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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

ROSE E O ANJO DA SALVAÇÃO

O sol raiava no meio do mar jogando os primeiros raios de sol sobre as areias da orla do Rio de Janeiro, o Morro do Chapéu Mangueira fica de frente para o mar, uma vista privilegiada do mais caro pedaço da cidade, um lugar onde gente acorda cedo para dar começo no batente, a vida na madrugada também é agitada com o subir e descer de gente da comunidade e de fora dela, motos acelerando morro a cima para o mercado de toxico que mesmo sobre os olhares de uma pacificação policial continua se alimentando do vicio. Afinal como disse certo policial militar uma vez, onde vamos acomodar os viciados, admitindo ele que o estado não tem competência para administrar a peste maligna da sociedade deste começo de século. Os mesmos raios de sol entravam pela janela da casa do pedreiro Gladison que tinha os olhos fitos para Bíblia Sagrada aberta no salmo vinte e três. Em uma das mãos uma bíblia na outra um revolver calibre trinta e oito, carregado. Ele caminha recitando o famoso versículo que muitos evangélicos nem precisam abrir o livro dos livros para ler. - O senhor é meu pastor e nada me faltará. Deita-me faz por verdes pastos; guia-me mansamente a águas tranquilas... Caminha em direção à cama de sua filha, Rose. Uma adolescente de dezesseis anos na flor da tenra idade se veste como uma adolescente do morro, um top cobrindo os seios que lhe brotam no tórax ainda firmes e duros, um short jeans curtíssimo que lhe cobre o restante do corpo. Pequena e morena, vaidosa e frágil, corpo bonito de menina moça, olhos negros, rosto de anjo. Seu pai caminha em direção o corpo da filha estirada na cama. - Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, pois tu estais comigo, tua vara e teu cajado me consolam... Ele chega perto bastante e olha a filha que em sono profundo tema maquiagem do rosto borrado. Na face do pai rola uma lagrima, ele estende a arma em direção ao corpo da linda jovem que nos braços de morfeu não poderá se defender, ele hesita e ato continuo puxa o gatilho, o disparo ecoa pelo morro como se a morte anunciasse sua presença. Na madrugada daquele dia em um beco da comunidade Rose fazia sexo oral em um homem negro que encostado no muro sentia prazer a cada movimento dela, um frenético vai e vem com a cabeça que o homem fica desnorteado com os olhos fechados pedindo para que ela não pare, ela para e continua o exercício com as mãos até que ele explode em um jorro fatal do prazer e delírio. Eles se ajeitam, o homem pega uma pistola que ficou escondida durante o ato em um caco de telha de amianto, junto com a arma um saco de plástico com papelotes com cocaína dentro, pega dois e entrega a menina que coloca dentro dos seios e sai satisfeita pelo beco, anda poucos metros e entra em uma birosca ainda aberto naquela hora. - Seu Manoel o banheiro ta aberto? - Vê se não demora muito porque tem muito policia hoje, toda hora passa um pra pegar alguém de bobeira no bagulho. - Tá tranquilo seu Manuel, pode deixar. Ela já havia consumido uma quantidade grande de papelotes no começo da noite, e na madrugada continuou vendendo o corpo tantas vezes com vários parceiros de diferentes idades que sentia o corpo dolorido, mas continuava para poder sustentar o vicio, estes homens tinha como recompensa algum prazer carnal. Era mais uma vez que com um canudo de papel cheirava o pó sobre uma superfície de mármore colocada pelo dono do bar para a freguesia que entrava e sai do minúsculo banheiro sem ser importunada. O odor do vaso cheio de fezes que chagava a borda, não incomodava, o cheiro da urina que vinha do ralo ao lado da pia, subia sem ter por onde se dissipar transformando o ambiente inconcebível para quem não estivesse sobre efeito de um entorpecente ou varias deles. Ela cheirou os últimos grãos e passou o dedo sobre o mármore para ter certeza que tinha consumido toda a droga, de repente sentiu o coração acelerar bruscamente e uma pontada na cabeça como se fosse começo de uma dor, mas como do nada veio do nada parou, foi muito rápido chegou a apoiar a mão na parede do cubículo por alguns instantes para se recuperar, arrumou a roupa apertada e ajeitou o corpo, abriu a porta apenas uma fresta para ver se tudo estava limpeza, se não tinha nenhum policial por perto, confirmado ela sai do banheiro dos viciados e deixa dois reais para o dono, pedágio cobrado para quem quer dar um teco escondido. Rose estava satisfeita, mas ainda não estava conformada, podia ainda fazer mais um trabalho rápido com alguém e comprar mais um pó de cinco, Flavinho o traficante que ela prometeu fazer um boquete em troca de um papel foi generoso, deu dois, sinal que ele gostou da caprichada que ela deu. Na esquina da rua principal ela começou a se sentir muito estranha, um gosto estranho na boca uma pontada na cabeça como no banheiro, uma dor no peito agonizante, uma ânsia de vomito, uma tonteira inesperada e La se apoia em uma parede e na calçada, com os olhos revirando ela tenta achar alguém caminhando na rua mas não acha, apoia as costa na mesma parede e um liquido branco começa a sair pela boca, overdose. Os olhos parecem que vão sair de orbita e a língua começa a inchar, ela esta fora de si, começa a se debater não consegue se controlar quando todo corpo estremece, não a dor e sim um torpor na alma. Algo acontece e Rose sente o corpo parar e na sua frente uma luz forte surge e dentro dela um homem vestido de branco, ele caminha em sua direção e ajoelha frente a ela, ele é negro. - Quem é você? Ele olha com ternura para ela, coloca a mão em sua cabeça e fecha os olhos, neste instante Rose sente um alivio no corpo cansado de tanto sexo, pelos poros da palma da mão começa a sair um liquido branco limpando seu organismo e aos poucos ela vai se sentindo melhor, a dor de cabeça passa, o coração volta a ter batidas constantes e normaliza, ela olha com mais atenção aquele rosto que se apresenta a sua frente, contempla um olhar firme e profundo da criatura que lhe socorre. - Porque? - Sou Mizael, sinto no seu coração que você não quer mais esta vida, que as correntes do vicio prende sua alma em um desespero profundo enquanto seu espírito se debate pedindo libertação, fui mandado para lhe salvar, sua vida agora pode caminhar sem precisar desta corrente maligna que corroí sua vida que ainda se encontra na puberdade da caminhada, muito embora sua caminhada vá continuar em outro lugar, e não aqui neste miserável lugar. - Você é tão bonito, não sinto mais vontade de comprar um pó, parece que eu estou mais leve, mais feliz, sinto meu corpo mais forte. - Fui escolhido para preparar você para sua última jornada, Rose sua vida muda daqui em diante, minha tarefa foi cumprida vai para casa seu pai a espera. Ela olha a luz envolta de Mizael que aos poucos o cobre até desaparecer por completo, ela levanta-se aos poucos, olha para mãos que estão cheias de liquido branco, olha em volta e encontra uma bica a poucos metros dela, caminha coloca o joelho no chão liga a bica e deixa a água lavar o liquido primeiro de uma mão depois da outra. Caminha alguns instantes e passa pela boca de fumo, olha pessoas comprando e outras vendendo, alguém a reconhece e chama seu nome, ela calmamente vira as costas e vai para casa. Gladison olhava pela janela a madrugada quente e estrelada com uma lua cheia e clara brilhando no céu. Já perdeu a conta de quantas noites deixara sua casa e saia a esmo pela favela para procurar Rose, não tinha mais lágrimas no rosto para chorar o destino da filha, a mãe dela abandonou tudo para viver com outro homem, ele ficou com a missão tortuosa de ver a filha se perder na vida do trafico, a viziança contava para ele as vezes que ela se prostituia para consumir, para ele um nordestino trabalhador pedreiro de profissão, era humilhante esta situação, a dois anos ela começou a se descontrolar, e suas noites viraram um verdadeiro inferno, ele não tem mais controle sobre Rose nem ela sobre o vicio e há alguns meses nasceu uma vontade no seu coração, acabar com esta tortura, terminar com o sofrimento que faz dele o otário da comunidade, o pai babaca que tem a filha puta, a piada dos botecos e comercio local, um homem sem respeito e sem moral. Naquela noite depois que ela saiu inventando que iria na vizinha pedir algo, só para fugir do pai, ele começou a arrumar a mochila de um jeito diferente, sempre fazia isso para ir trabalhar no dia seguinte, mas hoje ele tirou todas as ferramentas que ocupavam espaço e colocou roupas e o dinheiro que sobrou dos roubos da filha para comprar na boca um pó. Abriu a bíblia e começou pedir perdão a Deus. Ele viu Rose subindo as escadarias, saiu da janela e pegou a bíblia mais uma vez, era a derradeira, abriu em salmos e começou a ler. Rose entrou e olhou o pai, seu olhar era meigo. - Ainda acordado meu pai? - Nunca mais dormi você sabe. - Pode deixar isso acaba a partir de hoje pai. - Sim minha filha acaba. Rose deu um beijo na testa do pai que não se moveu, caminhou até a cama e deixou o corpo cair, antes de pegar no sono ela pensava como fez o pai sofrer e chegou a chorar baixinho, pegou no sono, o dia clareava e o sol despontaria no mar, Gladison lia o salmo vinte três, quando o dia amanhecer vai sair pela ultima vez do morro para voltar para sua cidade natal, sem filha, sem esposa e com a honra lavada. Paulo Silva

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