom. Vou estar esperando.
Dayse saiu da casa sorrindo. Tudo vai dar certo. Pensou.
As oito da noite em ponto, ouviu uma buzinada na porta de casa, saiu sem ao menos se despedir da mãe. Quando abriu o portão, um táxi estava esperando por ela. O motorista abriu a porta e ela entrou no carro. Foram para um shoping na barra da tijuca. Encontrou Formiga na praça de alimentação. Ele que se aproximou dela, porque se ele não fosse ao encontro dela, ela talvez não o reconhecesse, ele estava bem vestido, barba bem feita, estava totalmente diferente do bandido que andava armado na favela.
- nem te reconheci! – disse ela sorrindo.
- aqui eu não sou o Formiga, aqui eu sou apenas o Joel Luiz.
O motorista do táxi se despediu de Formiga, dizendo que estava no estacionamento, no mesmo lugar de sempre.
- vamos jantar primeiro, depois a gente vê um filme e vamos para um lugar mais legal, onde a gente possa ficar a sós.
Foram para um dos restaurantes mais caros do shopping, Formiga disse que de vez em quando tinha que fazer esse tipo de programa, pois só assim ele podia esquecer os problemas relacionados a sua profissão e que ali ninguem iria desconfiar de quem era ele e do que ele fazia. Disse que gostava também de jantar nesse restaurante, pois tinha de variar, as vezes ficava cansado de comer as quentinhas das pensões da favela. Dayse sabia que ele estava tentando impressiona-la. Só que ela não queria saber de nada disso, se era pra dormir com ele, que fosse logo. Mas o que interessava mesmo para ela, era saber com antecedência onde ele iria dormir e isso significava ter de dormir com ele algumas vezes para que ele adquira confiança nela. Perguntar onde ele vai dormir, ela nunca poderá perguntar, pois se ele disser e ela vender a informação, ele vai saber que foi ela, tem de ouvir sem que eles saibam. Depois de jantarem, foram para o cinema, assistiram uma comedia, depois eles compraram algumas coisas e foram para o motel.
Na cama Formiga foi um verdadeiro fracasso, alem de foder mal, ter ejaculação precoce, ainda tinha o pau pequeno. Com certeza, foi a pior foda da vida de Dayse e o pior de tudo, ainda era ter que fingir que estava gozando, que estava adorando transar com Formiga. Depois de duas fodinhas mal dada, ele pegou no sono. Chateada ela adormeceu cerca de duas horas depois. Quando acordou as sete e meia, Formiga já não estava mais no motel, em cima do criado mudo, ela encontrou um bilhete. “ tive um problema la na favela, tive que voltar na madruga, como você dormia igual um anjo, não quis te acordar, pode ficar no motel até a hora que você quiser, já esta tudo acertado, vou te deixar meu telefone, qualquer coisa me liga.” Dayse pensou em chamar Orlando para ficar com ela no motel, pensou melhor e achou mais prudente não, pois se algum funcionário do motel visse e falasse com Formiga, ele estaria ferrada. Voltou a dormir, acordou as onze horas e foi embora para casa.
Quando contou para Orlando que já fizera contato com Formiga, ele ficou muito alegre. Ela pensou que ele fosse implicar pelo fato dela ter transado com Formiga. Ele disse que fazia parte, mas ele sabia que o coração dela pertencia a ele. Mandou ela ficar de olho e assim que soubesse de algo, o avisasse. Que ele iria na mesma hora pegar a viatura e prender o filha da puta.
A oportunidade surgiu cerca de três meses depois que Dayse tinha começado a sair com Formiga. Era uma segunda-feira, ia dar duas da tarde, Formiga mandou um motoqueiro buscar ela em casa e leva-la para o esconderijo onde ele estava passando o dia, ali eles almoçaram e transaram. Ela ficou com ele até as seis da tarde, estava indo embora quando ouviu a seguinte conversa.
- aí patrão, se liga! Sabe aquela cachanga la da rua 12, lombrou o bagulho lá e a casa caiu. Não vai dar pra dormir la não. – disse um dos seguranças dele.
- caralho! La é tranqüilo! Mas se ficou pichada fudeu! Então é o seguinte, vamos ficar por aqui mesmo. Vamos sair e depois só nós dois voltamos pra ca.
Depois de ouvir tudo, Dayse saiu do banheiro e se despediu de Formiga.
- to indo hein! Fazer janta pra minha mãe.
- pra que fazer janta, toma um dinheiro aqui e liga para um restaurante e pede comida pra vocês duas. – Formiga meteu a mão no bolso e deu cem reais para ela.
Dayse pegou um moto táxi e foi para casa, direto para seu quarto, ligou para Orlando e contou tudo. Depois perguntou se eles iam matar alguém.
- Não posso te prometer isso! Se atirarem na gente, vamos ter que atirar de volta.
Depois do telefonema de Dayse, Orlando ligou para dois outros policiais e marcaram tudo para seis horas da manha do dia seguinte. Eles iriam num carro da policia, porem essa batida não era legitima, eles estavam indo por conta própria e por esse motivo nada podia dar errado, eles estariam por sua conta e risco, não poderiam pedir apoio de mais ninguem, pois se pedissem ajuda teriam de dividir dinheiro com os policiais que fossem até a favela dar cobertura para eles, pois o silencio de muitas pessoas custa muito caro. Apesar de ser ilegal, a abordagem foi bem sucedida, pegaram Formiga dormindo, não foi disparado um único tiro, ninguem se feriu. Levaram Formiga para um terreno baldio.
- Não queremos te prender, não queremos te matar, só queremos dinheiro para não te levar de dura, pois se você for preso sabe que no mínimo vai pegar uns vinte anos. – explicou Orlando.
- ta tranqüilo! To ligado que eu perdi, mas depois vamos conversar, vocês vão me vender o x-9.
- essa parada, primeiro queremos trezentos mil agora, depois a gente conversa. – os olhos de Orlando brilharam perante a possibilidade de ganhar mais dinheiro.
Formiga ligou para seu advogado, mandou ele trazer quatrocentos mil reais, trezentos mil pela liberdade e mais cem mil pelo x-9. ficaram cerca de duas horas no meio do mato aguardando o advogado chegar com o dinheiro. O advogado abriu a maleta, Orlando e os comparsas contaram o dinheiro, tiraram as algemas de Formiga, ele entrou no carro do advogado, antes de sair Formiga falou com Orlando.
- quem me xisnovou?
- tua nova namorada. – respondeu Orlando sem a menor culpa.
O porta mala foi aberto e Dayse foi retirada violentamente de dentro do porta mala. Estavam num terreno abandonado, numa localidade um pouco afastada das ultimas casas da favela, todos que iam para lá amarrados, não voltavam, ali era conhecido como microondas. Alem de Formiga, mais um dez traficantes armados até os dentes.
- ninguem bate nela. – ordenou Formiga. – porra porque você fez isso, não precisavaera só me dizer o que você queria que eu te dava, teu amiguinho me disse que era você, eu não acreditei. Aí quando vi você com uma moto novinha desfilando pela favela, tive certeza que foi você, eu poderia te dar mais de dez motos. Ela é toda de vocês.
- não me mata não, me perdoa!
- X9 não tem perdão, é microondas e ainda mais mulher, vai ter que dar pra todo mundo antes de morrer.
Depois da ordem de Formiga, alguns dos bandidos, cerca de sete deles, partiram para cima de Dayse, rasgaram suas roupas e ela começou a ser estuprada. Foi estuprada de todas as maneiras possíveis, depois tomou uma surra de madeira, onde quebraram suas pernas, braços, cabeça e antes de desmair colocaram um monte de pneus velhos em cima dela, jogaram gasolina e atearam fogo.
Nunca encontraram seu corpo.


Julio Pecly

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

VIA SEDEX

Pedro e Bruno se conheceram num final de tarde, dentro do banheiro de um cinema pornô, no centro do Rio de janeiro. Cinemas como aquele são comuns nas grandes cidades, seus freqüentadores são pessoas de todas as clases sociais, homens de negócio, estudantes, garotos de programa, travestis, uns poucos casais de namorados, homossexuais convictos, outros nem tanto, todos entretanto com um único objetivo em comum, sexo. O que está sendo exibido na tela, muitas vezes é o que menos importa, já que a diversão maior acontece mesmo é na platéia, ou nos banheiros.
Bruno era casado, pai de quatro filhos, empresário bem sucedido, um tipo atraente sem ser bonito, branco, seus metro e setenta de altura, magro, beirando os quarenta e entrou naquela sala de projeção atraído pelo anúncio de “DOIS FILMES PORNÔS TODOS OS DIAS”. Bruno ficou curioso, tivera um dia tenso e queria relaxar, conhecer algo novo, diferente, não estava necessáriamente em busca de aventura, mas instigado pela curiosidade masculina, resolveu entrar e logo percebeu que a imensa maioria das pessoas ali presentes eram do sexo masculino também. Uma vez lá dentro, Bruno se dirigiu ao banheiro, estava nervoso e queria mijar, sentia uma sensação adolescente, que há muito não sentia, estava transgredindo a ordem da pacata e previsível vida que levava, da casa para o trabalho, do trabalho para casa, as vezes uma pizzaria com a mulher e os filhos, futebol no final de semana com os amigos, ver o Fluminense jogar no maracanã de vez em quando, e uma ou duas vezes por semana, fazer amor com a patroa, com quem era casado há mais de quinze anos.
Assim que entrou naquele banheiro mal iluminado, Bruno percebeu uma movimentação estranha, lenta, esfumaçada. Vários homens em atitude suspeita, desconfiada, se revezavam nos mictórios e nos dois únicos reservados do lugar. Bruno esperou que um dos reservados desocupasse e quando dois rapazes saíram lá de dentro, ele entrou e mijou, quando saiu deu de cara com Pedro, um moço que aparentava seus trinta anos, moreno, corpo atlético, um pouco mais baixo que ele, e que estava plantado na porta entreaberta do reservado, observando Bruno se aliviar. Os dois se encararam rapidamente e Pedro entrou, deixando a porta também entreaberta. Bruno não conseguiu sair daquele banheiro de imediato, estava preso por uma estranha excitação que nunca sentira antes e ficou ali, em pé, diante da porta entreaberta aonde podia ver o corpo de Pedro na penumbra, olhando para ele, com o pau pra fora, como se estivesse mijando. Bruno começou a suar frio, tremia da cabeça aos pés e tinha a boca seca, seu o coração batia num ritmo acelerado, foi quando percebeu que Pedro estava excitado, o pau duro, e fazia sinal com a cabeça para que Bruno entrasse naquele pequeno quartinho.
Sem racionar, sem saber porque, num ímpeto, Bruno entrou e assim que estava lá dentro Pedro fechou a porta e a trancou por dentro, em seguida, abriu a braguilha da calça de Bruno, que já estava excitado, e tirou o pau dele pra fora, começando a masturba-lo lenta e suavemente, depois se abaixou e engoliu aquele pau branco rosado, marmóreo, com boca gulosa. Bruno se esqueceu do mundo por uns segundos, estava tonto, deliciado, nunca ninguém o havia chupado daquele jeito. Quando já estava quase gozando, Pedro se levantou e segurou o pau de Bruno com força, impedindo que o gozo saísse, depois tentou beija-lo na boca. Bruno afastou o rosto. Pedro então colou Bruno contra a porta e sussurrou dentro do seu ouvido:
- Meu nome é Pedro, gostei de você, vamos sair daqui, eu moro aqui perto, moro sozinho e vou fazer você gozar como você nunca gozou na vida.
Bruno estava cego de tesão, um tesão animal, tinha vontade de gritar, de bater naquele cara que o imprensava contra a porta do reservado escuro. Ele sentia o corpo de Pedro colado ao seu, quente, transpirando, o pau do outro latejando nas suas pernas, por sobre as calças frouxas, a respiração do outro ofegante no seu pescoço. Ele disse não com a cabeça, a voz lhe faltava, mas Pedro o apertou ainda mais forte contra a porta, com uma mão segurava firme o seu pau enquanto que com a outra pegou a mão de Bruno e levou até ao pau dele. Bruno não resistiu e sentiu o pau macio e rijo de Pedro latejando em sua mão. Todo homem é um heterossexual convicto até o dia em que ele pega no pau de outro homem.
Pedro era um jornalista desempregado, que vivia de pequenos bicos em agencias de publicidade sem expressão ou escrevendo artigos para jornais independentes. Ele Morava sozinho num apartamento conjugado, alugado num prédio antigo, em um bairro próximo ao centro da cidade. Os dois saíram do cinema para o apartamento de Pedro que cumprira o que prometera, fizera Bruno gozar como nunca havia gozado antes. De todas as formas de amar eles se amaram e os encontros foram se repetindo sucessivamante, sempre no apartamento de Pedro, pois era mais seguro para Bruno, longe do bairro em que ele morava e também longe da sua empresa. A única condição que Bruno impusera ao seu amante é que ele nunca daria ao Pedro, nem telefone, nem endereço, pois queria manter o seu casamento e a sua família a salvo daquela loucura. Apenas o Bruno procurava o Pedro, apenas o Bruno ligava para o Pedro, e aparecia quando queria e podia. Pedro aceitou o jogo, pois Bruno o ajudava nas despesas da casa, pagava as contas, fazia o mercado, enchia Pedro de presentes e Pedro, foi se acostumando àquelas comodidades que o seu amante lhe proporcionava.
Tudo na vida é secreto, mas até o segredo mais fundo, mais cedo ou mais tarde sempre é descoberto. Bruno estava totalmente transtornado com a nova vida, relaxou nas precauções, excedeu horários, que passaram a ser cada vez mais confusos. Sua mulher acostumada à boa vida que o marido lhe dava, passou a ficar desconfiada. Por várias vezes não encontrava o marido no escritório em horário de expediente, ele chegava sempre muito tarde. Era uma amante, ela não tinha dúvidas. Encostou o marido na parede. Ele negou, mas as suas desculpas não convenciam. Ele não procurava mais a mulher e ela agora já estava convicta de que o marido tinha outra. Silenciosamente passou a seguir os passos do marido por conta própria, tinha tempo de sobra para isso. Ela não queria perder o status que aquele casamento lhe dava para outra e apertou a vigilância, controlando horários, as ligações telefônica, checando a memória do celular do marido religiosamente. Nada. Nenhuma pista concreta para aquela mudança radical no comportamento do esposo. Passou então a seguir os passos dele ainda mais de perto. Ele saía, ela dava um tempo, pegava o carro e saía atrás. Dava horas de plantão na esquina da rua da empresa da família, esperando que ele saísse e seguia atrás, sem que ele percebesse que estava sendo seguido.
Finalmente ela chegou ao endereço que ele repetia todos os dias sem falta, inclusive aos sábados quando ele dizia que ia jogar futebol com os amigos, inclusive aos domingos, quando ele dizia que ia ao maracanã ver o Fluminense jogar e era dia de Flamengo e Vasco. Todos os dias ele ia ao mesmo endereço, um prédio antigo, num bairro próximo ao centro da cidade.
De repente Bruno sumiu. Não ligava mais, não aparecia mais e como Pedro não tinha nem telefone nem endereço do amante, ficou a ver navios. Passaram três, quatros dias e nada, Bruno sumira sem deixar rastro. Não tinha havido nehuma briga, nenhum desentendimento, nada, tudo estava indo normalmente bem, sem conflito e sempre com muito prazer para os dois. Pedro estava pirado, procurava e não encontrava uma razão lógica para o sumiço do seu amante.
Passado uma semana do desaparecimento de Bruno, Pedro chega à portaria do prédio onde morava e o porteiro lhe entrega uma caixa do sedex endereçada a ele, Pedro de tal. No remetente, um nome que ele desconhecia, Maria de tal. Pedro recebe a caixa e sobe até o seu apartamento, curioso por saber o que ela continha. Ao chegar em casa Pedro começa a abrir a caixa cuidadosamente e logo sente um cheiro forte de formol. Dentro da caixa um vidro de maionese envolvido num papel branco e colado ao vidro, um bilhete escrito com letra bem desenhada, provavelmente de mulher, que dizia: “ELE LHE DEU PRAZER E ME DEU QUATRO FILHOS LINDOS. AGORA ELE NÃO TEM MAIS SERVENTIA NEM PARA VOCÊ NEM PARA MIM”. O coração de Pedro gelou. Aos poucos ele foi descolando o papel grudado ao vidro de maionese e descobrindo o seu escabroso conteúdo. Era o pau de Bruno, cortado com saco e tudo, embebido em formol e enviado para Pedro, num vidro de maionese, via sedex, provavelmente pela viúva do seu ex-amante.

Ricco Duarte

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O bêbado que tomou um pau

Começou a tomar cachaça as duas horas da tarde, ganhou dinheiro capinando o quintal de uma senhora de idade que morava sozinha e não tinha ninguém para ajuda-la. Ganhou trinta reais, foi direto para o bar do Toinho.
- Qual foi toinho! Bota aquela mineira ai pra mim! Dois dedos, um bem separado do outro. – Todos no boteco riram
Toinho encheu o copo, Zeca tomou de uma talagada só. Desceu queimando, só que a goela dele já estava acostumada, afinal de contas, tomava cachaça desde os oito anos de idade. A segunda ele tomou mais devagar, em duas talagadas.
Da de minas passou, para a boa idéia, depois para que é da roça mesmo, depois dessas, não importava mais a marca, tomava qualquer uma. A noite foi caindo, Zeca não tinha mais noção de horas. Sentiu uma vontade danada de urinar, levantou quase caindo e foi ao banheiro, chegou lá e se aliviou, chegou a suspirar, tamanho o alivio que sentiu. Quando foi fecha as calças, notou que ela estava fechada. Havia urinado nas calças.
Assim que saiu do banheiro, Toinho ao vê-lo todo mijado, balançou a cabeça negativamente.
Merda, esse bêbado filha da puta mijou meu chão todo, tenho que limpar logo, mijo de bêbado é a coisa mais fedorenta do mundo. Pensou o dono do bar. Antes de pegar um balde de água e o cloro, Zeca pediu mais um copo. Toinho serviu. Teve uma vontade de dar cloro para o cachaceiro, quem sabe assim seu mijo iria feder menos. Serviu e foi limpar a imundície.
Toinho tinha de servir quanta bebida Zeca quisesse, pois ele sempre o pagou em dia, nunca ficou devendo. Na favela Zeca era considerado, pois bebia, mas sempre estava pronto pra trabalhar, capinava, limpava esgoto, desentupia fossa, arrumava telhado, tudo por um precinho bem pequeno, uma quentinha e mais um trocado para tomar uma cachaça.
Ninguém ao certo sabia porque ele bebia tanto, ao ponto de estar se auto destruindo aos poucos. Quem o conhecia a muito tempo, dizia que ele fora militar do exercito e que começara a beber quando foi abandonado pela noiva um dia antes de casar. Diziam também que ele começara a beber após um desastre de carro ter matado toda a sua família. Diziam que ele, a mulher e as duas filhas pequenas vinham de um churrasco em Caxias, na casa de um parente da mulher. Zeca tinha bebido em demasia, como dirigia bêbado, estava sem reflexo e ao tentar ultrapassar um ônibus, caiu numa ribanceira, somente ele sobreviveu. Daí caiu no alcoolismo, como não tinha coragem de se matar de uma vez, matava-se aos poucos. Fosse qual fosse a causa de seu alcoolismo, Zeca levava uma vida difícil, não era sempre que tinha comida, as vezes passava ate três dias sem comer, se tivesse de escolher entre a comida e a cachaça, ficava com a segunda. As vezes chegava em casa bêbado e ia dormir, acordava de madrugada sóbrio, ficava na cama pensando.
Que vida desgraçada, porque não me leva logo daqui deste inferno meu Deus, ou o diabo, sei lá, um dos dois. Não tenho motivo pra viver, to cansado. Não tenho amigos, não tenho minha família. Queria ter coragem de me jogar debaixo de um ônibus, só que sou frouxo demais pra fazer isso. Tenho que me matar aos poucos nesta maldita cachaça. Chorava só na sua casa suja, fedendo a urina e a sexo solitário. Para voltar a dormir tinha que tomar uma dose da que ficava estrategicamente escondida debaixo de sua cama cheia de percevejo.
Saiu do bar por volta das três da madrugada, so foi embora porque o dono tinha de fechar, se não ele ficaria por la mesmo. Foi embora tropeçando, costurando a rua. Estava ainda no meio do caminho quando sentiu novamente uma vontade louca de mijar. Nem sabia onde estava.
Agora vou abrir minhas calças pra não me mijar de novo. Encostou num muro e abriu as calças, que desceram, deixando sua bunda de fora. Tentou puxar as calças e continuar urinando, não conseguiu. Ficou ali mijando com as calças arriadas. Quando ia embora se virou para a rua, com as calças arriadas, com o pênis de fora. Deu azar, estava de frente para a boca. Que só tinha menor neurótico.

GÍRIA DA FAVELA: MENOR NEURÓTICO
MENORES DE IDADE QUE ESTÃO NA BOCA E NÃO TEM MEDO DE MORRER, NEM DE MATAR, QUE GOSTAM DE BATER OU MATAR QUEM VACILA.

- Olha só – Apontou um dos moleques. – o coroa ta mostrando a pica pras pessoas.
Só que ele esqueceu foi de dizer que naquela hora da madrugada, só tinha na rua, bêbados, piranhas, viciados e traficantes. Todos os moleques se viraram na direção de Zeca, pegaram paus e foram na direção de Zeca.
- Qual foi cascudo, ta mostrando a pica pros outros. - Disse um dos moleques.
Zeca tentou dizer algo em sua defesa, não teve tempo, os moleques partiram pra cima dele e começaram a dar porradas, pauladas, chutes.
Cinco minutos depois Zeca estava no chão, todo machucado, uma fratura exposta na perna, traumatismo craniano, deslocamento de alguns órgãos internos. Ficou ali desmaiado ate quando passou uma Kombi, seus próprios algozes a pararam e mandaram o motorista leva-lo para o pronto socorro.
Zeca ficou internado cinco meses, teve alta .
Bebeu cachaça até morrer dois anos depois.

Julio Pecly