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sexta-feira, 12 de março de 2010

O Drama de Um Detetive Sentimental em Busca de um Serial Killer Amoroso

Já faz duas semanas que estou no encalço deste perigoso meliante. Ele é um mistério, e os mistérios são tão fascinantes! Há duas semanas que mal como, não durmo, e não paro de pensar. Pensar é meu mal. Meu maior defeito. Minha doença. Quem me dera poder calar o meu pensamento. Quem me dera poder enfiar uma faca nele, ou dar um tiro de trinta e oito. Quem sabe assim ele não se cala! Pensamento idiota! Parece um garoto burguês, birrento e hiperativo. Pula, grita, apronta, chora, corre veloz e irrefreável. Mas nunca para. Nem na hora de dormir! Quisera eu ter um trinta e oito! É nessas horas que me arrependo de não ter servido o exército. Agora tenho que tolerar esse moleque birrento. Atualmente ele só quer buscar uma coisa: encontrar esse terrível meliante. Ele é minha obsessão, meu eixo, meu objetivo, meu alvo. Eu não sou normal. Não sou uma pessoa centrada, organizada, batizada, coisada. Eu tenho sérios desvios de personalidades. E a principal delas, a minha marca de nascença, é justamente a minha obsessão doentia por mistérios. Os mistérios são tão fascinantes! Quando pequenino, meu desenho favorito era Scooby Doo. Mas com o tempo eu vi que todas as soluções eram tão óbvias que nem valia a pena assistir. A única coisa que realmente me fazia assistir o desenho era a Velma, que fazia o meu gênero de garota. Até hoje tenho esse padrão de beleza. Sempre me interesso por garotas que tenham esse mesmo estilo dela, e, principalmente, a mesma inteligência dedutiva. Isso é justamente o que a deixava mais sexy! O jeito como ela graciosamente resolvia os mistérios... Sempre busquei a minha Velma nas garotas com quem me relacionei. Busco nessas garotas aquilo que não pude realizar com a Velma, já que ela é só um cartoon. Ah, quem me dera, conhecer Hanah e Barbera, para me dar uma Velma! Amanheci com um jeito meio poético hoje. É o que acontece comigo sempre que eu amanheço por mais de três dias sem pregar os olhos. Vai ver que é por isso que eu pisco tanto. Quando eu cresci, comecei a me interessar por coisas mais adultas, como Batman e Death Note. Nossa, L era meu ídolo, e Raito era meu ídolo! Meus olhos faiscavam de ver os dois se enfrentando em jogos de mistério tão acirrados! Algumas vezes, não muitas, eu conseguia me antecipar a eles, e prever algumas reações. A sacada é que eu não agia como se fosse uma situação real. Eu nunca tentei entrar na mente de L ou de Raito Yagami. Porque eu sabia que o mundo em que essa história acontecia, por mais similar que fosse com o nosso, ainda era um mundo que só existia na mente insana do autor. Aí é que eu entrava. Sempre tentei entrar na mente de Takeshi Obata. Ele era meu objetivo. Eu desvendei a mente dele. Sim, posso dizer isso sem medo de ser pedante. Nos últimos volumes do mangá, eu já era capaz de "adivinhar" cada passo do próximo. Eu me sentia o próprio autor. EU era Takeshi Obata! Meus colegas da época chegavam a ficar putos, porque eu sempre adivinhava o próximo volume. Alguns, indignados, pararam de comprar. Achavam que eu havia descoberto alguma fonte secreta por onde as resenhas estavam vazando. Não deixa de ser verdade. A fonte era a própria mente de Takeshi Obata. Nessa mesma época, comecei a conhecer meus mestres, irredutíveis: Augustin Dupin, que vem a ser um avatar de Edgar Allan Poe, Hercule Poirot, que vem a ser um avatar de Aghata Crhistie, e Sherlock Holmes, que vem a ser um avatar de Sir Arthur Conan Doyle. Não faço nada sem consultar meus mestres. Claro, sem contar com inúmeros outros não mestres mas que foram essenciais para o aprofundamento do meu desvio de personalidade, como Rubem Fonseca, com seu Mandrake, ou Marcos Rey. De certa forma, eles foram responsáveis pela minhas exdrúxulias. São meus mentores. Meu professor Xavier. Eles me ensinaram a usar minha loucura, ou habilidade. Eu via mistérios em tudo, e tentava decifrar tudo. Resolvia todas as questões de matemática antes de o professor passar pro resto da turma. Cruzadinha? Sudoku? Era o primeiro. Nas provas eu nunca estudei. Sempre descobria as respostas só de ler as questões e observar o meu redor, e recorrer à minha memória que é como um gravador. Eu só ouvia os professores falando. Nunca anotei nada. Eu até decorei todas as normas de geografia. Sabia citar de cor. Uma vez eu usei as regras dele contra ele mesmo. Óbvio que eu fui suspenso por três dias, porque ninguém pode desafiar a autoridade escolar e ficar impune. Ainda que saia como herói. Foi então que eu descobri que nunca se deve entrar em confronto direto com os alvos. Eu comecei a endoidar cedo, e hoje eu vivo da minha loucura, da minha capacidade de dedução. Minha mãe sempre achou que eu não ia ganhar dinheiro, que eu não fazia nada, não tinha nenhuma especialização, só ficava vadiando com aqueles quebra-cabeças ridículos. O único quebra-cabeça que eu nunca consegui montar até hoje foi minha mãe. Não sei se é porque ela tinha a cabeça dura. Nunca vou entendê-la. Nem August Dupin pode entendê-la. É com um gosto frio de vingança que eu mando um dinheiro pra ela todo mês. Eu nunca vi o rosto dela nem o que ela fala, mas pra mim é muito fácil deduzir. Olhe pra mim agora, mamãe! Eu vivo da minha loucura, eu compro suas pílulas com a minha loucura. É essa loucura que quer me levar ao fim.



Esse larápio desgraçado está consumindo todas as minhas energias. Só penso em desvendar esse mistério dia após dia. Esse é um dos mistérios mais difíceis da minha vida: perseguir um serial killer sentimental. Nunca fiz isso antes. E sabe o que é mais assustador? É que a vítima sou eu. Eu sou um investigador precoce da minha própria morte. Sou o abutre da minha própria carniça, eu que sempre me alimentei da carniça dos outros.


Eu sei que todo serial killer tem um desejo oculto: ser descoberto! Sim, essa é a ironia de toda a história. O serial killer é, por natureza, uma espécie de artista, e todo artista só que uma coisa: chamar atenção. Ainda que isso seja permeado por outros fatores, como por exemplo: a busca da beleza, ou a transformação social. Os serial killers são capazes disso tudo, e precisam de muita "arte" para fazer o que fazem. E, é obvio, eles querem reconhecimento, e até recompensas por isso. Com um killer sentimental não havia de ser diferente. Ele quer ser reconhecido, ele quer que eu o pegue. Nós somos personagens de um "teatro do improvável" sinistro. Somos os atores de um stand up comedy demoníaco. Temos funções bem definidas: o killer quer ser perseguido, e eu quero perseguí-lo. Mas por que ele quer ser perseguido? É justamente isso que me intriga. Porque se eu descobrir isso, então terei matado a charada. O que o serial killer quer comigo? Quer me matar? Quer se vingar de mim? Quer me destruir? Pegar meu dinheiro? Sugar o meu cérebro? Tudo o que sei é que esse killer é tão doido quanto eu. Somos como o Batman e o Coringa. Batman não mata o Coringa por princípios, e este mata o Batman porque ele o diverte. E até certo ponto, será que o Coringa, na verdade, não diverte o Batman? Será que o Batman ama o Coringa? Não quero injetar nenhuma conotação homossexual aqui. Quero apenas ilustrar minha relação com este serial killer. Os serial killers tem um jeito próprio de chamar atenção para si, de serem pegos: Eles deixam rastros. Rastros que são feitos para parecer displicência, para parecerem que não devem ser seguidos, mas na verdade são cuidadosamente deixados no caminho. E o padrão. Seria tolice achar que sou a única vitima desse killer, assim como o killer não é meu único caso. Mas atualmente é minha mais forte obsessão. Eu não desisto enquanto não resolvo um mistério. Essa é minha vida, minha paixão, o único rumo da minha estrada entediante.


O serial killer em questão já deixou algumas vítimas pelo caminho: um bobo da corte, um trovador e agora um menestrel. Dá pra perceber aí uma certa predileção, mas confusa. O único que obteve a graça do serial killer, até o momento, foi o menestrel. A única coisa certa é que nenhum deles tem mais alma nem coração. Onde está o coração deles? Mergulhado num vidro de formol? Trancado numa caixa de vidro? Porque tanta fome por músculos cardíacos? Eu queria saber. E também porque o meu está na lista negra (ou na hot list?). Há uma outra vítima cuja identidade é desconhecida ainda. Quem será? O bobo? O trovador? O menestrel? O detetive? Outro? Ela está morta ou ainda vai morrer? Ou talvez seja o primeiro serial killer que deu início ao ciclo de mortes... Talvez seja um killer que tenha destruído a alma do meu atual alvo... Há ainda muitas pistas avulsas: Canções, muitas canções, que, ousadamente, o killer me envia às vezes, como um desafio. Prenda-me, se for capaz! AH! Minhas faces queimam por esse mistérios. Minhas zonas erógenas ficam túrgidas ante tal ensejo! Que relação oculta terão estas canções de ninar com todo o mistério? E, finalmente, que relação terão com aquela chave... A chave que revelará o segredo do meu futuro, do meu triunfo ou da minha morte! O que me faz pensar... o que farei quando desvendar o mistério? Por que farei quando despir a verdade ante meus olhos, e vê-la nua e pura para mim? Porque perseguir tão avidamente um mistério que pode revelar minha desgraça? Porque tentar descobrir algo que talvez eu não queira saber? Então eu acho a resposta em mim mesmo, na minha compulsão. porque minha função não é entender o que acontece, minha função é revelar o segredo, sem me importar com o que vai ser feito dele. Essa é minha sina. Essa é minha compulsão. Talvez eu seja o verdadeiro serial killer! Talvez eu seja o killer sentimental que tanto persigo, ou um killer de mistérios, tentando matar, de mistério em mistério, os segredos do meu próprio coração. E talvez eu nunca descubra, porque o maior mistério de todos é a natureza humana.










Bem, as opções são limitadas: ou eu pego o serial killer, ou o serial killer me pega, ou talvez eu me entregue ao verdadeiro mistério: a mo

Devana Babu

2 comentários:

  1. Parabens pelo blog e pelos contos, se possivel coloca mais uns contos de detetive ok.

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