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sábado, 1 de junho de 2013

Serás Ministro

— ESSE VAI SER MINISTRO — sentenciou o pai, logo que o garoto nasceu. — E você, com esse ordenado micho de servente, tem lá poder pra fazer nosso filho ministro? — duvidou a mãe. — Então, só porque meu ordenado é micho ele não pode ser ministro? A Rádio Nacional deu que Abraão Lincoln trabalhava de cortar lenha no mato, e chegou a presidente dos Estados Unidos. — Isso foi nos Estados Unidos. — E dai? Nem eu estou querendo tanto pra ele. Só quero uma de Ministro. — Tonzinho, deixa isso pra lá. — Pra começar, a gente convida o Ministro pra padrinho dele. — O Ministro não vai aceitar. — Não vai por quê? Trabalho no gabinete há dois anos. — Ele é muito importante, filho. — Por isso mesmo. Com padrinho importante, o garotinho começa logo a ser importante. — O Ministro é tão ocupado, você mesmo diz. Vê lá se tem tempo pra batizar filho de pobre. — Pois sim. Ele me trata com toda a consideração, de igual pra igual. Hoje mesmo eu faço o convite. Fez. O Ministro não pôde comparecer, mas enviou representante. Era quase a mesma coisa. Na hora de dizer o nome do menino, o pai não vacilou; disse bem sonoro: — Ministro. — Como? — estranhou o padre. — Ministro, sim senhor. A mulher ia atalhar: "Tonzinho, não foi Antônio de Fátima que a gente combinou?" mas era tarde. No cartório, também estranharam: — Ministro por quê? — Porque eu escolhi. Acho lindo. — Não é nome próprio. — Pois eu cá acho muito próprio. Não tem ai uma família chamada Ministério, aliás com pessoas distintas, médicos, dentistas, etc.? — Tem. — Pois então. Meu filho é Ministro, só isso. Ministro Alves da Silva, futuro cidadão útil à Pátria. Tem alguma coisa demais? O garoto registrou-se. Cresceu. Na escola, a principio achavam-lhe graça no nome. Parecia apelido. Depois, o costume. Há nomes mais estranhos. Ministro não era o primeiro da classe, também não foi dos últimos. Já moço, o leque das opções não se abriu para ele. Entre o oficio sem brilho e o andar-térreo da burocracia, acabou sendo, como o pai, servente de repartição. Promovido a continuo. — Eu não disse? —- festejou o pai. — Começou a subir. O máximo que subiu foi trabalhar no gabinete do Ministro. — Ministro, o Sr. Ministro está chamando. — Ministro, já providenciou o cafezinho do Sr. Ministro? — Sabe quem telefonou pra você, Ministro? A senhora do Sr. Ministro. Diz que você prometeu ir lá consertar umas goteiras e esqueceu. — Ministro! Roncando na hora do expediente?! Começaram os equívocos: — Telefonema para o Ministro. — Qual? O Ministro ou o Sr. Ministro? — Este Ministro é um cretino! Me fez esperar uma hora nesta poltrona! — Perdão, Deputado, o senhor está ofendendo o Sr. Ministro. — Eu ? Eu ? Estou me referindo a esse animal, esse... Até que se apurasse que o animal era Ministro, o contínuo — que confusão! O Ministro de Estado, ciente da confusão, recomendou ao assessor: — Faça esse homem trocar de nome. — Impossível, Sr, Ministro. É o seu titulo de honra. — Então suma com ele da minha vista. Mandaram-no para uma vaga repartição de vago departamento. Queixou-se ao pai, aposentado, que isso de se chamar Ministro não conduz a grandes coisas e pode até atrasar a vida. — Ora, meu filho, hoje no bueiro, amanha no Pão de Açúcar. E você não tem de que se queixar. Num momento em que tanta gente importante sua a camisa pra ser Ministro, e fica olhando pro céu pra ver se baixa um signo do astral, você já é, você sempre foi Ministro, de nascença! de direito! E não depende de governo nenhum pra continuar a ser, até a morte! Abraçaram-se, chorando. Carlos Drummond de Andrade

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