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segunda-feira, 14 de maio de 2012

Algumas Palavras

Ao ouvir a cela sendo aberta, Seu Mauro soube que tinha sido escolhido, pois ninguém mais tinha motivo para ir em sua cela. Foi levado direto ao laboratório onde ficava a maquina. Todos os movimentos que fez, foram ordenados por alguém. A única decisão que pode tomar foi escolher o dia, a hora e o local em que poderia voltar. Entrou na maquina, fechou os olhos e quando abriu estava na rua onde havia crescido. Ali estava grande parte de suas lembranças. Dona Maria varrendo, os velhinhos jogando baralho, seus amigos de infância jogando bola. Porem nesse dia ele não jogava bola. Estava prestes a cometer seu primeiro erro. Foi o mais rápido que pode em direção a loja de seu Manoel. Olhou para o cronômetro, tinha ainda nove minutos. Encontrou-se sentado em frente à loja. Ele olhava atentamente para dentro, esperando um momento de vacilo do dono. Sentou ao lado de si mesmo. -Se eu fosse você não faria o que esta pensando em fazer. - E o que eu estou pensando em fazer? – Perguntou o menino. - Você rouba seu Manoel, bebe aquele refrigerante que você gosta, come os doces e depois quando acabar? Vai roubar de novo, de novo e não vai parar nunca mais. - Eu não tenho dinheiro pra comprar. - Porque você não tenta arrumar um trabalho. Primeiro você estuda, quando chegar em casa troca de roupa e vai até as casas dos vizinhos, pergunta se eles não querem que varram o quintal, joguem lixo fora. Você vai conseguir um dinheiro e não vai mais precisar roubar. Tem ainda o melhor de tudo. - O que? – perguntou o menino curiosamente. - É você saber que conseguiu comprar alguma coisa com seu próprio dinheiro. O nome disso é independência e você não depender de ninguém, não tem preço. - Porque o senhor está falando essas coisas comigo? Mauro ficou pensativo por alguns segundos. - Porque quando eu tinha sua idade comecei a roubar e não parei nunca mais. Perdi os melhores anos de minha vida na cadeia. Não me casei, não tive família. Dos meus setenta anos de vida, passei mais da metade na cadeia. O menino ficou quieto. Ao longe ele ouviu o grito da mãe chamando-o. Ao contrario da primeira vez, quando não obedeceu o chamado da mãe e consumou o roubo, dessa vez o menino levantou, acenou para Mauro e foi na direção de casa. Mauro olhou para o cronometro, lhe restavam ainda três minutos. Foi na mesma direção que o menino. Queria ver a mãe uma vez mais. Ela estava dando uma bronca. Ela perguntou se ele não tinha noção das coisas. Essa era a frase que sua mãe mais usava e que ainda estava em sua cabeça. Ouvir a mãe dizer aquilo mais uma vez o fez chorar. Começou a sentir seu corpo vibrar, vibrar de tal maneira que começou a doer de dentro para fora. Ele fechou os olhos e quando abriu estava numa sala, sentado em uma cadeira de balanço. Começou a ouvir o som de passos de crianças, derrepente a sala foi invadida por cinco crianças que o abraçaram e o chamaram de Vovô. Julio Pecly

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