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terça-feira, 10 de novembro de 2009

O bêbado que tomou um pau

Começou a tomar cachaça as duas horas da tarde, ganhou dinheiro capinando o quintal de uma senhora de idade que morava sozinha e não tinha ninguém para ajuda-la. Ganhou trinta reais, foi direto para o bar do Toinho.
- Qual foi toinho! Bota aquela mineira ai pra mim! Dois dedos, um bem separado do outro. – Todos no boteco riram
Toinho encheu o copo, Zeca tomou de uma talagada só. Desceu queimando, só que a goela dele já estava acostumada, afinal de contas, tomava cachaça desde os oito anos de idade. A segunda ele tomou mais devagar, em duas talagadas.
Da de minas passou, para a boa idéia, depois para que é da roça mesmo, depois dessas, não importava mais a marca, tomava qualquer uma. A noite foi caindo, Zeca não tinha mais noção de horas. Sentiu uma vontade danada de urinar, levantou quase caindo e foi ao banheiro, chegou lá e se aliviou, chegou a suspirar, tamanho o alivio que sentiu. Quando foi fecha as calças, notou que ela estava fechada. Havia urinado nas calças.
Assim que saiu do banheiro, Toinho ao vê-lo todo mijado, balançou a cabeça negativamente.
Merda, esse bêbado filha da puta mijou meu chão todo, tenho que limpar logo, mijo de bêbado é a coisa mais fedorenta do mundo. Pensou o dono do bar. Antes de pegar um balde de água e o cloro, Zeca pediu mais um copo. Toinho serviu. Teve uma vontade de dar cloro para o cachaceiro, quem sabe assim seu mijo iria feder menos. Serviu e foi limpar a imundície.
Toinho tinha de servir quanta bebida Zeca quisesse, pois ele sempre o pagou em dia, nunca ficou devendo. Na favela Zeca era considerado, pois bebia, mas sempre estava pronto pra trabalhar, capinava, limpava esgoto, desentupia fossa, arrumava telhado, tudo por um precinho bem pequeno, uma quentinha e mais um trocado para tomar uma cachaça.
Ninguém ao certo sabia porque ele bebia tanto, ao ponto de estar se auto destruindo aos poucos. Quem o conhecia a muito tempo, dizia que ele fora militar do exercito e que começara a beber quando foi abandonado pela noiva um dia antes de casar. Diziam também que ele começara a beber após um desastre de carro ter matado toda a sua família. Diziam que ele, a mulher e as duas filhas pequenas vinham de um churrasco em Caxias, na casa de um parente da mulher. Zeca tinha bebido em demasia, como dirigia bêbado, estava sem reflexo e ao tentar ultrapassar um ônibus, caiu numa ribanceira, somente ele sobreviveu. Daí caiu no alcoolismo, como não tinha coragem de se matar de uma vez, matava-se aos poucos. Fosse qual fosse a causa de seu alcoolismo, Zeca levava uma vida difícil, não era sempre que tinha comida, as vezes passava ate três dias sem comer, se tivesse de escolher entre a comida e a cachaça, ficava com a segunda. As vezes chegava em casa bêbado e ia dormir, acordava de madrugada sóbrio, ficava na cama pensando.
Que vida desgraçada, porque não me leva logo daqui deste inferno meu Deus, ou o diabo, sei lá, um dos dois. Não tenho motivo pra viver, to cansado. Não tenho amigos, não tenho minha família. Queria ter coragem de me jogar debaixo de um ônibus, só que sou frouxo demais pra fazer isso. Tenho que me matar aos poucos nesta maldita cachaça. Chorava só na sua casa suja, fedendo a urina e a sexo solitário. Para voltar a dormir tinha que tomar uma dose da que ficava estrategicamente escondida debaixo de sua cama cheia de percevejo.
Saiu do bar por volta das três da madrugada, so foi embora porque o dono tinha de fechar, se não ele ficaria por la mesmo. Foi embora tropeçando, costurando a rua. Estava ainda no meio do caminho quando sentiu novamente uma vontade louca de mijar. Nem sabia onde estava.
Agora vou abrir minhas calças pra não me mijar de novo. Encostou num muro e abriu as calças, que desceram, deixando sua bunda de fora. Tentou puxar as calças e continuar urinando, não conseguiu. Ficou ali mijando com as calças arriadas. Quando ia embora se virou para a rua, com as calças arriadas, com o pênis de fora. Deu azar, estava de frente para a boca. Que só tinha menor neurótico.

GÍRIA DA FAVELA: MENOR NEURÓTICO
MENORES DE IDADE QUE ESTÃO NA BOCA E NÃO TEM MEDO DE MORRER, NEM DE MATAR, QUE GOSTAM DE BATER OU MATAR QUEM VACILA.

- Olha só – Apontou um dos moleques. – o coroa ta mostrando a pica pras pessoas.
Só que ele esqueceu foi de dizer que naquela hora da madrugada, só tinha na rua, bêbados, piranhas, viciados e traficantes. Todos os moleques se viraram na direção de Zeca, pegaram paus e foram na direção de Zeca.
- Qual foi cascudo, ta mostrando a pica pros outros. - Disse um dos moleques.
Zeca tentou dizer algo em sua defesa, não teve tempo, os moleques partiram pra cima dele e começaram a dar porradas, pauladas, chutes.
Cinco minutos depois Zeca estava no chão, todo machucado, uma fratura exposta na perna, traumatismo craniano, deslocamento de alguns órgãos internos. Ficou ali desmaiado ate quando passou uma Kombi, seus próprios algozes a pararam e mandaram o motorista leva-lo para o pronto socorro.
Zeca ficou internado cinco meses, teve alta .
Bebeu cachaça até morrer dois anos depois.

Julio Pecly

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